Marcha das Vadias tenta combater machismo em Rio Grande (RS) 

"Mamãe não quero/Mamãe não quero/Mamãe não quero apanhar/Vou protestar/Vou protestar/Vou lutar até o machismo acabar". Este e mais outros tantos refrões inusitados foram utilizados pelas mulheres que participaram da Marcha das Vadias na tarde deste domingo (13), no Rio Grande, município do Rio Grande do Sul.

Marcha das Vadias tenta combater machismo em Rio Grande (RS)

"Achamos a cidade extremamente conservadora e patriarcal. Por isso, depois de realizarmos a marcha em Pelotas, resolvemos vir aqui no Rio Grande", informa uma das participantes e organizadora, que prefere não se identificar, para não veicular a imagem ao coletivo. "Somos sem rostos", define, munidas de cartazes e megafones, cantando e gritando palavras de ordem.

A Marcha das Vadias iniciou-se em 3 de abril de 2011, no Canadá e desde então tornou-se um movimento internacional realizado por diversas pessoas em todo o mundo. A Marcha das Vadias protesta contra a crença de que as mulheres que são vítimas de estupro pediram isso devido as suas vestimentas. As mulheres durante a marcha usam roupas provocantes como blusinhas transparentes, lingerie, saias, salto alto ou apenas o sutiã. No Rio Grande, a manifestação foi bem mais contida.

No Brasil, a primeira Marcha das Vadias ocorreu em São Paulo, em 4 de junho de 2011. Após o anúncio do evento com a criação de uma página no Facebook, mais de seis mil pessoas confirmaram presença no evento. No entanto, diferentemente das versões em outros países, somente cerca de 300 pessoas compareceram, de acordo com a contagem da Polícia Militar paulista. Neste mesmo ano, iniciou-se a manifestação no Recife e em Brasília.

A marcha chama atenção para o número de estupros ocorridos no País. Por ano, cerca de 15 mil mulheres são estupradas. Segundo dados apresentados pela CPMI da Violência Contra as Mulheres, apenas em 2011 foram registrados mais de 750 homicídios, mais de 35 mil lesões corporais e mais de mil estupros de mulheres.

O Rio Grande do Sul é o 18º no ranking da violência contra mulheres e possui apenas uma vara especializada no judiciário para atender mais de 20 mil casos, dos quais 80% não têm continuidade.

Grandes problemas

“A impunidade é algo grave e visível em todo o País. As mulheres não denunciam por medo de não ter o apoio e a garantia da punição. Em algumas delegacias ainda encontramos dificuldades na mediação com as vítimas. A mulher precisa de uma abordagem que minimize os impactos da agressão que ela sofreu, mas não há isso”, aponta a presidente da CPMI, deputada Jô Moraes (PCdoB-MG).

Outro problema apontado pela parlamentar é a falta de dados confiáveis na segurança pública brasileira. “Não temos um sistema nacional que centralize sequer os crimes gerais. Até tramita no Congresso Nacional uma proposta para isso. Mas não temos nos estados um local, uma rede ou organismo que centralize os dados. Nosso primeiro obstáculo é esse”, alerta.

“A vigilância em torno dos casos de medidas protetivas é absolutamente frágil. Em Minas Gerais, por exemplo, tivemos três casos agora. Um deles, o de uma cabeleireira que tinha oito queixas e estava sob medidas protetivas, terminou com a morte dela no seu próprio salão de beleza. Nós acabamos de perder uma procuradora federal que recebeu uma medida protetiva e o marido a matou dentro de casa. Então, por onde passamos vimos esta debilidade. Quem irá assegurar a aplicabilidade real e efetiva das medidas protetivas?”, questionou a deputada Jô Moraes, ressaltando que o Brasil ainda é falho no cumprimento da Lei Maria da Penha.

O relatório de violência no País, a partir dos pedidos de informações encaminhados a todos os estados pela CPMI deve ficar pronto em 180 dias após a criação da Comissão. Esta é a segunda vez que o Congresso Nacional propõe uma CPI para tratar do tema. Na primeira vez, em 2001, não se aprovou o relatório.

Fonte: www.jornalagora.com.br