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Malvinas: Reino Unido cobra dívida feita pela ditadura argentina

Inaugurando mais um episódio da tensão diplomática que envolve a disputa pela posse do arquipélago das Malvinas, no extremo sul americano, o governo britânico decidiu reivindicar uma antiga dívida que a junta militar argentina teria contraído em 1979 para comprar as armas que, mais tarde, usaria durante os combates da Guerra das Malvinas.

O calote de 45 milhões de libras esterlinas (o equivalente a 130 milhões de reais) teria prescrito ainda durante o governo do general Leopoldo Galtieri. Agora, contudo, a UK Export Finance, agência de financiamento de exportações do governo do Reino Unido, volta a cobrar dos cofres argentinos a quitação desse débito.

Nick Dearden, diretor do Jubilee Debt Campaign, uma organização que luta pelo perdão dos débitos entre nações, disse ao jornal britânico Financial Times que “emprestar dinheiro à Junta Militar para que ela comprasse armas britânicas foi ilegítimo e odioso” e que a gestão do partido Liberal Democrata à frente do Departamento de Comércio do Reino Unido deveria “se ater às suas promessas e julgar inválidos os empréstimos imprudentemente concedidos a ditadores”.

Um porta-voz do Departamento de Comércio, contudo, ressaltou ao jornal inglês que “o governo não planeja oferecer o perdão da dívida”, pois, “se a Argentina quer a flexibilização do empréstimo para além do que já foi acordado, então ela deve recorrer ao Clube de Paris (instituição independente de auxílio financeiro)”.

Mais além, o oficial também acrescentou que “o aniversário da Guerra das Malvinas deveria pressionar o governo de Cristina Kirchner a repensar a forma como negocia, de tal maneira que a Argentina implemente políticas liberais democráticas e pare de subsidiar a guerra com a concessão de linhas de crédito para que outras nações comprem armas”.

Com o empréstimo britânico, a junta militar teria adquirido dois helicópteros Lynx e dois destróieres 42, ironicamente utilizados até hoje tanto pela Marinha do Reino Unido quanto pelas forças navais argentinas.

A assinatura que ratificou em 1979 este empréstimo pertence ao então secretário do Exterior do governo trabalhista de James Callagham, lorde David Owen. Na ocasião, ele ressaltou que várias “questões de princípios” surgiam com a venda de armas para “um regime com histórico de maus tratos aos direitos humanos pior que o do Chile”. Ainda assim, prosseguiu com a operação e escreveu ao então secretário da Defesa Fred Mulley que, todos deveriam reconhecer que “não haveria como atingir uma coerência perfeita com essa medida”.

Nesse mesmo parecer, Owen acrescentou que não havia “nenhuma objeção do Departamento do Exterior para a venda dos helicópteros Lynx”, mesmo que esses itens fossem relevantes “na hipótese de uma ameaça às ilhas Falkland”, nome dado pelos britânicos às Malvinas.

A partir das declarações de Owen contidas nesse dossiê, Dearden reforça ainda mais seu posicionamento. Ele “sabia que o governo britânico estava emprestando dinheiro para que um regime abominável comprasse armas”.

Fonte: Ópera Mundi