Luciano: Embate eleitoral e atenção à luta do povo

Em entrevista concedida ao site, o deputado Luciano Siqueira (PCdoB) faz um balanço dos 11 meses de mandato na Assembleia Legislativa de Pernambuco, traça o cenário político-eleitoral de 2012, particularmente a sucessão no Recife, bem como analisa a atual conjuntura econômica mundial e os impactos sobre o Brasil, bem como as demandas oriundas do novo ciclo de desenvolvimento de Pernambuco. Ele também explica o significado dos 90 anos do PCdoB a ser comemorado em março deste ano.

O mandato em 2011

O nosso mandato é um mandato de compromisso. Compromisso programático, compromisso com o PCdoB e compromisso com a população de Pernambuco com a qual nós interagimos na campanha e interagimos em nosso trabalho parlamentar. Desse ponto de vista, o nosso mandato conclui seu primeiro ano com muito êxito. Nossos compromissos tem sido cumpridos, nós temos tido uma atuação intensa, tanto no Parlamento, como fora do Parlamento, sempre perseguindo os problemas cruciais que interessam a Pernambuco e ao nosso País, à luz dos interesses fundamentais dos trabalhadores e do povo, seja nos projetos de lei que nós apresentamos, uns aprovados e outros em tramitação, seja em nossas intervenções nas comissões técnicas ou no plenário, seja com nossa presença na cena política, social e cultural do Estado.


Luciano na Comissão de Meio Ambiente da Assembleia, da qual é vice-presidente

O ponto de destaque do mandato tem sido a prestação de contas em tempo real, por meio do site e do Facebook, e a cada três meses na rua com o jornal impresso de balanço e síntese do trabalho que nós realizamos. Essa prestação de contas ao povo e ao partido é um dos compromissos fundamentais que nós assumimos na campanha, temos honrado e com ótimos resultados. Nós temos inclusive iniciativas de projetos de lei inspirados nas propostas e sugestões que nós recolhemos das pessoas.

O nosso mandato completa um ano comemorando um grande êxito, mas quero dizer que esse êxito é fruto de muitas coisas. Claro que é fruto do esforço do parlamentar, um militante comunista, orientado pelo PCdoB sempre tem chance de ter um bom desempenho, mas é também resultado do esforço coletivo, sincero, solidário, comprometido, de toda nossa equipe, de todos nossos assessores, de todos aqueles que estão envolvidos com nosso mandato. Que não apenas se empenha com amor, com consciência e determinação à tarefa que lhe cabe, mas também nos ajuda a estabelecer uma relação muito sincera, fraterna e verdadeira com a população.


Luciano durante assembleia de servidores do Juduciário

Perspectivas para 2012

2012 será um ano de eleições municipais e embora estejam em disputa as prefeituras e as Câmaras municipais, na verdade são pleitos da maior importância porque se constituem na ante-sala da disputa geral de 2014, aí sim quando nós elegeremos um novo governador, deputados estaduais, federais, senadores e teremos a sucessão presidencial. Por isso, é natural que todos os partidos, sejam os que estão hoje apoiando o governo, sejam os de oposição, procurem se fortalecer no pleito deste ano. Todos os partidos, inclusive o PcdoB, porque será a forma de acumular forças para ter uma posição destacada no pleito de 2014.

No entanto, a minha expectativa é de que possamos desenvolver a atividade do nosso mandato com o compromisso sim com a campanha eleitoral dos nossos companheiros e companheiras do PCdoB ou de partidos aliados, sem perder, contudo, a aplicação, o esforço, de continuar fazendo um mandato consistente, qualificado, atento aos problemas de Pernambuco e do País e dos interesses fundamentais da nossa população.

Eleições municipais

Há uma análise precipitada, que a gente lê nos jornais, de que as tensões que tem acontecido nesse período pré-eleitoral entre os partidos da Frente Popular venha a
resultar em fissuras irreparáveis durante o pleito deste ano. Penso que não, pois é impossível manter 15 ou 16 partidos unidos em todos os municípios, talvez seja
possível na Capital e em munícipios maiores. Mas, mesmo que não seja possível, a disputa municipal certamente será travada entre os partidos que
compõem a Frente Popular dentro de um espírito elevado, democrático e de respeito mútuo, sem prejudicar o projeto estadual e nacional no qual todos estão envolvidos. Eu acho que a Frente Popular estará unida na sucessão de Eduardo, como estará unida para renovar o mandato de Dilma Rousseff ou substituída por Lula, se for o caso, por exemplo.

