Redes sociais, hegemonia e contra-hegemonia entre os EUA e a AL

As redes sociais na internet são, para alguns, a nova arma das revoluções, para azar de outros, são também um efetivo mecanismo de dominação ideológica e um poderoso instrumento dos Estados Unidos para extrair informações sobre os interesses, as vulnerabilidades e potencialidades existentes na América Latina. O mecanismo do governo estadunidense nas Redes Sociais na Internet (RSI) denota seus interesses na região.

A capacidade das RCI para socializar opiniões a converte em uma excelente ferramenta dos centros de pensamento e dos meios de comunicação dirigidos pelas elites do poder, para fazer chegar a diversos públicos as mensagens de seu interesse.

A rapidez com que circulam as informações na rede, as atrativas formas em que se apresentam as mensagens e a concatenação das opiniões com uma caracterização ideológico-cultural, socioeconômica e física que faz cada internauta, resulta em uma valiosa informação para os entes que controlam os meios de informação em nível global, reconsiderando as redes sociais como um novo terreno de combate.

Obama e a internet

A administração Obama tem um interesse particular pelas redes, vinculando-as ao trabalho dos diferentes departamentos e agências governamentais, reconhecendo-as como uma plataforma de análise e utilização para a política exterior e de segurança para a América Latina, no contexto atual. Neste âmbito é destinados um número importante de funcionários, o que revela sua importância estratégica, para o futuro das relações político-diplomáticas em nível global.

No entanto, as declarações da chefe da diplomacia Hillary Clinton sobre o tema da internet e das redes sociais destacam as contradições dependendo dos temas tratados. Por um lado, defendem o direito à informação e à liberdade de expressão, encontrando no RSI uma ferramenta para promover a influência de idéias, cultura e valores estadunidenses no resto do mundo. A partir das RSI são canalizadas como referências os valores político-ideológicos do governo estadunidense sobre o mundo, e que políticas devem ir adiante ou não sobre as diferentes questões internacionais.

Por outro lado, a utilização que os EUA estão dando às novas tecnologias da informática e as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs) limitam a privacidade dos usuários da rede de redes, a ponto de “as próprias empresas dos Estados Unidos defenderem a supressão da liberdade na internet. Narus – uma companhia estadunidense agora de propriedade da Boeing – administra no Egito uma tecnologia que permitia ao governo espiar os usuários da internet”.

América Latina

Com relação à América Latina, as RSI têm um sentido particular. A incorporação massiva dos internautas às redes sociais na região tem sido viabilizada pelo governo dos Estados Unidos – sem deixar de apreciar seus perigos – como uma oportunidade para a construção de consensos e o fortalecimento de sua hegemonia, em um contexto em que se faz necessário melhorar sua credibilidade e articular as relações com a América Latina de uma forma mais consensual e não com a metodologia impositiva de antes.

A Cúpula das Américas em Cartagena das Índias foi um claro exemplo de que a pujança das forças contestatórias à hegemonia imperial tem sua força também no âmbito governamental. Esta realidade denota para este governo, a necessidade de usar seu poder informacional e midiático.

No entanto, nesta dinâmica os meios tradicionais de comunicação são ineficientes, de modo que o trabalho por meio das redes sociais é crucial. Frente à revolução dos meios alternativos na América Latina e no Caribe e sua interação com as redes sociais, a construção de matrizes de opinião ganha novos atores e novas formas de comunicação. Neste cenário, convergem atores tradicionais com o novos, um uma luta política, diplomática e cultural que vai do campo real ao virtual, desenvolvendo uma maior capacidade de diálogo, informação e critérios, a qual é mais difícil de demonizar.

Neste cenário virtual de lutas ideológicas, se articulam movimentos contestatórios, com governos alternativos que manifestam um impulso às lutas contra-hegemônicas de nossa América. O uso das redes sociais se estendeu para a região de forma crescente, vinculando a elas vários presidentes latino-americanos como [Hugo] Chávez [Venezuela], [Rafael] Correa [Equador] e Dilma [Rousseff] e outros atores importantes, que potencializaram novas formas de diálogo cidadão, frente à dominação midiática liderada pelo governo estadunidense contra os processos vivenciados pela região.

Em um contexto internacional de crise estrutural e multidimensional da economia mundial, em que crescem os movimentos de indignados, frente ao descontentamento com os partidos tradicionais, e a desconfiança dos grandes meios, o cenário das redes sociais resulta mais atrativo e dinâmico e oferece maiores capacidades de expressão.

Neste aspecto, pode-se afirmar a entrada em um processo de transição do desenvolvimento da relação entre os EUA e América Latina, onde os parâmetros teóricos políticos e ideológicos do passado são limitados para avaliar uma relação tão dinâmica. Isso, não se compreende pelos interesses geoestratégicos para a região, os governos ou a conjuntura econômica, mas a presença maciça de latinos nos EUA também tem um impacto no interior deste país.

A influência da América Latina nos EUA terá também a sua expressão nas RSI e isso afeta até as campanhas eleitorais. No caso da eleição presidencial de 2012, Obama fez um trabalho sério nas redes, a fim de atrair os setores que normalmente não votam e podem significar uma fortaleza para sua campanha, se o atual presidente tem alguma vantagem com relação ao restante dos candidatos, é no trabalho acertado com as RSI.

A relação cidadã mediante as RSI, estreita as fronteiras regionais e culturais, potencializando um intercâmbio que exerce influências de ambas as partes, mas além da relação que incrementam entre latinos e estadunidenses, também sistematiza as dos latinos nos Estados Unidos com seus países de origem. Estas transformações têm uma crescente influência nas dinâmicas políticas, diplomáticas e culturais entre os EUA e a América Latina, onde o dilema hegemonia e contra-hegemonia adquire novos matizes.

Fonte: CubaDebate
Tradução: da Redação do Vermelho,
Vanessa Silva