Fernando Lugo: esquerda do Paraguai jamais esteve tão unida

"O golpe parlamentar mudou totalmente minha vida", reconheceu o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo em entrevista aos meios de comunicação alternativos brasileiros.

Fernando Lugo

“Eu pensava que, terminado meu mandato, em agosto de 2013, poderia entregar o poder e dedicar-me a outras coisas. Agora, porém, mais do que nunca, tenho de ser mais político que bispo.”

Foi com estas palavras que Fernando Lugo admitiu que continuará em atividade política após o impeachment-relâmpago que sofreu no dia 22 de junho. Essa, aliás, é uma das razões que o manterá na capital paulista pelos próximos dias: a outra é dar continuidade ao tratamento contra um câncer linfático que o acometeu em 2010. Na época, o então presidente buscou o Hospital Sírio Libanês e foi considerado tecnicamente curado.

Há um mês longe do Palácio de López, em Assunção, Fernando Lugo hoje em dia se define como um soldado disposto a combater pelo retorno da democracia e do restabelecimento do processo político que se iniciou com sua eleição, em 2008. “Na conjuntura atual, sou simplesmente um articulador pela unidade dentro da esquerda paraguaia”, expressou. “E a esquerda paraguaia nunca esteve em tão bom momento.”

O ex-presidente comemora que a aglomeração de partidos e movimentos sociais que respaldava seu governo, a Frente Guasú, esteja composta atualmente por 12 siglas e oito organizações populares. “Isso nunca tinha ocorrido na história da esquerda paraguaia”, diz, referindo-se ao impulso dado à unidade pelo impeachment-relâmpago. “Sempre disse que o mais difícil é a construção do consenso. Pode ser fácil fechar acordos sobre eixos programáticos, mas, quando se trata de candidaturas, o consenso é mais difícil.”

Eleições

Escolher um nome para encabeçar a Frente Guasú nas próximas eleições, marcadas para abril, é precisamente um dos maiores desafios atuais da esquerda no Paraguai. Isso porque Fernando Lugo dá a entender que não concorrerá novamente à presidência. Primeiro, porque ainda existem enormes discussões jurídicas e constitucionais sobre a legalidade de sua candidatura ao Executivo nacional. Depois, porque setores da Frente Guasú cogitam lançá-lo ao Senado.

O apelo eleitoral de Lugo poderá levar para dentro do parlamento paraguaio representantes dos setores progressistas e, assim, abalar a maioria conservadora que domina o congresso – e que viabilizou sua destituição. “Estamos estudando essa possibilidade e em algumas semanas teremos uma resposta sobre o que pensamos que será mais conveniente para o país”, esclareceu.

"A Constituição não permite que um presidente se reeleja nem que se candidate a qualquer outro cargo após governar por cinco anos, porque se converte automaticamente a senador vitalício", analisou o ex-mandatário. "Mas não governei por cinco anos nem sou senador vitalício. Portanto, tenho via livre para recuperar meus direitos políticos e apresentar minha candidatura".

Sucessores

Essa interpretação constitucional, garante Lugo, é reconhecida pela Corte Suprema de Justiça do Paraguai e de um importante grupo de advogados do país. Na provável ausência do ex-presidente na corrida presidencial, seis nomes despontam como possíveis candidatos da Frente Guasú para o Palácio de López.

Metade deles ocupou cargos no primeiro escalão do governo destituído em 22 de junho: Luís Bareiro Spaini, militar que exerceu como ministro de Defesa de Fernando Lugo; Esperanza Martínez, ex-ministra de Saúde; e Miguel Ángel López Perito, ex-secretário-geral da Presidência.

Também se apresentaram o economista Fernando Camacho, Sixto Pereira, que vem das lutas sociais, e o jornalista Mário Ferrero – cujo nome é bem recebido pelos grupos da Frente, segundo Fernando Lugo. “Primeiro porque não está atrelado a nenhum partido, o que lhe dá certa vantagem. Pode ser uma opção interessante”, admitiu, explicando que o eleitorado paraguaio está bastante desgastado com as siglas e movimentos tradicionais da política paraguaia. “Uma das fortalezas da Frente Guasú é a debilidade dos partidos tradicionais, que estão muito divididos.”

Fonte: Rede Brasil Atual / Correio do Brasil