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Indignados marcaram ações cívicas nos EUA em 2011

As ações cívicas nos Estados Unidos cobraram um novo nível depois que a partir de 17 de setembro, centenas de estadunidenses se congregaram em frente à Wall Street para denunciar as iniquidades existentes na primeira economia do mundo.

Por Luis Brizuela Brínguez *

O movimento Ocupar Wall Street (OWS) ou dos indignados, como também ficou conhecido, ampliou a onda de protestos surgidos sobretudo em Madri, Espanha, devido à crise econômica global e à atuação cúmplice dos governos para proteger os setores bancários e empresariais.

Os Estados Unidos, sacudidos também pelo desequilíbrio financeiro, provocaram o descontentamento de uma cidadania oposta à avareza corporativa, o poder desmedido dos mega-bancos e o aprofundamento das desigualdades geradas pelo sistema capitalista.

Os ativistas chegaram inclusive a interromper um discurso do presidente Barack Obama, de quem exigem uma transformação das condições de vida do que consideram 99 por cento da população e acabar de concretizar sua promessa eleitoral não cumprida de "mudança".

O mandatário democrata reconheceu que OWS expressa "a frustração do povo, pois as pessoas se sentem distantes de seu governo, creem que as instituições não lhes importam".

No início, os grandes meios de comunicação silenciaram sobre os acontecimentos; contudo, a extensão dos protestos da costa leste à oeste, em mais de 70 cidades da nação e até do vizinho Canadá, impediu que continuassem a ignorar as ações.

Destaca-se o protagonismo de redes sociais como Twitter, Facebook e meios alternativos para aglutinar os seguidores de OWS, assim como a criação de um sítio digital próprio (occupywallst.org) a fim de difundir informações e o programa diário de suas atividades.

O movimento foi iniciado sobretudo por desempregados e indivíduos pertencentes à classe média baixa, mas adquiriu um caráter plural na medida em que se integraram afro-americanos, latinos, jovens universitários, mulheres, anciãos e veteranos de guerra, entre outros grupos sociais.

Os ativistas enfrentaram as baixas temperaturas os meses de inverno, assim como a violência das autoridades, apesar de que as passeatas e concentrações eram pacíficas.

Fotos e vídeos caseiros exibem a inusitada brutalidade policial; um vídeo polêmico revelou em novembro um oficial da tropa de choque anti-distúrbios jogando gás pimenta na cara de estudantes da Universidade da Califórnia, sentados tranquilamente no chão e com os braços cruzados.

Igualmente, houve repressão durante o despejo de ativistas de acampamentos em praças e parques de Nova Iorque, Los Angeles, Oakland e São Francisco, entre outras localidades.

Em Manhattan foram presos jornalistas que cobriam os protestos para agências de notícias e o jornal New York Daily News, com a finalidade de entorpecer a atenção da mídia obtida pelo movimento cívico.

Segundo recordaram analistas políticos, o governo recorre ao uso inconstitucional da força, o que atenta contra o direito ao livre discurso e às reuniões dos ocupantes pacíficos.

A intimidação federal também foi criticada pela influente revista Forbes, ao qualificá-la de "absurda" e "excessiva" em uma recente nota editorial.

O número de detidos durante os três meses de protestos ultrapassa os quatro mil, indica a página digital do movimento.

Círculos de poder em Washington quiseram desacreditar os ativistas, qualificando-os como uma "doença a curto prazo com potencial político para sustentar uma agenda com repercussões nas empresas financeiras".

Um memorando de um grupo de pressão republicano do Congresso, dirigido à Associação Americana de Banqueiros, propôs utilizar 850 mil dólares para construir nos meios de comunicação uma imagem negativa dos protestos e os políticos que os apóiem.

Diversas personalidades como o documentarista Michael Moore, a atriz Susan Sarandon e o acadêmico Noam Chomsky respaldaram as ações de OWS.

Os indignados dos Estados Unidos, cujo número aumenta diariamente, evitam a todo custo que as autoridades debilitem sua vontade de opor-se à desigualdade social imperante e recorrem a qualquer caminho possível para expressar sua insatisfação popular.

A menos de um ano das eleições presidenciais, será impossível para qualquer dos dois partidos políticos tradicionais desconhecer a força alcançada pelo movimento, o que pode inclinar os resultados em um ou outro sentido.

Para o presidente Obama, muito prejudicado pela oposição republicana que o impede de legislar livremente e levar adiante suas propostas, será indispensável conseguir oxigenar a economia e tirar do desemprego quase 14 milhões de desocupados no país.

Do contrário, é provável que a cidadania permaneça nas ruas durante 2012 para recordar ao Executivo a "indignação" dos que se consideram 99 por cento da população, o que é a prova mais viva de que a prometida "mudança" presidencial continua sendo uma miragem.

*Jornalista da redação de América do Norte da Prensa Latina.