Bruno Peron: Política do Banco do Sul

O Banco do Sul surgiu oficialmente em 9 de dezembro de 2007 em Buenos Aires durante um encontro entre presidentes sul-americanos. A previsão é de que os países membros contribuam inicialmente com um total de 10 a 20 bilhões de dólares estadunidenses. Ainda se trata de um projeto em construção a despeito da assinatura da ata por estes presidentes.

Por Bruno Peron

Os países seguintes da América do Sul criaram o Banco do Sul, que possui um projeto de expansão para a inclusão de outros países da América Latina: Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai, Bolívia, Equador e Venezuela. Chile, Peru e Colômbia, porém, não pertencem ao Banco do Sul. A sede desta instituição será em Caracas e a sub-sede, na capital argentina.

O Banco do Sul pretende fazer empréstimos para o desenvolvimento social, financiar projetos infraestruturais entre os países integrantes, fomentar a integração econômica regional e operações de ajuda humanitária em casos de desastres naturais. Seus objetivos não impõem condições que contrariem o desenvolvimento autônomo da região ao contrário do que fizeram outros bancos de grande porte, como o de privatizar empresas estatais ou abrir mercados a fim de que se autorizem os empréstimos. Alguns bancos com sede nos EUA condicionaram os empréstimos aos ajustes na estrutura econômica de países da América Latina.

O plano político do Banco do Sul é substituir o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) no financiamento de projetos de desenvolvimento nacional e regional. Embora varie a finalidade deles – por exemplo entre financiamento de projetos de desenvolvimento e estabilização da economia nacional -, um dos argumentos dos criadores do Banco do Sul é de que alguns destes bancos de sede nos EUA interferem na estabilidade econômica e política da América do Sul.

A Europa toma por base o euro e a libra esterlina para as conversões entre seus países. A América considera o dólar estadunidense e o euro, embora nenhuma delas seja moeda oficial de algum país ou bloco sul-americano. É notável que as casas de câmbio na Europa sempre tenham euro disponível em caixa e as da América, dólar estadunidense, enquanto as outras moedas se compram com pedido e agendamento. No entanto, a China propôs, em março de 2009, a substituição do dólar estadunidense por outra moeda no sistema de conversões internacionais. Em março de 2012, os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) propuseram aumentar o crédito em cotação local para projetos de comércio e infraestrutura. Cogita-se, entrementes, a criação de uma moeda comum sul-americana que sirva de reserva monetária ou para o comércio regional, cujos nomes sugeridos são peso-real, peso americano, latino, colombo, etc. Não será necessário que os países sul-americanos substituam suas moedas nacionais, mas prescindirão da referência ao dólar, o euro ou a libra.

Economistas preveem que o Banco do Sul terá dificuldade de oferecer taxas baixas de juros em seus empréstimos em níveis similares aos dos bancos sediados na América do Norte e na Europa. A decisão sobre quem deve ser o credor do dinheiro deve passar pela economia de mercado e a competitividade, segundo este argumento, para que se avaliem os riscos. Entretanto, a proposta do Banco do Sul é a de pensar como bloco e não individualmente desde cada país. Portanto, a realização de grandes projetos políticos alternativos em nossa região não passa necessariamente pela proposta do mercado livre e da concorrência.

Há os que defendem que o Banco do Sul é uma estratégia meramente política de conseguir apoio ao projeto de 'socialismo do século 21I' de Hugo Chávez na Venezuela ou mais um passo autonômico de Cristina Fernández na Argentina, como a briga pelas ilhas Malvinas. Os mesmos críticos poderão também tomar em conta que muitos observadores internacionais têm vindo aprender um pouco conosco, enquanto seus países do Norte estão imersos numa crise de modelo de desenvolvimento e numa crise humanitária que os criadores vaidosos das ideologias eurocêntricas e colonizadoras não previram. Ou se esquivaram de assumir as responsabilidades de médio e longo prazo que séculos mais tarde têm batido em suas portas.

A proposta política do Banco do Sul, que brotou no início de 2007 e oficializou-se no fim do mesmo ano, tem amadurecido e oferecido a chance de repensar o desenvolvimento da América Latina sem condicionamentos extrarregionais. A assinatura da ata em Buenos Aires simboliza algo mais importante que o valor inicial das contribuições e dos empréstimos na medida em que ensaia a valorização do caminho próprio na integração regional.

*Bacharel em Relações Internacionais (Unesp) e mestre em Estudos Latino-americanos (Unam-México). Colaborador do Vermelho.