Nilton Vasconcelos:A  preocupação é o impacto da seca sobre os trabalhadores

O 1º de Maio se aproxima e os baianos vão comemorar com festa e protesto em diversas cidades do estado. Nesta entrevista, o secretário Estadual do Trabalho, Emprego e Renda, Nilton Vasconcelos, fala da situação vivenciada pelos trabalhadores na Bahia e das ações desenvolvidas pelo governo do estado para enfrentar questões como os impactos da crise econômica, da seca e até da ameaça dos produtos importados. Confira a conversa.

Vermelho – A taxa de desemprego na Região Metropolitana de Salvador é uma das maiores do país. O que os baianos devem esperar em relação à geração de empregos em 2012?

Nilton Vasconcelos
– Esse resultado de 17,3% em março, tem um crescimento natural em relação a fevereiro, já que sazonalmente fevereiro é sempre melhor que março. Mas, o que estamos percebendo, é um aumento da taxa de desemprego em relação ao mesmo mês do ano anterior. Isso sim, é fruto do processo de crise econômica, que não deixa de impactar em nosso estado, em função do perfil da atividade econômica, que é muito voltada para a exportação de produtos químicos, petroquímicos, comodites agrícolas e área de madeira celulose. Então, isso sempre implica sim impactos no comercia exterior e também no emprego. Tem a ver com isso.
Mas, por enquanto, não acreditamos que haja uma retomada de níveis de seis anos atrás, quando nós estávamos com uma taxa de desemprego de 22,7%, ou seja, uma taxa ainda bem maior. O fato é que nós reduzimos bastante as taxas de desemprego, chegando a taxa de 12-13% e tivemos muita dificuldade em descer além disso, ao contrário de outras regiões metropolitanas. Isso tem a ver com particularidades da economia nordestina, baiana e especialmente de Salvador, que tem deficiência no perfil da mão de obra, grande contingente de trabalhadores e o próprio analfabetismo, ainda que tenha sido reduzido, ainda impacta no mercado de trabalho.

V – Qual o maior problema no momento?

NV – Agora a  preocupação mais importantes se volta em relação à seca. Mais da metade dos municípios baianos já estão em estado de calamidade, a previsão de chuvas é de dentro de três meses ainda e outros apenas no final do ano, o que deixa a situação ainda mais crítica. Em alguns municípios estamos tendo de fazer escolha entre o fornecimento de água para as residências ou para o comércio, o que é muito ruim, do ponto de vista que vai afetar o comércio e o emprego, além de atingir a agricultura de subsistência e vai aumentar a taxa de desocupação destas pessoas.

V– Como o governo vem enfrentando a situação?

NV – De uma maneira geral, a estratégia tem sido de ampliar investimentos, na perspectiva de que são os investimentos que geram os empregos. Nós já estamos acelerados em relação às obras da Copa. As do estádio e também acelerando no plano de mobilidade urbana, como as obras da Via Expressa, que devem ser concluídas até o final do ano. É continuar, não só os investimentos públicos, mas também particulares.
O Governo do estado negocia também mais casas populares, mais oportunidades de financiamento de casas populares, o que mantém ativo também o setor da construção civil.

V – O que tem sido feito para preparar e qualificar o trabalhador para as oportunidades de trabalho?

NV – Este ano nós já concluímos a contratação de 24 mil vagas de qualificação nas mais diversas áreas. Esta semana, nós tivemos um edital com características bem particulares, que é voltado para o desenvolvimento de atividades que são voltadas para a cultura, como artes cênicas, costura cênica. Estes cursos vão acontecer em municípios que são prioritários na área da cultura, mas que também têm força na área da atividade turística. Então nós vamos continuar investindo ainda mais, chegando a 30 mil vagas no próximo ano. Com o Programa Nacional de Formação Técnica – Pronatec, coordenado pelo Ministério da Educação, os trabalhadores que receberem seguro-desemprego terão a oportunidade de simultaneamente fazer cursos de qualificação. Isso até então não era viabilizado, mas já foi regulamentado e deve começar a funcionar nos próximos meses, beneficiando aqueles trabalhadores que tiverem recorrido ao benefício mais de três vezes nos últimos anos, que serão encaminhados também para estes cursos de formação. É uma oportunidade de qualificar este contingente.

