Chile: Piñera rejeita proposta de gratuidade no ensino superior

Na tradicional prestação de contas ao Congresso chileno, na cidade de Valparaíso, Sebastián Piñera pediu desculpas por equívocos de sua administração, sem especificar quais exatamente. No entanto, Piñera voltou a rejeitar a possibilidade da adoção do ensino superior gratuito no país.

 Esta foi a terceira prestação de contas oficial de Piñera, a primeira depois do começo da crise educacional, em junho de 2011. Enquanto o presidente discursava, cerca de 15 mil estudantes marchavam pelas ruas próximas ao edifício, acompanhados dos líderes da Confech (Confederação dos Estudantes do Chile) Camila Vallejo, Gabriel Boric e Noam Titelman, e se enfrentavam com batalhões especiais dos Carabineros (polícia militarizada chilena), que manteve bloqueadas todas as vias de acesso ao edifício em um raio de 200 metros.

Durante o discurso, o presidente repetiu os anúncios já feitos por seu ministro da Educação, Harald Beyer, no último mês de abril, com ênfase na diminuição da taxa de juros para os créditos educacionais e na criação de uma entidade estatal responsável por entregar esses créditos.

Piñera também reforçou os argumentos do seu ministro ao explicar que o governo não acredita na educação gratuita como forma de reverter a desigualdade no país. “Em um país com tantas carências, não nos parece justo que o Estado financie, com o dinheiro de todos os chilenos, a educação daqueles estudantes mais favorecidos”, afirmou Piñera, que também assegurou que “nunca antes na história deste país houve tantas oportunidades para os estudantes, sobretudo os de famílias mais vulneráveis e de classe média”.

Manifestações

Nas ruas, os estudantes que marchavam mantinham um forte enfrentamento as forças policiais, que terminou com cerca de 20 manifestantes detidos e sete policiais feridos, entre eles um que teria sido identificado pelos estudantes como sendo um policial à paisana infiltrado na marcha. Após os incidentes, o presidente da Confech, Gabriel Boric, disse que “o balanço realizado pelo presidente não traz nada novo e voltou a ressaltar as mesmas medidas que já tínhamos condenado nas duas últimas marchas”, lembrando as duas manifestações organizadas pelo movimento nos dias 25 de abril e 16 de maio.

Entre as novidades anunciadas pelo presidente durante o discurso – ambas fora do âmbito educacional – as que mais chamaram a atenção foram a criação de um novo órgão estatal que será responsável pelos trabalhos de resgate e evacuação em casos de tragédias naturais, como terremotos e erupções vulcânicas, que substituirá o atual ONEMI (Departamento Nacional de Emergência), e o anúncio de um abono de 40 mil pesos (cerca de R$ 160 reais) para as famílias mais pobres, para aliviar os efeitos dos seguidos aumentos de preços dos alimentos.

A medida foi criticada por líderes da oposição, ao final do evento, porque, como enfatizou o deputado Osvaldo Andrade, presidente do Partido Socialista, “é uma cópia da política realizada pela ex-presidente Michelle Bachelet que era reiteradamente condenada pela direita quando eles eram oposição, e agora eles a aplicam não por acreditar nisso, mas por tentar conseguir pontos nas pesquisas”.

Opera Mundi