Deth: Estamos no tempo do vento: somos nossa própria mobilidade.

No último dia 30 de junho, a Convenção do PCdoB Natal rendeu inúmeras emoções, homenagens e discursos. Um dos mais emocionantes foi o discurso da"Poetisa dos Ventos", Deth Haak, que também é pré candidata à vereadora em Natal. Transcrevemos abaixo o texto de Deth na íntegra.

Muitos poetas que me antecederam tentaram segurar o céu em tempos de chuvas severas e colapsos inevitáveis. Influenciaram maneiras de pensar, poder, política, economia, amizade, vizinhança, solidariedade e comunidade. No alto da montanha de juventude acumulada, me auto-pari cidadã potiguar e por isso dedico esse parágrafo à Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte, por seus quinze anos de resistência, comemorados em 29 de junho de 2012.

Senhoras e Senhores, aliados e camaradas, agradeço o desafio de reinventar a nossa concepção de política, trazendo a Cultura em Movimento na polifonia da voz, olhos, órgãos, mais breve que o dia e a noite neste universo terrestre, tecendo diversos contrastes dramáticos e aspirações coletivas de transformação social.

Herdei essa polifonia de minha deusa-ancestral de matriz africana, Eparrêi Oyá, que, desde a primeira infância, cria através da minha vida os caminhos da memória. E como Poetisa dos Ventos, saúdo Pablo Neruda com um fragmento de sua autobiografia:

“Coube-me sofrer e lutar, amar e cantar; couberam-me na partilha do mundo o triunfo e a derrota provando o gosto do pão e o do sangue. Que mais quer um poeta?

E toda a alternativa, desde o pranto até os beijos, desde a solidão até o povo, perdura em minha poesia, atuam nela porque vivi para minha poesia e minha poesia sustentou minhas lutas”.

Bênçãos Poeta!

Sabemos que a cultura é o elemento universal que une povos, rompe barreiras e, acima de tudo, tem o poder de transformar a sociedade! Nesse processo, a arte tem um papel fundamental na vida das pessoas. É por meio dela que crianças e jovens, ao seu primeiro contato, poderão se sensibilizar e escolher um caminho. Mesmo que não se tornem artistas, com certeza se transformarão em agentes conscientes de seu papel transformador do meio em que vivem.

Muito antes de atender esse chamado, caminhei pela América Latina participando de inúmeros encontros culturais e levando na bagagem a cultura do Rio Grande do Norte. Em várias cidades da Colômbia, Chile, Peru e, recentemente, Cuba, visitei projetos sociais que reduziram drasticamente a violência nas comunidades periféricas com Cultura.

A palavra, os sussurros e a esperança são a acupuntura do vento. No restar dos fluxos, ouço o canto na ópera das aves regida pela Mãe Natureza, que como mãe e cidadã venho buscando preservar. Sou a Mulher do Morro do Careca e desejo fervorosamente honrar a confiança em mim depositada. Saibam que lutarei para banir, por meio da Cultura da Paz, os agiotas usurpadores da esperança humana, que como moscas rodeiam o povo de minha aldeia – o bairro de Ponta Negra.

Honrando a palavra com o Círculo Universal dos Embaixadores da Paz, que me confiou à tarefa de empreender a Emancipação Humana nas cercanias da cidade que me adotou, abro meu coração para a Cidade do Natal em meio às mascaras de uma sociedade cansada de burocracias monopolizadas por bizarros evangelhos. Brado como a Rosa de Luxemburgo sem perder a ternura de Guevara! Defendo o direito das minorias! Sou da luta! Sou cultura! Minha bandeira é a justiça social, a qual assumi como Cônsul Poeta Del Mundo para o Rio grande do Norte e militante do PCdoB.

Proponho, então, eximir a cruel exclusão social das periferias, porque nenhuma palavra é periferia da outra e sem dignidade os sonhos são meras utopias. Assim caminha a nossa comunidade.

Somos todos comunidade e governo, governo e comunidade. Um governo longe do povo torna-se algoz. Assim como a saúde e a educação são direitos assegurados continuamente a toda população, a cultura também precisa fazer parte da cesta básica de necessidades diárias de todos nós. Só assim é possível construir uma sociedade consciente de seu papel enquanto agente de transformação e avançar na inserção social. Minha proposta é empreender uma CULTURA de PAZ de comunidade viva, sem fronteiras, para construir seus próprios corredores da economia. Uma economia criativa que tem para apresentar como ponto de partida o ser humano, como nos ensinou o escritor José Saramago.

A Cultura precisa caminhar de mãos dadas com o turismo, ser ensinada nas escolas e mostrada a quem nos visita. É preciso avivar a história da província amorosamente, enaltecendo seus mestres. Bênçãos Câmara Cascudo, Alta de Sousa, Tico da Costa, Dona Militana, Luis Carlos Guimarães, Deífilo Gurgel e tantos outros.

É tempo de encostar a cadeira na porta e começar a contar a história antes da chegada dos historiadores, aguçando os sentidos do nosso próprio fazer e pensar para aumentar a nossa capacidade de reinvenção. Chamo isso de Cultura da Vida, pois nossa crença não é negociável e o nosso objetivo é caminharmos juntos, banindo imposições da pirâmide do consumismo, que quer nos reduzir a vendedores fantasmagóricos no labirinto do ter.

As pirâmides do conhecimento e pensamento, que se perderam em meio à especulação do monopólio da expropriação cultural, tornaram tudo um show interminável, em que toda a sabedoria é uma simples coincidência experimentada em todas as formas perversas de assistencialismo.

“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.”

A cultura da vida comunitária traz bálsamo. Cura o sonambulismo do tempo imposto pelos comerciantes mascarados de medo e desesperança. Essa cultura tem que ser ensinada primeiro na casa de todas as nossas infâncias: a escola.

A Cultura anuncia a luz e nos convida para um ritual de construção da dignidade na vida coletiva sob novos paradigmas.

Proponho uma forma de governo poeticamente habitada, ou seja, poeticamente ética e estética, num mundo que cresce como corpo em vida, nunca como fachada para governar ou manipular as massas. Hoje, a cultura é difundida como eventos esporádicos, sem qualquer compromisso com a formação de público e com a construção da cidadania. Não podemos aceitar que a cultura continue sendo tratada como um capricho e ofertada somente uma vez por ano.

“Cultura não é Evento”.

O Presente, se quer ser futuro, terá que ser arte em movimento, palavra em movimento, sensação em movimento, e não a manipulação camuflada da globalização, que acumula o autoritarismo. Nossas danças folclóricas, nossas artes plásticas, o concerto e a cantata, a gastronomia, a música, a poesia e o artesanato precisam se mover com uma nova ética, uma nova estética. A comunidade é a cultura viva em movimento.

Que reverbere no vento ecos e mais ecos na luta deste sonho. Nós somos feitos de vocações e sabemos que todo pensamento afeta nossa vida cotidiana. É pela democracia que buscaremos esse resultado. Afinal, nós dormimos o suficiente para despertar a consciência de que na arte aprendemos a respeitar o outro e a sermos mais humanos com o planeta que nos hospeda.

"O mercado faz produtos, o povo faz cultura."

Vem comigo! É a Cultura em Movimento – a vida da comunidade.

 

Deth Haak
“A Poetisa dos Ventos”
Sociedade dos Poetas Vivos e Afins-RN
Academia de Trovas- RN
UBT- União Brasileira de Poetas Trovadores
Cônsul Poeta Del Mundo- PN
Embaixadora Universal da Paz
União Brasileira de Escritores-RN