Senador defende novo inquérito para apurar Construtora Delta

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), defendeu hoje (10) a necessidade de que a Polícia Federal abra um novo inquérito com foco na atuação da Construtura Delta.

Segundo Dias, o depoimento do delegado Matheus Mela Rodrigues, que coordenou a Operação Monte Carlo, demonstrou que ainda é preciso analisar muitas provas que indicam que a Delta fazia parte da organização criminosa comandada pelo empresário Carlos Augusto de Almeira Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira.

"Agora é que vem a fase mais importante que exige, inclusive, na minha opinião, abertura de um novo inquérito [na Polícia Federal] porque os fatos fortuitos, os fatos novos revelados, inclusive com autoridades que possuem foro privilegiado, não eram objetos da Operação Monte Carlo", destacou o senador ao sair do depoimento do delegado, que está ocorrendo a portas fechadas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira.

Dias ressaltou que a investigação não se aprofundou nas movimentações do ex-diretor da empresa, Fernando Cavendish, e nem de Cláudio Abreu, que dirigia a empresa na região Centro-Oeste e que foi flagrado nas interceptações realizadas pela Polícia Federal durante as apurações em conversas com Cachoeira.

"Esta investigação [Monte Carlo] não analisou os contratos da Delta. Não se quebrou sigilo da Delta, do senhor Fernando Cavendish. O senhor Cláudio Abreu, por exemplo, não estava sendo investigado. Ele não foi monitorado, não há filmagem de nenhuma atitude dele.”

O inquérito da Operação Monte Carlos teria sido enviado para o Ministério Público em março desse ano, de acordo com os parlamentares que presenciaram o depoimento do delegado Matheus Rodrigues. Os integrantes da CPMI informaram que há realmente muito material apreendido que ainda não foi analisado pela polícia.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) informou que cerca de 30 malotes de documentos apreendidos quando a Operação Monte Carlo foi deflagrada estão de posse da polícia federal para serem analisados.

Venda da Delta

Em meio a esse conjunto de suspeitas, a empresa anunciou nessa semana que está a venda. A notícia repercutiu mal entre os integrantes da CPMI. O senador Álvaro Dias classificou a venda como "imoralidade". "Esta venda cheira à imoralidade. É preciso analisar quem é que está comprando a Delta. É quem recebeu, não há muito tempo, R$ 16 bilhões com taxas de juros privilegiadas do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]”, acusou o senador, referindo-se à holding J&F, que controla o grupo JBS. Ontem, A J&F anunciou que assinou um acordo com a empreiteira para assumir a gestão.

Já o deputado Onyx Lorenzzoni (DEM-RS) disse que a venda da empresa pode prejudicar a recuperação de possíveis recursos desviados do governo, caso as suspeitas contra a empresa sejam confirmadas. "Vender a Delta porque? Ela tem R$ 4 bilhões em créditos para receber. Pode ser um bom negócio para quem for comprar. Agora, se eventualmente, o poder público tiver que ser ressarcido, nós vamos cobrar de quem?", questionou o deputado.

O Ministério Público Federal do Rio disse que o procurador regional da República Nívio de Freitas Silva Filho requereu, hoje (10), a abertura de inquérito civil público para apurar possíveis irregularidades na venda da construtora Delta ao grupo J&F. A empreiteira é suspeita de integrar o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

A J&F Participações controla a empresa de alimentos JBS (maior produtor de carne bovina do mundo), a de higiene e limpeza Flora, a de papel e celulose Eldorado Brasil e o banco Original.

com agências