Golpistas ameaçam liberdade de expressão e pressionam TV Pública

Na noite desta quinta-feira (22), uma pessoa dizendo-se enviada da presidência do Paraguai, invadiu a sede da TV Pública pedindo informações sobre a grade de programação da emissora e sobre seu funcionamento técnico, como conta o ex-diretor da TV, Marcelo Martinessi, em entrevista, por telefone, Portal Vermelho.

Por Vanessa Silva

A ação ocorreu cerca de uma hora depois de o Senado ter aprovado um processo relâmpago de impeachment contra Fernando Lugo, que foi afastado das atribuições da presidência do país. O vice-presidente, Federico Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico, assumiu o poder.

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Até o golpe branco, como está sendo chamado o processo no país vizinho, o jornalista e cineasta, Marcelo Martinessi, dirigia a TV Pública do Paraguai. Com a queda de Lugo, Martinessi renunciou ao cargo: “não quero trabalhar com as pessoas que tomaram o governo porque não sei como vão atuar”. Ele declarou ainda que esse processo está dando medo.

Ele diz temer pelo processo em curso no país e classificou a ação ocorrida na TV como um “um atentado à liberdade de expressão, sobretudo dos meios públicos, que foi construído pela cidadania”.

Sobre a importância da TV para o país, ele comenta que “o canal foi criado como um canal público, então para nós é muito importante cuidar deste veículo”.

Veja o manifesto dos trabalhadores (em espanhol):

Invasão

“O que aconteceu é que horas após o novo governo ter assumido, essa pessoa se apresentou como supostamente representando Federico Franco, pedindo-nos para entregar a programação e perguntando como se dá o funcionamento da TV Pública. Pedimos a ele alguma credencial, algo que provasse que ele era do governo, mas ele não tinha nada”, conta Martinessi.

O ex-diretor conta que o invasor estava muito interessado em saber sobre o programa Microfone Aberto”, um espaço em que as pessoas podem falar sobre o que quiserem. “Ele perguntou pontualmente do programa Microfone Aberto (…). Eu disse que este programa estava dentro da grade normal. Entregamos a grade a ele, porque é uma informação pública, mas não dissemos nada relativo às questões patrimoniais, administrativas porque é uma questão de segurança”, esclareceu.

“Essa pessoa disse ser o secretário de informação. O secretário de informação do governo de Lugo nunca pisou na TV Pública. Este é um canal público, não é um canal do governo. Isso é um sinal que nos dá muito medo”. Ele pontua ainda que a “TV Pública depende da secretaria de informação e comunicação, mas um decreto do presidente Lugo que deu autonomia à emissora”.

Medo

Em conversa por telefone com o Portal Vermelho, a jornalista Fatima Rodriguez, também da TV Pública, disse que todos os meios de comunicação mostram apenas o lado da polícia e que não há ninguém nas ruas, nas praças “também com essas imagens, quem iria?” questiona, referindo-se ao medo de ações violentas em Assunção.