A minha expectativa é de que sejamos capazes de travar o embate eleitoral e ao mesmo tempo dar toda atenção e nos envolver com a luta do povo. Porque a perspectiva para 2012 é também do surgimento de importantes lutas dos trabalhadores, da juventude e das mulheres no Estado de Pernambuco e no resto do País, que envolverão mandatos parlamentares comprometidos com a luta do povo, como são os mandatos parlamentares do PCdoB, como é o nosso mandato. Não podemos nos dedicar tão-somente ao trabalho na Assembleia e ao trabalho eleitoral. Haveremos de incorporar a essas atividades cotidianas a presença ativa, solidária, na luta dos trabalhadores e do nosso povo.

A sucessão no Recife

Tenho a impressão que a sucessão no Recifes só clareia depois do carnaval. Só depois desse período festivo é que os partidos se sentarão à mesa, o cenário da disputa estará mais ou menos desenhado e aí nós encontraremos a melhor solução para que a Frente Popular continue governando a cidade.

Nós do PCdoB estamos sendo totalmente claros nessa matéria. Nós trabalhamos, em princípio, pela unidade da Frente Popular, de todos os partidos da Frente, de uma candidatura única. Porém, não nos eximiremos de debater alternativas táticas, desde que no âmbito da Frente Popular. E aí o PCdoB com a flexibilidade que sempre teve, com a atenção e a sensibilidade para perceber necessidades legítimas que surgem no âmbito de uma ampla coligação como a nossa, encontrará o melhor caminho, seja para apoiar esse ou aquele candidato em caso de mais de uma candidatura, seja até para se apresentar com candidatura própria, a depender do cenário que se coloca.

Conjuntura econômica mundial

Uma noticia diária dos jornais, das rádios, da televisão e internet é a crise que neste momento afeta, sobretudo, a Europa, mas também o Estados Unidos, a chamada crise do capitalismo no mundo. Nós vamos passar 2012, entrar em 2013 e talvez continuar adiante com esse tema no noticiário porque trata-se de uma crise sistêmica, profunda e estrutural do capitalismo, sem solução a curto prazo. Todas as soluções que tem sido adotadas nos Estados Unidos ou na Europa, sobretudo na zona do Euro, são soluções falsas porque dizem respeito a reter investimentos públicos, dizem respeito a reduzir a produção, reduzir direitos assegurados aos trabalhadores e aos assalariados adotados há décadas e, sobretudo, promover uma onda imensa de desemprego. Mesmo a Inglaterra, que tem se escusado a entrar no acordo global da comunidade europeia, está amargando o maior indicie de desemprego da sua história recente.

Tem repercussões sobre o Brasil ? Tem. Interfere em nossa economia? Interfere sim, porque no mundo globalizado, em uma economia que em boa parte depende das trocas com outros países, da exportação do que nós produzimos, nós somos afetados. Por isso, que nos últimos três meses de 2011 nós tivemos crescimento zero. Agora, ao mesmo tempo nós compreendemos, o PCdoB compreende, que essa crise global contraditoriamente nos oferece uma oportunidade de enfrentá-la segundo as nossa próprias potencialidades, enfrentá-la investindo na produção, em infraestrutura, expandindo o emprego, o crédito e o consumo e encontrando as melhores alternativas para nossas relações comerciais fora do País.

Nós podemos nos fortalecer nesse ambiente geral de crise desde que nós consigamos dar um passo significativo removendo o grande empecilho ao pleno desenvolvimento do País, que é a chamada política macroeconômica que herdamos dos governos anteriores, sobretudo, do governo de Fernando Henrique Cardoso. Porque é impossível esse crescimento econômico se tornar consistente e nos permitir aproveitar a bela oportunidade que se apresenta, com taxas de juros muito elevadas , um câmbio valorizado, ou seja, a nossa moeda valorizada em relação ao dólar, o que dificulta as nossas exportações.Assim como, com essa situação que o governo tem tentado resolver, mas ainda não deu um paradeiro definitivo, que é a entrada e a saída de capitais de fora em nosso País ,que entra e sair ao bel prazer da especulação. Nós precisamos ter o controle desses fluxos de capitais. Com essas medidas e com o controle inflacionário, nós podemos sim continuar expandindo o mercado interno, a produção, ampliando as oportunidades de trabalho, fortalecendo a economia do País e satisfazendo o fundamental: os desejos, as necessidades e as aspirações da grande maioria da população.

Desenvolvimento de Pernambuco


Em agosto de 2011, o mandato promoveu debate sobre o desenvolvimento de PE

É absolutamente significativo que Pernambuco continue crescendo, como tem feito em anos mais recentes, apesar do ambiente de crise global e da retração econômica que o País sofreu nos últimos três meses de 2011. Pernambuco continua crescendo a taxas mais elevadas do que o conjunto do País, mas isso diz respeito a dois fatores fundamentais: um, as decisões tomadas lá trás pelo ex-presidente Lula que viabilizaram esse boom na economia pernambucana puxado por indústrias de ponta. Dois, a existência de um governo, o governo de Eduardo Campos, que interage integralmente com a política geral do Governo federal e nos permite aproveitar essa oportunidade para explorar todas as nossas potencialidades.

