EUA: Charlie Sheen e outros náufragos no mar da crise

O ator norte-americano, Charlie Sheen, que protagonizou na TV a série “Two and a half men” na pele de um personagem abaixo de qualquer escrúpulo, mulherengo e alcoólatra, acabou sendo “assassinado” na ficção pelos roteiristas, mas na vida real segue no mesmo papel.

Por Christiane Marcondes, do Portal Vermelho*

Depois de escandalizar o mundo com seus problemas com mulheres e bebidas, Sheen agora banca o bom menino doando, segundo declarou à imprensa, US$ 1 milhão para as tropas americanas. O valor destina-se à USO (United Service Organization) e representa a maior contribuição individual já feita à entidade, atesta o site TMZ.

Em pleno cenário de crise e desemprego, de movimentos históricos e de grandes proporções, como o Ocupar Wall Street, Sheen reafirma o imperialismo, investindo na tropa que patrocina a violência e morte em países de todo o mundo.

Contrariamente, os civis se enfileiram entre os 99% mobilizados contra a elite econômica, e o próprio exército estadunidense, representado pelos veteranos de guerra, também se insurge contra a bárbarie que vitima estrangeiros e compatriotas.

Em maio de 2012, veteranos das guerras no Iraque e no Afeganistão lideraram uma marcha com a participação da coalizão contra a guerra da Otan e devolveram suas medalhas de honra ao mérito, obtidas durante o serviço militar. Também denunciaram os 11 anos de violência injustificável no Afeganistão.

Vietnã, Iraque, Síria, Afeganistão… Quando, finalmente, os estrondos da artilharia estadunidense em solo estrangeiro vão despertar a consciência de cidadãos que ainda iludem e se iludem como Sheen?

Na imaginação “singela” ou cínica do ator e dos que pensam como ele nos EUA, os militares “colocam as vidas deles em perigo todos os dias”, por isso, declara: “Estou feliz que meu trabalho possa trazer um pouco de alívio para as tropas e para as suas famílias."

Com discurso bem diferente, os ex-combatentes, organizados em conselhos e comitês por todo o país imperialista, denunciam: “Fomos condecorados com estas medalhas pelo serviço prestado na guerra global contra o terror, uma guerra baseada em mentiras e políticas falhas”. E pedem à população: “Junte-se a nós para enviarmos uma mensagem aos generais da Otan”.

A mensagem é curta e clara: “Os veteranos dos Estados Unidos da América dizem não à guerra sem fim que destrói centenas de milhares de vidas e a própria humanidade em todos os países envolvidos, além de desviar trilhões de dólares do destino que deveriam ter, provendo nossas comunidades, manutenção das escolas, clínicas, bibliotecas e outros investimentos públicos”.

A página “marcha contra a Otan” (Nato march Facebook, em inglês), no Facebook, é um dos estandartes desta luta dos militares estadunidenses contra a guerra, nova trincheira onde enfrentam perigo de vida tão real quanto enfrentaram nos campos de batalha da vida. Aaron Hughes, um dos líderes do movimento, conta que o diretor-geral da Guarda Nacional para operações domésticas já se manifestou publicamente contra os manifestantes, dizendo-se “preparado para lançar as tropas da Guarda Nacional contra a manifestação pacífica de oposição à Otan”.

*Com informações de Aaron Hughes, do IVAW (Iraq Veterans Against The War)