V – Quais os avanços que os trabalhadores baianos podem comemorar nestes últimos anos?

NV – O principal avanço a ser considerado é a valorização do salário mínimo. Esta valorização é significativa pelo seu percentual e multiplicação da capacidade de renda. E ao aumentar a capacidade de renda do trabalhador, isso significa diretamente o aumento do consumo. Diferentemente da elevação da renda na população de rendimento mais alto, na população que recebe salário mínimo, isso não vai para poupança, vai para o consumo, para atender as necessidades básicas. E isso tem feito com que as taxas de crescimento na região Nordeste, sobretudo de produtos básicos, venha aumentando e ampliando o consumo e a geração de emprego nas áreas de produção destes itens.
Há um alerta muito grande para que de fato estes incremento de renda esteja ligado a iniciativas que incentivem a produção local. Porque se não, nós vamos estar financiando empregos em outros países, uma vez que estes produtos passem a ser importados. Uma vez que outros países estão com problemas internos e passem a importar seus produtos para o Brasil. Então, nós estaríamos com a política de incremento da renda, perdendo a oportunidade de simultaneamente desenvolver atividade econômica local, gerando mais empregos.

V– O que tem sido feito para evitar isso?

NV– A preocupação principal do governo é atrair investimentos, tendo uma política que não seja voltada exclusivamente na redução de tributos. Porque nosso estado tem uma posição muito pouco privilegiada na arrecadação de tributos por população. Somos o 25º estado do país. Ou seja, quando dividimos o total da arrecadação pela população estamos entre os mais baixos do país. Isso reduz a capacidade de investimento do estado. Então, o que temos procurado é a atração de investimentos, que não sejam apenas pautados pela renuncia fiscal, mas também em garantias de boas condições, como a trafegabilidade nas nossas rodovias. Hoje a malha viária do está em condições amplamente superiores a aquelas que encontramos no primeiro governo Jaques Wagner. Também no caso de estruturas portuárias, aeroportuárias aqui em Salvador e no governo do estado. Precisamos melhorar as condições para que os investimentos cheguem, já que com que o emprego os trabalhadores terão condições d melhorar sua renda e as condições de vida. 

V– A Copa vai gerar empregos condizentes com o alto investimento para a sua realização?

NV– A Copa gera empregos e gera, especialmente, o que chamamos de legado. Gera empregos, como as duas mil pessoas trabalhando no canteiro da Fonte Nova, em uma obra que durou 2 anos e meio, não com este contingente, mas com um número expressivo,com as obras de mobilidade. Tem também uma boa geração na hotelaria. O que nós estamos fazendo agora é garantir que em 2013 a gente tenha a Copa das Confederações. E temos uma sequência, que é 2013, 2014, 2015 e 2016, incluindo ai, além da Copa do Mundo, a Copa América e as competições de futebol masculino e feminino das Olimpíadas de 2016.
Então, os investimentos se diluem, a medida que acontecem estes outros eventos, que trazem sempre a possibilidade de atração de turistas e de ampliação da projeção do destino turístico Salvador. Então, há a possibilidade de negócios na verdade, mas não podemos também vender ilusões. Não vai acontecer nenhum milagre. Nós temos que garantir que esses segmentos estejam funcionando adequadamente, principalmente, os setores de hotelaria, bares e restaurantes. O que é muito importante, é a gente saber capturar estes turistas que vêem aqui, para que eles voltem. Esta é a principal motivação da exposição do Brasil a nível internacional. É a fazer o turista permanecer. Para virem outras vezes, é preciso ter um bom acolhimento na área de turismo, alimentação e tudo mais.

De Salvador,
Eliane Costa.