UFPI vai bem no ensino mais peca na pesquisa e extensão

Portal Acesse Piauí inicia nesta terça (31) entrevistas com os candidatos a reitoria da UFPI.

Edwar - Valter Reis
No mês de maio deste ano, professores, servidores e alunos irão votar para escolher um novo reitor da Universidade Federal do Piaui. O ano ainda bem começou e o processo eleitoral já está quente. A eleição promete ser acirrada e irá agitar a comunidade acadêmica que voltará a funcionar em sua plenitude a partir de março próximo.

Diante da importância dessa eleição para a comunidade piauiense, o portal Acesse Piauí inicia nesta terça (31) entrevistas com os candidatos a reitoria da UFPI. O primeiro deles é o atual vice-reitor, Edwar Castelo Branco, que já está em plena campanha.

Edwar de Alencar Castelo Branco é doutor em história e atual vice-reitor da UFPI.

Após eleito junto com o atual reitor, Edwar rompeu e agora fala de suas perspectivas, projetos e opina sobre a atual gestão do reitor Luis dos Santos Júnior.

Rompimento com o reitor Luis Júnior

Edwar foi eleito na chapa de vice do atual reitor, Luís dos Santos Júnior, e conta o porque do seu rompimento com o gestor. Diz que não conhecia o reitor no período da campanha, e reafirma que ainda não o conhece nos dias atuais. O vice diz que foi escolhido em um bom momento de sua carreira docente, no período em que havia vencido seis editais da CNPq nos anos de 2006 e 2007, e possuía um perfil acadêmico de destaque.

Durante a campanha com Luis Júnior, Edwar afirma ter constatado o perfil autoritário do reitor e, depois de eleito nunca foi procurado para opinar sobre nada da gestão.

– O reitor aceitou a indicação do meu nome, que estava coberto de um capital imagético positivo. Ele achou que isso iria dar um upgrade acadêmico para sua equipe, já que eu tenho perfil acadêmico e ele não tem, e vim para chapa. Durante a campanha percebi que o professor é uma pessoa profundamente autoritária, e sou intolerante a autoritarismo, não aceito isso nem do meu pai. E quando assumi a pró-reitoria, dois meses depois já tínhamos uma relação muito ruim. De maio a novembro eu não encontrei o Júnior uma única vez. Ele nunca me perguntou de que maneira poderia colaborar com a administração, que é incoerente ao fato que ele havia me convidado para compor a equipe.

Pontos positivos e negativos da gestão Luís Júnior

Perguntado sobre o que foi realizado de positivo pelo atual reitor, ele diz ser suspeito para falar, mas destaca apenas a questão da formação acadêmica. O vice, diz que no quesito formar profissionais a UFPI desempenha um grande papel para a sociedade, mas criticou a falta de políticas voltadas para a pesquisa e principalmente a extensão.

Para ele, a universidade poderia ser utilizada como um instrumento de transformação de vidas das pessoas que estão nela e de quem está fora. Usar projetos de cidadania para desenvolver projetos de pesquisa da universidade poderiam dar um novo perfil a instituição. Além disso, o atual vice–reitor critica o excesso de investimentos em construções e a falta de investimentos nos laboratórios acadêmicos.

– Acho que a UFPI poderia transformar a vida daqueles que ingressam nela e através de extensão transformar a vida de que não teve oportunidade de entrar. Eu não vejo nenhum aspecto positivo, que brilhe, que ressalte. Acho que temos usado pessimamente os vastos recursos federais que temos. Se você olhar aqui em torno você vê uma maquiagem extraordinária, temos praças inúteis, que nunca sentou nenhuma pessoa, estradas abertas de lugar nenhum a ponto algum, inclusive com uma cancela, com gravíssimo impacto ambiental, um pórtico de quase 600 mil reais, que embora embeleze, mas qual o impacto daquilo nos laboratórios acadêmicos? Olhe para aquela parede (mostrando marcas de cupins na parede de sua sala). É meio contraditório ter um pórtico grandioso e na prática, dentro da universidade, termos condições quase miseráveis. Isso é terrível. Das três dimensões: ensino, pesquisa e extensão, a UFPI desempenha bem a função ensinar, mas peca no quesito pesquisa extensão.

Por que quer ser reitor

Edwar reafirma a vontade de fazer da UFPI uma instituição que atenda quem a compõe e a sociedade como um todo. Diz que seu projeto para ser reitor engloba a vontade de fazer com que a universidade atenda e melhore a vida dos piauienses em geral. Ele nomeia os principais pontos que irá propor durante a campanha.

_ Reformular o organograma da UFPI separando alguns setores como uma pró-reitoria específica para pesquisa, uma para extensão. Configurar uma democracia interna, de forma que nem todos os cargos fiquem a critério de indicação do reitor. Enfrentar e lutar para o início das atividades do HU – Hospital Universitário. Políticas para os centros, destacando a assistência estudantil. Política para a ciência e tecnologia e transferência de tecnologia, com criação de pró-reitoria. Políticas para a pós-graduação. Políticas que beneficiem a extensão universitária. Redefinição de projetos de cursos com políticas para a graduação.

Expansão da UFPI

O professor é categórico e critica a atual gestão, contando que há concentração exagerada de poder nas mãos do atual reitor.

_ A extensão da UFPI tem uma gestora muito bem intencionada, o problema para a extensão é a exacerbada concentração de poder na mão do reitor. Então como ele não consegue pensar toda as áreas ao mesmo tempo, e quer administrar pessoalmente cada uma das áreas, isso acaba travando a UFPI, que hoje é nula no sentido clássico de extensão.

Orçamento da UFPI

Se eleito, Edwar afirma que vai gerir um orçamento descentralizado, que segundo ele, hoje gira em torno de 90% com a rubrica da reitoria, que só são autorizados mediante assinatura do reitor.

– O orçamento tem um problema gravíssimo. O orçamento é concentrado em mais de 90% na rubrica reitoria. Ser diretor de centro virou algo humilhante, assim como vice reitor também. Isso é para que ele (reitor) possa dispor de cada crédito e cooptar pessoas.

Enem e Enade

Edwar concorda que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e Enade (Exame Nacional de Desempenho Estudantil) são boas ferramentas, que servem para medir índices necessários para mudanças nos rumos da educação. Propõe que poderiam ser usadas de outra forma pelos piauienses. Com a nova modalidade de seleção adotada pela UFPI alguns cursos de grande concorrência abririam uma demanda maior da instituição, devido a procura de outros estados, e outros ficariam ‘esquecidos’ pela ampla concorrência. Para ele, o uso das ferramentas Enem (Sisu) e Enade não podem ferir de maneira ampla o processo de recrutamento dos estudantes da UFPI, e dá suas idéias

– O Enem é bom, agora o uso que nós piauienses podemos fazer poderia ser melhor. Perdemos autonomia no recrutamento dos alunos e estamos tendo dificuldades de administrar o processo de matricula nos moldes do SISU. Poderíamos ter usado o Sisu como a UFPE fez, que usa o Enem como primeira fase e outra fase como instrumento de controle. Ou então começar experimentando, deixando 20% das vagas para o Sisu e 80% para o PSIU. Aí crescentemente teríamos uma qualidade. O Enem e o Enade podem ser instrumentos bons ou ruins, contanto que não perdamos nossa autonomia frente a esses instrumentos.

Por Rodrigo Antunes e Fotos de  Valter Reis do www.acessepiaui.com.br