Inflação menor pode ser pontual e não muda projeções para Selic

Embora economistas continuem prevendo a Selic a 9% ao ano, juros futuros reagiram com queda ao IPCA de março. Ainda que não tenha convencido o mercado, a forte desaceleração da inflação oficial em março fecha um trimestre abaixo do esperado e deve levar a uma revisão das expectativas para 2012.

O resultado já teve um impacto imediato nas negociações dos juros futuros na bolsa, com as taxas de curto e médio prazos sendo negociadas em queda.

O contrato mais negociado, de janeiro de 2013, apresenta recuo de 0,02 ponto percentual, a 8,73%.

Para os analistas, porém, o resultado não muda as expectativas em relação à próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

O economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, trabalha com a previsão de mais uma queda de 0,75 ponto percentual na Selic, para 9% ao ano. E a retomada de um ciclo de alta na taxa em janeiro de 2013.

Já Guilherme Loureiro e Marcelo Solomon, do Barclays, mantiveram a expectativa de corte de 0,50 ponto percentual na próxima reunião e 0,25 ponto na seguinte, também terminando o ano em 9%.

Desaceleração pontual

Divulgado na quinta-feira (05/04), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu e ficou muito inferior ao consenso dos analistas em março – 0,21% contra 0,37%.

Olhando para os números, Thiago Curado, da Tendências Consultoria, acredita que esta foi uma desaceleração pontual.

“Ela não casa com o cenário realizado e prospectivo da economia”, explica Curado. Para ele, esse resultado favorável deve ser revertido já nos próximos meses.

“Teremos a continuidade de um mercado de trabalho apertado, a continuidade dos ganhos reais de renda e o afrouxamento monetário incentivando o consumo, que deve continuar crescendo de forma robusta e pressionando os preços”, afirma o economista.

Porém, Curado espera que a surpresa desinflacionária dos três primeiros meses do ano deve repercutir em revisões das expectativas. A Tendências, que atualmente prevê uma alta de 5,50% no IPCA de 2012, deve revisar em breve sua projeção.

A opinião do Barclays resume o que Curado disse. Em relatório, Loureiro e Salomon afirmam que o resultado do IPCA é “uma boa notícia, mas não uma nova tendência”. Assim, o banco reafirma a previsão de alta de 5,3% neste ano.

Retomada da inflação

Tanto o Barclays quanto a Tendências veem a reversão da desaceleração no curto prazo. Para Loureiro e Salomon, a alta do IPCA deve acelerar para 0,55% já em abril, com pressão dos preços de remédios, cigarros e roupas.

Segundo Irene Machado, técnica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) responsável pelo IPCA, no resultado de abril deve haver impactos sazonais de reajustes de táxi e metrô no Rio de Janeiro, o aumento de água e esgoto em algumas localidades e dos medicamentos, que tiveram reajustes autorizados a partir de 31 de março.

Além disso, Irene comenta que em março houve a continuidade da liquidação de verão e importações de roupas, principalmente da China, levando a preços menores. Isso ajudou na queda no mês passado, mas pode não influenciar o resultado de abril.

Problemas para 2013

Ao mesmo tempo em que preveem a retomada da aceleração no curto prazo, os analistas acreditam que haverá um forte aumento da inflação no próximo ano, quando os reflexos do afrouxamento monetário serão sentidos de fato.

Para Thiago Curado, da Tendências, a política monetária está visando outros objetivos que não a estabilidade de preços, como a atividade doméstica, o câmbio e a indústria. “Mas isso vai cobrar o seu preço em 2013, com mais inflação”, afirma.

Para o próximo ano, a Tendências prevê inflação de 6,10% (também com probabilidade de revisão para baixo), enquanto o Barclays se mostra mais pessimista, prevendo alta de 6,30% nos preços, bem próximo do teto da meta (6,5%).

Fonte: Brasilagro

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