Encontro faz balanço sobre experiência das cotas e do ProUni

Com mais de 750 participantes, o 2º Encontro Carioca de Estudantes Cotistas teve um importante saldo: a certeza de que o Brasil vive um novo momento e que políticas públicas devem ser pensadas de acordo com a realidade de cada estudante universitário do país. Realizado no último final de semana, dias 26 e 27 de maio, o encontro também fez um balanço da experiência de 12 anos de ações afirmativas em universidades como a UERJ, primeira instituição que adotou o sistema de cotas.

Foi a ex-Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéia Freire, a primeira a implementar a reserva de vagas em uma universidade pública, no caso, a UERJ, quando era reitora da instituição em 2000. Doze anos depois ela continua defendendo a medida e destacando o seu impacto para o desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão no ensino superior.

O encontro carioca começou superou as expectativas. A importância do debate se traduziu na presença de autoridades do poder público municipal, estadual e federal, como o prefeito Eduardo Paes, o senador Lindberg Farias e a diretora do MEC, Paula Branco.

O ápice do encontro aconteceu durante o ato político de sábado. Paes garantiu, diante dos participantes, instituir bolsa permanência para todos os estudantes cotistas e prounistas da cidade.“ Depois dessa grande vitória, o próximo passo é cobrar para que se efetue de fato”, afirmou o coordenador Municipal de Juventude do Rio, Igor Bruno, que, ao lado da União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro (UEE-RJ) organizou o evento.

A programação abarcou diversos eixos que têm envolvido a reflexão acerca das ações afirmativas de acesso e permanência. Foram ainda realizados debates, oficinas, feiras de estágios e atividades culturais.

Debate quente

Eram 9 horas da manhã quando o Cine Teatro da Universidade Gama Filho (UGF) começou a ganhar movimento. Aos poucos, os jovens lotaram o espaço na expectativa de participar de um amplo debate. Antes disso, um Cortejo com o grupo Tá na Rua arrancou sorrisos de toda plateia.

A mesa de abertura foi composta por grandes nomes. O presidente da Comissão Nacional de acompanhamento do ProUni (CONAP), Valmor Bolan; a diretoria de políticas e programas de graduação do Ministério da Educação (MEC), Paula Branco de Melo; a pró-reitora de graduação da Universidade Estadual da Zona Oeste (UEZO), Maria Rita; e o superintendente de políticas estudantis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Antônio José Barbosa, além do presidente da UNE, Daniel Iliescu, e do presidente da UEE-RJ, Igor Mayworm, elucidaram pontos importantes e elaboraram um verdadeiro mapa social dos programas de acesso à universidade da cidade do Rio de Janeiro.

Foi consenso entre todos os convidados a premissa de que as caras e as cores da universidade mudaram. E esta nova configuração é resultante, sobretudo, da institucionalização das várias políticas de inclusão. O aumento do universo de estudantes majoritariamente nas classes C, D e E, evidencia o importante papel dessas políticas na democratização do acesso à universidade.

Paula Branco explicou um dado curioso durante o debate: entre 1998 e 2010, o percentual de jovens entre 18 e 24 anos cursando o ensino superior no Brasil praticamente dobrou. A proporção passou para 14% contra 6,9% registrado em 1998, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Daniel Iliescu também explanou que a UNE tem como bandeira defender que prounistas ou cotistas possam ser beneficiários de outras bolsas da universidade, como pesquisa de extensão. “Esses programas estão começando a saldar a dívida com a educação de seu povo. Essas transformações que o Brasil têm vivido são fruto do protagonismo da nossa juventude, que rala, estuda e luta. O debate que iniciamos aqui apontam com clareza as medidas pelas quais precisamos lutar”, finalizou.

Depois da mesa de abertura, houve feiras de estágios organizadas pelo CIEE e o lançamento do livro “ProUni: o olhar dos estudantes beneficiários”, da mestre e doutoranda em Educação, Fabiana Costa.

Um ato vitorioso

Na tarde de sábado ainda aconteceu um grande ato político. O prefeito Eduardo Paes firmou o compromisso de estender a bolsa-permanência para todos os beneficiados dos programas de acesso. Hoje, apenas os estudantes de alguns cursos com carga horária elevada, como medicina e engenharia, recebem a bolsa-permanência do governo federal no valor de R$360,00.

O senador Lindberg Faria, que foi presidente da UNE há exatos 20 anos, também estava no ato e defendeu uma proposta ainda mais ampla. A promessa do parlamentar é enviar ao Senado um projeto de lei para estender o benefício da bolsa-permanência para todos os prounistas e cotistas existentes no país.

Os estudantes, representados por Cristina, uma universitária de 40 anos, leram e entregaram uma carta aberta para todos os presentes. No documento, eles reivindicam exatamente as promessas feitas por Eduardo Paes e Lindberg, além de pressionarem para que a conquista aprovada pela Câmara dos Vereadores no ano passado, a meia-passagem municipal para cotistas e prounistas, seja ampliada para todo o Estado. (Leia aqui a carta completa)

Ao anoitecer, os estudantes foram embalados com a mistura de diversos sons black, do samba ao funk, passando por hip hop e reggae, da banda Farofa Carioca.

Debates, filme e oficinas

Logo pela manhã, os participantes foram convidados a mergulhar na história combativa da UNE e do movimento estudantil através da exibição do filme “O afeto que se encerra em nosso peito juvenil”, de Silvio Tendler.

Depois, os estudantes participaram de uma oficina que tratou de temas como o racismo, a participação de negros e negras na sociedade e políticas públicas para a juventude. Foi um momento de esclarecimentos e opiniões.

O vice-presidente da UNE no Rio de Janeiro, Edson Santana, explicou, com números e dados que, para além dos efeitos da Lei Áurea, que completou 124 anos, trabalhadores e estudantes brasileiros ainda são subdivididos em classes. O homem branco ganha mais do que o homem negro pela mesma função. O estudante branco tem mais oportunidades do que o estudante negro, mesmo sendo alunos do mesmo colégio.

Para Edson, antes de tratar todos com igualdade é preciso tratar os desiguais de forma desigual através de ações afirmativas. “Não vamos progredir enquanto não existir políticas afirmativas, como o sistema de cotas. Estão errados quem pensa que isso causa mais desigualdade. Isso, muito pelo contrário, chama ao debate o racismo e todas as entranhas relacionada ao assunto”.

Caravana da UNE

Veja também o vídeo (abaixo) da Caravana UNE Brasil +10 – Educação, Desenvolvimento, Justiça Social e Ambiental. da UNE. Após 48 dias de viagem, a caravana passou por Brasília, Rio Grande do Sul, Curitiba, Amazonas, Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernanbuco, Bahia, MInas Gerais, Salvador, Rio de Janeiro e terminou, no dia 15, em São Paulo.

Com a caravana, a UNE realizou em cada parada uma grande aula, o “Aulão Brasil+10″, com personalidades especialistas nas mais diferentes áreas para aprofundar o pensamento sobre o Brasil que a juventude quer construir. Cada um desses encontros trouxe à tona um tema diferente, entre eles educação, sustentabilidade, desenvolvimento econômico, cultura, papel dos movimentos sociais… e enriqueceu a reflexão proposta pela atividade. A seguir, um breve relato dos momentos mais marcantes dessa grande jornada pelo Brasil.

Veja os demais vídeos da Caravana aqui.

Fonte: Da redação, com informações da UNE