Mélenchon: "Somos herdeiros do processo venezuelano"

O líder da esquerda francesa, Jean Luc Mélenchon, de visita em Caracas para participar do 18º Fórum de São Paulo, confessou que vive as etapas do processo venezuelano com paixão: “Venezuela deu uma contribuição fundamental para o socialismo do nosso século e demonstrou que o socialismo passa pelas urnas”.

Na liderança da Frente de Esquerda, Mélenchon obteve quatro milhões de votos no primeiro turno das eleições presidenciais de abril deste ano e ficou em quarto lugar assediado por uma campanha contra ele por parte da direita e dos meios de comunicação. “ Me insultaram como insultam a Chávez, disseram que sou um macaco, um jumento, amigo de Chávez , que é pior que tudo”, disse.

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Falou que a propaganda da direita é a mesma em todos os países e destacou que, segundo ela, “o homem de esquerda não se controla, é um bruto, não fala, mas grita, mas não importa, porque se não fizessem e cumprimentassem teria que perguntar o que está acontecendo?”, disse.

Seu olhar para a América do Sul é de velha data. Seguiu o processo de transformação que Salvador Allende implantou no Chile com a União Popular e que coincidiu com a União de Esquerda da França. “Quando se deu o golpe contra Allende, a esquerda francesa chorou dias inteiros. Foi uma experiência para nós, eu era muito jovem e mudou meu olhar e o de muitos”

Hoje qualifica a relação entre América Latina e Europa como “muito ruim”, acredita que as elites europeias tem pontos de vista muito pobres sobre esta região. “São incapazes de pensar. A União Europeia é muito superior ao Estados Unidos. Quando a União Europeia vem aqui, não trata com o Mercosul, mas com cada um dos países, desloca, fracassa. Tem que reconstruir tudo, hoje em dia tudo está do ponto zero”.

Mas ele se sustentou de aspectos da Argentina, Uruguai, Equador e Venezuela, estudou os anos do neoliberalismo férreo na América Latina e viu como surgiu o chavismo como “uma experiência positiva do retorno das massas na ação e no cenário político”, depois da queda do campo socialista.

“Na Venezuela, ganharam em 12 eleições sobre 13, temos ganhado e o que fazemos é de acordo com o povo, isso acaba com a cruz do socialismo autoritário, que foi o peso mais terrível que sofremos. Além disso, perdemos uma vez e temos respeitado os resultados, isto é uma prova de que somos nós, os democratas, porque quando se perde, se respeita a voz do povo. Somos herdeiros do processo venezuelano”, destacou.

Explicou que o segundo ponto importante do processo democrático na Venezuela é o papel singular dos pobres. “Aqui os pobres são os atores principais. São os pobres que saem para procurar Chávez, para tirá-lo da prisão. Este ato anunciou um importante papel politico dos pobres”.

Destacou que os pobres não são um “aspecto folclórico da América do Sul” e revelou que a quantidade de pobres na França sobe para os 8 milhões. Portanto pergunta-se “como é possível que não falem dos pobres, nem de seu papel, nem do que são capazes de fazer” e em seu programa de governo estava comtemplado no fim da precariedade.

Ser muito pragmáticos é uma das bandeiras do Mélenchon e isso também se identifica com a Venezuela, embora esclareça que a ideia não é copiar modelos, porque cada país tem seus particulare. Diz que um processo revolucionário não pode ficar na teoria e na doutrina. “ Se as pessoas não tem casas, se constroem habitações”, expressou.

Concebe o processo revolucionário como um processo concreto “Não fazemos a revolução por ideologia, a fazemos para resolver problemas”, aponta, e ilustra com o exemplo “Enquanto a socialdemocracia para cobrir a falta de professores propõe nomear uma comissão para tratar solucionar o problema, a esquerda gera a designação de professores e estabelece o orçamento para pagá-los”

Esclarece que para dar passos a frente para o socialismo e delimitar os bens comuns é necessário romper com o capitalismo. “A esquerda francesa tem uma tradição muito profunda de ruptura com o capitalismo: a Revolução Francesa, os Direitos Humanos, a Comuna de Paris. O que não está conforme esta história é a socialdemocracia atual, não tem nada a ver com isso, porque não propõe nem ruptura, nem mudança profunda, nem se refere a emancipação da sociedade, nem do ser humano”

Fonte: AVN