Não é exagero dizer que nosso Estado se converteu em um canteiro de obras, não é exagero dizer que aqui, no período recente de nossa história, nunca houve tanta oferta de empregos, embora nem tudo seja comemoração. O que não é comemoração? Um, é que nós estamos pagando muito caro pelo período do neoliberalismo e de retração econômica, é que nós precisamos de mão de obra qualificada e não temos. Há um esforço enorme de diversas instituições encarregadas de formar e capacitar trabalhadores em Pernambuco, mas o tempo em que esse trabalho produz esses resultados é muito aquém da velocidade com que as demandas aparecem, não é por outra razão. Isso também ocorre no resto do País. Faltam engenheiros, faltam técnicos, falta mão de obra realmente qualificada. E com a crise que há na Europa e em outras partes do mundo, nós temos acolhido em Pernambuco, como no resto do País, muita gente que vem de fora para ocupar postos de trabalho.

Também não é de se comemorar uma coisa muito importante sobre a qual nosso mandato vai se debruçar de maneira prioritária. São as condições de trabalho que são impostas aos trabalhadores envolvidos nesse boom da economia e das novas atividades industriais que surgem a partir mesmo de Suape. Não é possível que o crescimento econômico só beneficie os grandes investidores e para os que detém capital. É necessário que ele também seja distribuído, que suas benesses favoreçam também aqueles que vivem do seu trabalho. Os trabalhadores nas empresas que se expandem e das novas empresas que se instalam em Pernambuco tem de ter renumeração digna, tem de trabalhar sob condições adequadas e não serem submetidos a condições subumanas, como vem acontecendo em muitos casos. Por isso, é preciso sindicatos fortes e mandatos como o nosso que possam se converter em porta-vozes da crítica, do reclamo e da resistência daqueles que vivem do seu trabalho e que desejam melhorar a condição de vida no âmbito desse crescimento que Pernambuco experimenta.

90 anos do PCdoB

Março 2012. Noventa anos de existência do PCdoB no País, onde historicamente nunca houve partidos longevos, programáticos, duradouros, estáveis, desde o Império, desde a República Velha e menos ainda de 1930 para cá. Um partido político completar 90 anos de existência ininterrupta é uma grande conquista, conquista para esse partido, que é o Partido Comunista do Brasil, conquista para a democracia do País. Mais ainda se nós anotarmos que quase dois terços da existência do partido se deram na ilegalidade, condenado à ilegalidade, sob o preconceito e sob a perseguição policial, muitas vezes. No entanto, o partido sempre esteve próximo dos trabalhadores, ligado ao povo e sempre foi fiel a sua base teórica e ideológica, o marxismo, e sempre procurou interpretar a realidade brasileira de maneira original, criadora, a se inserir na cena política e social do País como uma força política capaz de dar uma contribuição marcante, como tem dado.

Para nós do PCdoB, para as gerações que hoje militam no partido, 2012 é um ano de muita festa, festa merecida, por essa trajetória e por o partido viver hoje o melhor momento de sua história. Um partido que em breve terá 500 mil militantes ativos, ou seja, meio milhão de comunistas organizados no País. Um partido que tem acumulado importantes conquistas e hoje cumpre um papel destacado no governo da República, governos estaduais e governos municipais. Um partido que tem presença ativa e marcante no movimento social, sobretudo, no movimento sindical e nos movimentos estudantis. Um partido que levanta a bandeira da igualdade de gênero como nenhum outro no País, um partido que se rebela contra toda forma de discriminação e um partido que, por exercer esse papel e cumprir um papel destacado na cena política, tem sido alvo de ataques, como ao longo da sua história foi alvo de ataques. Recentemente nós fomos objeto de uma calúnia absurda principalmente dirigida ao ex-ministro do Esporte, o ex-ministro Orlando Silva, mas que procurou atacar o conjunto do partido, ataques que nós temos respondido com altivez, firmeza e absoluta tranquilidade, pois são acusações infundadas.

É por isso que o nosso partido olha para o presente e para o futuro com muito otimismo. Nós teremos as eleições deste ano e nós vamos sair dessas eleições com prefeitos eleitos em importantes capitais, com dezenas de vereadores eleitos, vice-prefeitos e vamos sair com o partido mais fortalecido na cena institucional, na luta de ideias e também nos movimentos sociais.

Fonte: Site de Luciano Siqueira