Abismo social e de renda separa o DF do Entorno

Uma divisa é uma linha imaginária. No Brasil, quase sempre separa espaços irmãos e dependentes, diferentes apenas pela região a qual pertencem. Infelizmente, não é essa a realidade das fronteiras entre o Distrito Federal e o Entorno. Em alguns casos, ultrapassar o DF implica um encontro com contrastes imediatos. Às vezes, inacreditáveis.

Um condomínio de luxo do DF resvala em um dos bairros mais pobres da Cidade Ocidental. Do lado goiano da BR-080, a poucos metros de Brazlândia, uma cidade de Padre Bernardo recebe os moradores com lixo na entrada e esgoto a céu aberto. Exemplos de como um risco cartográfico invisível se torna um fosso, um paredão entre dois mundos.

Os números dizem muito sobre a realidade dentro e fora do DF. Apontam o descompasso entre a evolução da renda, da economia e das condições sociais. Mostram, por exemplo, que a diferença de riqueza — Produto Interno Bruto per capita — nos domínios de Brasília e sua região metropolitana saltou de 607,2% para 802,1% entre 1999 e 2009.

Entretanto, sozinha, a estatística é incapaz de traduzir a complexidade do disparate entre as regiões administrativas e os municípios goianos que circundam Brasília. É no relato dos habitantes das cidades do Entorno que se p ercebe as lacunas de infraestrutura.

Pode ser uma coisa simples, como iluminação pública, a exemplo do que ocorre em Vendinha, uma antiga zona rural agora em processo de parcelamento urbano de Padre Bernardo. “Aqui é assim: tem luz em um poste, e em cinco, não”, conta o motorista Odair Batista, 39 anos.

Ou pode ser um problema que afeta diretamente a saúde dos moradores. A Vendinha recebe raras visitas de caminhões de lixo, que precisam rodar mais de 50km entre a sede do município e o vilarejo. Por isso, sacolas de dejetos e descartáveis se espalham pela cidade desde a entrada.