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4 de fevereiro de 1992: semente da nova pátria venezuelana

O movimento cívico-militar de 4 de fevereiro de 1992, na Venezuela, marcou o início da pátria democrática e da soberania deste país, que visualiza hoje palpáveis conquistas em matéria social, econômica e política.

Por Damy Vales*, em Prensa Latina


Este fato estabeleceu o caminho e construiu as bases para o desenvolvimento do projeto da pátria venezuelana, segundo Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional (AN).

Cabello, que participou desse levante conhecido como 4-F, assegurou que ele foi necessário para evitar a imposição do modelo neoliberal no país e obedeceu a um projeto pensado e planejado durante anos.

Ele lembrou as palavras do presidente Hugo Chávez, líder do levante, quando disse ano passado, no contexto da comemoração dessa data, que "esse movimento é o pai da Revolução Bolivariana".

Na opinião do legislador, esse fato, considerado uma meta, dividiu em duas a história contemporânea da Venezuela.

Acabar com as políticas de caráter neoliberal, que geraram uma situação de revolta social na população venezuelana, foi uma das razões que motivaram a rebelião, de acordo com Ricardo Sanguino, presidente da Comissão de Finanças e Desenvolvimento Econômico da AN.

"A ação de um grupo de militares jovens pretendia buscar soluções à situação, e então apareceu um povo cansado de carregar nas costas estas políticas econômicas", disse.

Sanguino ressaltou que desde o impulso desta rebelião cívico-militar, estava prevista a implementação de um governo de participação popular, cujo objetivo principal era o ser humano, isto é, conseguir um desenvolvimento econômico com inclusão social.

"Essas ideias significavam um maior acesso do povo aos serviços essenciais, como saúde, educação, moradia, alimentação e segurança social, e que se fizeram realidade com a chegada de Chávez à presidência em 1999", destacou Sanguino.

Para Elena Frías, mãe do presidente, foi emocionante escutar a voz de seu filho na noite de 4 de fevereiro de 1992, quando, depois de preso na frustrada tentativa de rebelião, lhe concederam uns minutos para falar com ela.

Foi então que, em Barinas – cidade natal do mandatário- , familiares e amigos se agruparam para escutar pela televisão o então tenente coronel, em um dos mais importantes discursos da história política nacional.

"Infelizmente, até agora, os objetivos a que nos propusemos não foram alcançados na capital. Isto é, nós, aqui em Caracas, não conseguimos controlar o poder, vocês o fizeram muito bem por lá [outros lados]", disse Chávez naquele momento.

"Já é tempo de evitar mais derramamento de sangue, é tempo de refletir. Virão novas situações e o país tem que colocar-se definitivamente rumo a um destino melhor", exortou.

Aquela tentativa de derrubar o governo de Carlos Andrés Pérez (1974-1979 e 1989-1993) e levar a vida do país por um caminho de justiça social falhou e grande parte dos participantes da ação foram presos.

Dois anos depois, durante a presidência de Rafael Caldera (1969-1974 e 1994-1999), a causa resultou prescrita e os militares foram libertados.

Com um desfile cívico militar, atividades culturais, conferências de memória histórica, entre outras atividades, boa parte do povo venezuelano comemora agora os 20 anos daquela insurreição, além de mostrar seu apoio à aspiração do presidente, Hugo Chávez, que buscará a reeleição no próximo dia 7 de outubro.

A partir de 4 de fevereiro de 1992, a construção da nova pátria venezuelana deixou de ser uma utopia, e começou o processo de resgate da dignidade nacional.

Em todo esse processo, o Movimento Bolivariano Revolucionário 200, fundado em 1983 sob o pensamento de Simón Bolívar, foi de grande valor. Muitos dos participantes no levante integravam essa organização.

Muitos venezuelanos consideram que, nesse dia, a rebeldia e o amor pela pátria brotaram, ao desencadear o ciclo histórico revolucionário que atualmente vive esta nação.

Para o primeiro vice-presidente do Parlamento, Aristóbulo Istúriz, graças à rebelião "desenhamos um modelo de país que substituiria o modelo anterior, por isso se fez o referendo de uma Constituinte, do qual saiu a Constituição de 1999, a mais democrática, a que reflete uma sociedade participativa. Daí nasce o que conhecemos como Revolução Bolivariana".

Durante 40 anos, a Venezuela esteve entregue ao domínio dos interesses internacionais, que levaram à pobreza do povo, cujas consequências se expressaram naquele 4 de fevereiro, reafirmou.

Istúriz comentou que, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, a Venezuela hoje é o país com menos desigualdades na região. "A Revolução Bolivariana foi referência para as mudanças na América Latina", resumiu Istúriz.

*Damy Vales é correspondente da Prensa Latina na Venezuela.