Paraísos Artificiais: drogas, romance e busca por liberdade

O universo da música eletrônica no Brasil, especialmente as raves, é o pano de fundo da história de amor entre Érika (Nathalia Dill), uma DJ internacional, e Nando (Luca Bianchi), jovem de classe média que se envolve no tráfico internacional de entorpecentes. Eles são os protagonistas de Paraísos Artificiais, filme que estreia nesta sexta-feria (4) nos cinemas.

Em uma rave na praia de Paiva, em Pernambuco, os jovens protagonistas buscam experiências sensoriais e desejam apenas se divertir com liberdade, testando os próprios limites, o que inclui o uso de diferentes drogas. As vidas de Érika, acompanhada de sua melhor amiga Lara (Lívia Bueno), e de Nando se cruzam, e o encontro mudará seus rumos. Em um ambiente de extrema liberdade, o que entra em foco é o peso das escolhas tomadas por cada persoangem.

Paraísos Artificiais é o primeiro filme de ficção dirigido por Marcos Prado, diretor do documentário Estamira (2006), que lhe rendeu 33 prêmios nacionais e internacionais. A escolha de Prado foi ousada. O tema das raves e das drogas sintéticas é pouco explorado no cinema brasileiro.

Orçado em R$ 10 milhões e filmado em três locações – Pernambuco, Amsterdã e Rio de Janeiro –, o longa tem título inspirado no livro de mesmo nome do poeta francês Charles Baudelaire. O filme consegue passar a intensidade e a liberdade dos jovens na contemporaneidade, e ainda debate o tema das drogas com equilíbrio. Em entrevista ao C2 em São Paulo, durante o lançamento do filme para a imprensa, Prado comentou que se esforçou para abordar o polêmico assunto sem moralismos ou apologias.

Liberdade

A história de amor do filme é simples e narrada em três diferentes épocas, por isso o diretor escolheu contá-la de forma não linear, com o objetivo de envolver ainda mais o espectador e causar suspense em torno dos acontecimentos. Uma das principais características de Paraísos Artificiais é a liberdade, e a acertada escolha da trilha sonora, produzida por Rodrigo Coelho, foi importante para que isso acontecesse. As músicas acentuam cada época da história e envolvem o público do início ao fim do filme.

Sensibilidade

O sexo também é muito explorado, e o longa de Prado não faz questão de esconder partes íntimas dos corpos dos protagonistas. O sexo a três e também entre as duas amigas podem chocar alguns espectadores, mas as cenas foram filmadas de forma sensível. No festival Cine PE, em Pernambuco, a plateia reagiu de maneiras bem distintas ao filme. Alguns demonstraram desconforto com as cenas de sexo e uso de drogas e abandonaram a sessão, enquanto outros elogiaram a produção.

As "caras novas" nos cinemas era algo que o diretor queria para seu longa. Lívia Bueno e Luca Bianchi são rostos menos conhecidos, aqui em seus primeiros papéis de destaque. Já Nathalia Dill, apesar de ter participação frequente em novelas – ela está no ar como a acrobata Débora, de Avenida Brasil –, pela primeira vez vive uma protagonista no cinema.

Bate-papo com o diretor

O que te inspirou a querer produzir Paraísos Artificiais?
A princípio, o que me intrigou, há cinco anos, foram as recorrentes prisões de jovens de classe média do Rio de Janeiro envolvidos em tráfico de drogas sintéticas. E como tinha um filho com 15 anos na época, quis entender mais a respeito desse universo dos excessos da juventude e também para conscientizar meu filho, sem hipocrisia.

Como foram as pesquisas para criar a história?
Estudei e fiz muitas pesquisas sobre o tema por dois anos para produzir Paraísos Artificiais, e muitos questionamentos surgiram. Será que essa liberdade toda aproxima os jovens de hoje? As festas raves preenchem algum vazio existencial desses jovens? No meu filme, você não encontra resposta para nenhum desses questionamentos. Mas há um caminho que pode levar o público a refletir.

Como foram as filmagens do seu primeiro longa de ficção?
Foram uma loucura, uma das coisas mais difíceis da minha vida. Como também participo do roteiro, vivia mudando as cenas do filme. Contei com a sensibilidade dos atores e da equipe técnica.

Fonte: Gazeta Online