BC corta juros, mas bancos aumentam taxas ao consumidor
Mesmo com queda dos juros básicos desde agosto do ano passado e inadimplência estável tanto das famílias quanto as empresas, os juros ao consumidor subiram no Brasil. A taxa média para pessoa física é a maior desde outubro.
Publicado 28/03/2012 10:47
E, enquanto o governo decide como forçar os bancos a reduzir as taxas, o spread bancário para as famílias – a diferença entre o custo do dinheiro para a instituição financeira e por quanto ele repassa ao cliente incluindo seu lucro – cresceu 0,9 ponto percentual e chegou ao maior nível também em cinco meses.
Há um ano, as instituições financeiras não captavam recursos com taxas tão baixas, cerca de 9,7% ao ano. Porém, em fevereiro, as famílias pagaram uma taxa média de 45,4% ao ano pelos seus empréstimos, a maior desde outubro, de acordo com o Banco Central. Já os juros do crédito pessoal chegaram a 50,6% ao ano, também os maiores desde aqule mês.
Para o BC, o comportamento dos bancos se deve ao alto nível de calote no país. A taxa da pessoa física, por exemplo, está estável no maior nível desde 2009, auge da crise financeira mundial por aqui. Mas a autarquia garante que a tendência é de queda no fim do ano.
"Há certa resistência da inadimplência em recuar", disse o chefe do departamento econômico da autoridade monetária, Túlio Maciel. Para o BC, o aumento da inadimplência fez com que os bancos ficassem seletivos na hora de conceder empréstimos.
Ele ressaltou que o atraso de mais de 90 dias nos financiamentos de automóveis quebrou todos os recordes históricos no mês passado, mas considerou que o BC agiu bem em dezembro, quando retirou todas as medidas que travavam os bancos na hora de conceder esse tipo de crédito por prazo mais longo. "Ela (a inadimplência) está associada à expansão do crédito mais intensa basicamente em 2010."
Ação para baratear financiamento
O movimento dos bancos de elevação dos juros e do spread para pessoas físsicas e empresas está na contramão do pretendido pelo governo, que finaliza um pacote de medidas para a redução do custo dos financiamentos no Brasil.
As medidas deveriam ter sido anunciadas na semana passada, mas, segundo fontes, teriam sido travadas pelo lobby dos bancos, que temem perder qualquer parcela dos seus estratosféricos lucros se forem forçados a cortar juros a consumidores e empresas para fazer frente à concorrência com instituições públicas como o Banco do Brasil e a Caixa.
Em fevereiro, o volume de crédito no Brasil cresceu 0,4% para R$ 2,03 trilhões. O BC quer que esse volume tenha um crescimento de 15% neste ano. Nos últimos 12 meses, esse ritmo está em 17,3%.
Com O Globo