Cláudio Ferreira Lima: Cidade, economia e eleições

Por *Cláudio Ferreira Lima

A cidade é hoje em toda parte o locus privilegiado onde pulsa a atividade econômica de uma sociedade. O geógrafo Milton Santos (1926-2001) em Por uma economia política da cidade, de 1994, já explicava o fenômeno: “A circulação dos produtos, dos homens e das ideias ganhou tal expressão, dentro do processo global de produção, que a urbanização passou a ser um dado fundamental na compreensão da economia. Houve, mesmo, um geógrafo, Roger Lee, a afirmar que ‘o sistema urbano é a economia’”. E ouso completar: “e a economia é o sistema urbano”.

A intensificação da concorrência torna a logística e, com ela, a cadeia de suprimentos, vital para a empresa. A propósito, como anda o fluxo dos produtos no Brasil? Numa visão panorâmica, ao primeiro lance de vista, chamam a atenção ruas apinhadas de veículos, com a consequente lentidão do trânsito e da mobilidade urbana. Qual o impacto disso na economia? Ora, do lado da empresa, a perda de horas trabalhadas, o aumento do consumo de combustível e o encarecimento do transporte de cargas, que elevam os custos de produção, com prejuízos na produtividade e na competitividade. Do lado do trabalhador – o fluxo dos homens –, as longas horas gastas no deslocamento para o trabalho, com danos para a saúde e o convívio social e familiar. A própria sociedade como um todo também sofre com a poluição e a queda da qualidade de vida. E tudo isso ocorre em detrimento, ao mesmo tempo, da “cidade econômica” e da “cidade social”.

Em Fortaleza, enquanto pouco se fez quanto ao ordenamento territorial, projetos de forte impacto sobre a cidade, como o metrô, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, o Centro de Eventos e as obras da Copa do Mundo, vêm sendo realizados ou mesmo concluídos. Diante disso, para que haja expansão produtiva em benefício de todos, é imperioso ajustar as dinâmicas e as demandas recíprocas da cidade e da economia.

Nestas eleições, deve merecer destaque o fluxo das ideias. Claro que há as questões urgentes e algumas delas emergenciais: saúde, saneamento, educação, violência, moradia em áreas de risco e a florescente economia informal. Mas não se pode deixar de tratar da dialética cidade e economia, que abriga todas essas questões.

É preciso discutir, e de forma integrada, infraestrutura, habitação, transporte de massa e localização de eixos produtivos e comerciais, juntamente com medidas de controle da expansão urbana. Isso para aproximar o trabalhador do emprego e dos locais de consumo e permitir à empresa reduzir custos e ganhar em produtividade e competitividade e, em suma, trazer inclusão social com eficiência econômica e cuidado ambiental.

Que se eleve o nível da campanha: menos ramerrão de marketing político e troca de desaforos entre adversários e mais tempo para tratar de assunto tão crucial para a população. Claro que isso vai exigir qualificação do candidato, mas, paciência, não se pode eleger, sob pena de iminente desastre, quem não estiver em condições de entrar nesse debate e dele se sair bem.

*Cláudio Ferreira Lima é Economista

Fonte: O Povo