Cláudio Ferreira Lima: Fortaleza não é para principiantes

Por *Cláudio Ferreira Lima

Na magistral palestra que proferiu em 1968 na Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob o título “Fatores de localização da cidade de Fortaleza”, Liberal de Castro pergunta: “qual, dentre aqueles aventureiros, truculentos e bravateiros, simpáticos e tenazes, teria imaginado que três séculos após suas correrias por estas bandas, aqui haveria de florescer um dos maiores conjuntos urbanos do País?”

E isso, continua: “(…) sem a ajuda de qualquer fator geográfico especial: nenhuma foz de rio navegável; nenhuma baia?! E pior ainda, numa planície arenosa, sem qualquer condição de ser explorada agricolamente (…)?! Entretanto a cidade nasceu. Nasceu e cresceu”. E cresceu/inchou tanto que hoje é a sexta cidade brasileira em população.

Apesar de ampla desigualdade de renda, que, na linguagem de Milton Santos, causa as imensas “distâncias interiores”, Fortaleza possui destacada expressão econômica. No último cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado pelo IBGE (2009), com R$ 31,8 bilhões, responde pela metade do PIB do Ceará, superando Estados como Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe. E mais: a IPC Marketing Editora, em estudo recente, estima que este ano Fortaleza será o oitavo mercado consumidor em potencial do Brasil.

A capital cearense é um centro de serviços – conforme o IBGE, esse setor gera 80% do PIB e 82% do emprego formal –, e de largo alcance: a rede de Fortaleza é a terceira em população do País, superada apenas pela de São Paulo e, por reduzida margem, pela do Rio de Janeiro; ela se estende, além do Ceará, aos Estados do Piauí e Maranhão e à área do Rio Grande do Norte, que compartilha com Recife. Como se vê, há potencial a explorar dentro de uma estratégia de desenvolvimento. O orçamento de R$ 5 bilhões em 2012, o quinto entre as cidades brasileiras e o primeiro entre as do Nordeste, atesta bem a importância de Fortaleza.

Estão em curso investimentos de monta, como os do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, do Centro de Eventos do Ceará e da Copa do Mundo, de grande impacto no meio urbano, na economia e na sociedade fortalezenses. A capital do Estado passará, pois, nos próximos anos, por profundas transformações, e logo os seus governantes estarão diante de desafios que só tendem a aumentar em áreas já críticas como saúde, educação, moradia, saneamento, segurança e mobilidade urbana.

Por todas essas razões, se, para Tom Jobim, “O Brasil não é para principiantes”, Fortaleza também não é. Trata-se de uma das principais metrópoles do País. Administrá-la é para pessoas sérias e competentes, que tenham ouvido capaz de ouvi-la e entendê-la, mas, sobretudo, experiência para enfrentar e vencer, com projeto realista e consistente, tão graves e urgentes desafios.

Os partidos nestas eleições terão, portanto, a alta responsabilidade de lançar candidatos que não se afastem desse perfil. Do contrário, é fácil imaginar o caos que nos aguarda. Por isso, sugerimos que nessa escolha se inspirem em Goethe: “Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes”.

*Cláudio Ferreira Lima é Economista

Fonte: O Povo