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Começa eleição no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

Começa nesta terça-feira (27) o processo eleitoral para a escolha da nova diretoria do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP). Durante três dias, as urnas circularão entre as diversas redações de jornais, rádio e TV em todo o estado, além de urnas na sede da entidade, no Centro da capital (confira abaixo os endereços).

Duas correntes estão na disputa desta eleição. A Chapa 1, chamada Sindicato Forte Unidade e Luta, é encabeçada por José Augusto Camargo, o Guto, que há seis anos está à frente da entidade sindical. A Chapa 2, Renovar para Mudar Sindicato é pra Lutar, é encabeçada por uma mulher, Bia Barbosa, que atua na imprensa alternativa e é assessora de imprensa do deputado federal Ivan Valente (Psol).

A campanha começou a se acirrar há 20 dias, quando as chapas começaram a visitar as redações para divulgar suas plataformas políticas. Entre as principais reivindicações dos trabalhadores, estão as horas-extras, geralmente convertidas em bancos de horas suspeitos; situação trabalhista irregular – uma grande parte é obrigada a trocar o vínculo trabalhista por prestação de serviço atuando como pessoa jurídica (PJ).

“Entre nossas principais bandeiras está o combate à precarização do trabalho, como o desrespeito ao piso salarial, o que se convencionou a chamar de frila fixo ou a troca do registro em carteira pelo PJ [pessoa jurídica]. Mais recentemente, temos uma nova situação que é o acúmulo de funções. O jornalista que foi contratado para atuar no impresso também tem que gravar áudios e vídeos e escrever para portais de notícia sem ganhar qualquer adicional”, alertou Guto.

Bia Barbosa, que também defende o fim do trabalho precário, lembra que essa situação é resultado da falta de uma regulamentação do setor, que gerou grande concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos.

“Esta realidade é fruto de dois problemas centrais: a precarização das condições de trabalho, que impõe aos jornalistas o acúmulo de funções e a concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos grupos no país. No caso das empresas de web, na maioria dos casos os colegas sequer são contratados como jornalistas, perdendo direitos e benefícios previstos nos acordos coletivos da categoria. As consequências são seríssimas, de jornadas escravizantes à retirada de postos do mercado”, expôs a candidata da chapa 2, que é especialista em direitos humanos e mestranda da Faculdade Getúlio Vargas (FGV/SP). “Os empresários justificam o trabalho usando o rótulo do jornalismo multimídia. Além disso, as novas tecnologias estão levando o profissional a ficar conectado24 horas por dia sem a devida remuneração”, completou Bia.

“Estamos estudando a situação do ponto de vista jurídico para impedir a sobrecarga da jornada de trabalho. Ou incluirmos uma cláusula na convenção coletiva, ou encontramos brechas legais para enquadrar esse tipo de prática”, detalhou o atual presidente do sindicato.

Uma das críticas feitas pela chapa 2 à direção atual é a não renovação da corrente política da entidade e de seus respectivos quadros. “O grupo que está à frente da entidade está lá há algumas décadas, e nesse período temos colecionado derrotas. Hoje temos mil sindicalizados a menos do que há quinze anos, apesar da categoria ter crescido. As principais queixas são a falta de resultados concretos da atuação do sindicato e o alto valor da mensalidade. Defendemos mensalidades proporcionais ao salário (1%), ação permanente de sindicalização e busca por novos filiados e, sobretudo, uma presença constante do Sindicato na vida do jornalista”, defendeu a representante da chapa 2.

A atual gestão rebate a acusação de não haver renovação no quadro. Segundo a chapa 1, há uma renovação de 40% dos nomes. “Temos o mesmo presidente, mas a chapa tem muitos novos nomes, com gente atuante e competente”, garantiu a atual secretária de Sindicalização, e também candidata, Marcia Regina Quintanilha.

Com relação ao número de sindicalizados, Guto adverte que o problema não está na porta da frente, mas sim na porta de saída. “Temos sindicalizado um grande número de jornalistas. São 500 por ano, em média. O problema é o número de pessoas que saem. Só em 2011 foram 480 desfiliados. Já estamos estudando uma maneira de fazer com que esse trabalhador não deixe a entidade”, declarou Guto.

Pesquisa

Segundo ele, uma pesquisa parcial com os profissionais que deixaram a entidade constatou que a maioria (40%) saiu por motivos diversos: mudaram de estado, de empresa (que está sob outro sindicato), ou mudaram até de profissão.

“É apenas uma amostragem. Precisamos fazer um estudo mais detalhado. Mas o que pudemos perceber é que há uma rotatividade muito grande no mercado de trabalho e da própria profissão”, justificou o atual presidente do SJSP, sem mencionar o número de pessoas consultadas.

Ainda de acordo com o dirigente, cerca de 20% dos entrevistados deixaram o sindicato alegando problemas financeiros e 8% justificaram que saíram por conta da insatisfação com a entidade.

Atualmente, segundo o presidente do sindicato, existem 16 mil profissionais com carteira assinada no estado. Destes, 4.400 são sindicalizados e estão em dia com as mensalidades, requisito para poder participar da votação – as mensalidades em atraso deveriam ter sido pagas até 12 de março para ter direito ao voto. Atualmente, 600 trabalhadores estão devendo até seis meses da contribuição sindical, que atualmente é de R$ 38. E cerca de mil jornalistas estão em dívida por mais de seis meses. No entanto, segundo a chapa 2, o número de sindicalizados aptos para a votação é de cerca de 3.300. "Solicitamos uma lista de quem está apto a votar, até mesmo para termos um controle sobre o andamento das votações. Esse número não passa de 3.400", contestou Bia Barbosa.

Marco legal da comunicação

Recentemente, o Grupo Folha cavou um espaço dentro de uma emissora pública, a TV Cultura, que passou a veicular um programa privado semanal de 30 minutos feito pelo grupo folha. O mesmo vem acontecendo com a Rádio Cultura.

“Nós vamos retomar o movimento Salve a TV Cultura, que fizemos há um ano e meio. A defesa das empresas públicas deve estar contemplada nas discussões sobre a democratização da comunicação. Trata-se de uma privatização branca. Estão concedendo espaço público para a iniciativa privada sem nos consultar, nós, a sociedade”, avaliou Guto Camargo.

Bia Barbosa também defende uma ação maior da entidade sindical. “O Sindicato chegou a lançar um comitê em defesa da TV Cultura, mas ele infelizmente funcionou durante muito pouco tempo. Agora, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, como o Intervozes e o Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, e veículos da mídia alternativa tentam articular uma nova mobilização para exigir da Fundação Padre Anchieta e do governo de São Paulo que pare imediatamente com o sucateamento da TV Cultura”, afirmou a candidata à presidência do SJSP.

Bia, que integra o coletivo de jornalistas Intervozes (que defende um marco legal do setor), adiantou ao Vermelho que está sendo organizado um ato para o dia 3 de abril para chamar a atenção da sociedade para o fato.

“A mídia pública deve ser fortalecida e seus profissionais, necessariamente valorizados e respeitados. Senão, quem perde é toda a sociedade”, concluiu Bia que, se obter maioria no pleito, será a primeira mulher presidente eleita do SJSP.

Confira aqui onde estarão as urnas entre terça (27) e quinta-feira (29).

De São Paulo
Deborah Moreira

atualizada às 12:12 de 27/3/12