Jornais censuram edital de assembleia por local de trabalho

Diário do Nordeste e O Povo – os dois maiores jornais do Ceará – tentaram inviabilizar a realização de assembleias por locais de trabalho. Os periódicos se recusaram a publicar os editais de convocação para as assembleias, num claro ato de censura e prática anti-sindical.

Apenas o jornal O Estado publicou os três editais, validando estatutariamente o processo, além de não impedir o livre acesso dos dirigentes sindicais às suas dependências. “Mas o sindicato não se intimidou com a censura e ameaças”, afirma o diretor executivo do Sindjorce, Evilázio Bezerra.

O presidente do Sindjornais, Mauro Sales, que é advogado de O Povo, chegou a telefonar para a presidente em exercício do Sindjorce, Samira de Castro, e disse que a empresa não admitiria uma assembleia em suas dependências. “Faça essa assembleia aí no sindicato ou no Ideal Clube, mas aqui a direção da empresa não vai permitir”, disse, alegando que ligava a mando da diretora de redação, Fátima Sudário, que por meio de um fax reforçou a posição de negativa da empresa, inclusive limitando em 20 minutos a permanência dos dirigentes sindicais na redação.

Além de caracterizar prática anti-sindical, a medida evidencia a intransigência da direção de O Povo, cujo vice-presidente, Dummar Neto, foi procurado pela diretoria do Sindjorce, antes do fechamento da Campanha Salarial, para discutir a proposta final das empresas – ignorando a sugestão de reajuste linear de 9% do Ministério do Trabalho – e simplesmente se negou a receber os diretores, alegando que não tratava de negociação salarial. Segundo o diretor institucional da empresa, Plínio Bortolotti, se o assunto em questão fosse institucional, ele poderia receber os dirigentes.

Apesar da tentativa de intimidação, a assembleia foi realizada – com os sindicalistas sendo acompanhados por um advogado da empresa, a secretária e um funcionário do Departamento Pessoal. E a categoria entendeu a situação: democracia e diálogo no jornal O Povo, após a morte do empresário Demócrito Dummar, viraram slogan para vender jornal.

“Agora a base sabe claramente quais são os atores deste jogo que não querem diálogo: primeiro, as empresas não reconhecem o trabalho dos jornalistas e passam cinco rodadas de negociação oferecendo apenas a inflação ou um pífio ganho real de salário. Em seguida, desrespeitam a proposta de reajuste de 9% linear sugerida pela mediadora do Ministério do Trabalho, Jeritza Jucá. Por fim, tentam impedir a realização de assembleias convocadas para votar exatamente a sua proposta. Caiu a máscara do patronato que insistia em culpar o sindicato pela demora nas campanhas salariais anteriores”, afirma Samira de Castro.

Fonte: Sindjorce