Capistrano: O desgaste de uma greve

Qualquer categoria não faz greve sem uma motivação muito forte. No setor público, geralmente, a greve é motivada pelo descaso dos governos com as questões básicas de interesse popular.

 Fazer greve não é fácil, principalmente por tempo indeterminado. E quando a greve é em um setor que o prejuízo financeiro não é sentido de imediato, a situação fica mais complicada. Isso ocorre com as greves nos serviços públicos, nos setores de prestação de serviços, tais como: educação, saúde e segurança. Quando a greve atinge o setor de arrecadação, o governo logo encontra uma solução.

Duvido que uma indústria ou uma empresa comercial de qualquer ramo suporte uma greve prolongada, vai logo para mesa de negociação e faz um acordo. Já a greve no serviço público, geralmente, se prolonga por muito tempo, sem nenhuma atenção dos governos, com isso trazendo prejuízos para os usuários dos serviços e um desgaste para os grevistas, no caso dos professores tendo que ministrar as aulas não dadas. Portanto, é uma paralisação que inevitavelmente se paga os dias parados.

A greve no setor público é um direito conquistado pelos barnabés. A Constituição de 1988 assegurou aos servidores púbicos a sindicalização e o direito de greve, foi uma grande vitória dos servidores públicos, aqui no Brasil.

Na década de 1990, com o advento do neoliberalismo, aqui no Brasil, nos governos Collor e FHC e, no RN, nos governos Agripino e Garibaldi, eles encontraram uma formula de tentar brecar qualquer movimento que visasse melhorias salariais para o servidor público, pra isso foi criado um dispositivo jurídico, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal e, dentro dela, o famoso e tão utilizado, Limite Prudencial.

Como os governos geralmente não dão bola pra aquilo que interessa ao povo, às greves dos setores públicos se prolonga por muito tempo. Esse fato tem gerado um grande desgaste as entidades de classe e aos servidores em greve. E o pior, quase sempre as categorias retornam as suas atividades sem nenhuma ou com poucas conquistas, tento sempre como justificativa, por parte dos governos, que o erário público encontra-se no Limite Prudencial, portando proibidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal de dar qualquer reajuste salarial.

Por isso, acho que chegou a hora das entidades representativas dos servidores públicos e suas lideranças procurarem outras formas de luta. A greve é um instrumento de pressão importante, é um conquista histórica dos trabalhadores. Agora, a greve por tempo indeterminado tem provocado um grande desgaste as entidades de classe e as suas lideranças. Veja o caso da nossa universidade (Uern), uma greve justa, mas o governo indiferente, insensível às reivindicações e o movimento grevista sem nenhuma perspectiva de um final com um acordo positivo.

O pior de tudo é a apatia da sociedade civil perante o movimento grevista da Uern, é como se nada estivesse acontecendo.

Diante disso, vem à pergunta inevitável, o que fazer? Acho que essa é uma resposta que as lideranças das entidades de classe têm que encontrar. Procurar mecanismo de pressão que não seja só a greve por tempo indeterminado.

A paralisação de atividades profissionais é um instrumento legítimo de luta de qualquer categoria, historicamente conquista, mas pode se transformar em uma ação negativa. A paralisação sendo bem planejada e colocada em prática em momentos estrategicamente escolhidos, com começo meio e fim, com certeza terá consequencia muito mais positiva do que uma greve por tempo indeterminado.

Sinto que, hoje, a greve por si só não é a estratégia mais adequada, ela é desgastante e, nos dias atuais, não tem sensibilizado os governos nem a população. As lideranças tem que encontrar fórmulas de sensibilizar os interessados que depende do serviço público para a luta em defesa desse setor, afinal de conta esses serviços são destinados às camadas mais carentes e vulneráveis da sociedade, os trabalhadores.

Encontrar uma maneira de sensibilizar a população na luta em defesa de um serviço público eficiente e de boa qualidade é o grande desafio das entidades de classe, é importante lutar por questões pontuais de cada categoria, mas, sem esquecer, que é basilar um trabalho de conscientização sobre a urgência das reformas estruturais que o Brasil tanto precisa e que até hoje não foram realizadas.

Sem essas mudanças estruturais, sai governo, entra governo e a situação de penúria do setor público continuará sem solução.
 

Antonio Capistrano foi reitor da Uern, é filiado ao PCdoB