Chacina da Lapa foi resultado da violenta repressão em São Paulo

A Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog recebeu nesta quinta-feira, 2 de agosto, Aldo Arantes e Vladimir Pomar, sobreviventes da Chacina da Lapa, episódio ocorrido em 1976 que resultou no bárbaro assassinato dos dirigentes do PCdoB Pedro Pomar, Angelo Arroyo e João Batista Drummond.

Comissão municipal da verdade Vladimir Herzog - Fernando Garcia

“A Oban começou aqui. A máquina repressiva mais violenta da ditadura começou em São Paulo”, declarou Aldo Arantes, da direção nacional do PCdoB. Para Vladimir Pomar é a primeira vez que o povo brasileiro vê a própria história contada em detalhes.

Vladimir também afirmou que a questão é estruturante. Ele contou que quando estavam presos no presídio do Hipódromo protestavam contra as torturas sofridas por presos comuns, o que parecia ser rotineiro.

O vereador Jamil Murad (PCdoB), autor do requerimento que solicitou a sessão sobre a Chacina, disse que a comissão cumpre um papel de profundidade e de transformação. “Não que outras questões não sejam importantes mas o avanço social vem com a liberdade para o povo”, destacou.

Filiado ao PCdoB em 1961, Jamil citou Dom Paulo Evaristo Arns como um esteio moral que ajudou a “desmantelar a ditadura”. Integrantes da comissão agendarão uma visita a Dom Paulo para prestar homenagem.

Segundo Jamil, a intenção da ditadura era aniquiliar os dirigentes do PCdoB e a reunião na Lapa foi uma oportunidade. “Existem depoimentos lá atrás que revelam que João Amazonas era um dos alvos da invasão. Seria eliminado como foram barbaramente aniquilados Pomar, Arroyo e Drummond”, revelou Jamil.

O vereador falou também dos comunistas Carlos Danielli e Antonio Guilherme Ribas,também assassinados pela ditadura. Danielli foi sepultado como indigente no cemitério de Perus. Ribas, assassinado no Araguaia, nunca teve o corpo encontrado.

“A comissão trabalhar para contribuir para consolidar uma democracia mais profunda em que o povo participe de maneira mais efetiva dos destinos do país”, concluiu Jamil.

Dalmo Ribas e Nancy Figueiredo, respectivamente, irmão de Antonio Ribas e sobrinha de Angelo Arroyo estiveram na sessão. Também assistiram a sessão, Nádia Campeão, candidata a vice-prefeita na chapa de Fernando Haddad, e Ana Martins, candidata a vereadora pelo PCdoB.

Pedro Pomar, Angelo e Arroyo e João Batista Drummond foram homenageadas pela militância do PCdoB em uma faixa colocada na sala da sessão que os exaltava como “heróis do povo brasileiro”.

Os depoimentos da sessão serão encaminhados à comissão nacional da Verdade. Também foram aprovados requerimentos do vereador Jamil Murad solicitando os documentos apreendidos na casa invadida por agentes militares por ocasião da chacina da lapa e ainda reportagens publicadas à época sobre o acontecido.

A próxima sessão acontecerá no dia 16 de agosto e ouvirá o advogado Fábio Konder Comparato e Eugênia Gonzaga. Durante a ditadura militar, o advogado denunciou torturas e a violação dos direitos humanos pelos órgãos do Estado. Eugênia é procuradora da república e tem realizado ações no sentido de responsabilização dos culpados pelos crimes ocorridos durante a ditadura militar no Brasil.

De São Paulo, Railídia Carvalho