País pobre, Quênia compra cadeiras de R$ 6 mil para Parlamento

Representar os interesses da população tornou-se uma tarefa mais confortável e segura para os parlamentares do Quênia. Nesta terça-feira (7), o prédio do Congresso queniano concluiu uma reforma de dois anos e revelou ao público um plenário equipado com 350 cadeiras de três mil dólares cada (o equivalente a seis mil reais).

Com garantia de 30 anos e material resistente ao fogo, os novos assentos pesam cerca de 50 quilos e foram fabricados por detentos do sistema carcerário queniano. Inicialmente, a proposta era de que uma empresa estrangeira se encarregasse do processo fabricação. Cada unidade, contudo, acabaria 66% mais cara e o projeto foi alterado.

Responsável pela administração de um país onde mais de 67% da população ganha menos de dois dólares por dia, o governo do presidente Mwai Kibaki argumenta que os 12 milhões de dólares gastos com a reforma “trouxeram o Parlamento queniano para a era digital”. Em entrevista à BBC, o porta-voz Kenneth Marende afirma que, agora, "parlamentares estarão livres e independentes para seguir sua consciência e apenas pressionar um botão”.

O jornal britânico The Telegraph teve acesso ao gerente do Departamento de Manufatura Industrial do Sistema Carcerário do Quênia e questionou seu posicionamento diante dos gastos do governo com os assentos parlamentares. David Langat reconheceu que as cadeiras são “excessivamente caras”, mas argumenta que os números são justificáveis. “Todos os materiais das cadeiras, com exceção das suas formas, foram adquiridos das comunidades locais”, argumenta.

John Mbadi, parlamentar do Comitê de Investimentos Públicos do Quênia, foi quem liderou a oposição às primeiras negociações para a confecção dos assentos. Ele disse à BBC que não consegue entender “como membros do Parlamento conseguem sentar em cadeiras que custam quase 400 mil xelins quenianos” (seis mil reais). “Não importa o padrão de vida, isso poderia comprar uma casa para alguém. Isso foi completamente ridículo”, indigna-se.

Veículos de imprensa locais afirmam que o Parlamento queniano possui agora as cadeiras mais caras de toda a Commonwealth, a comunidade de ex-colônias do Reino Unido. Mais além, parlamentares têm sido alvo de críticas severas da opinião pública, já que aprovaram uma série de reajustes salariais e agora recebem o equivalente a 10 mil dólares por ano (cerca de 20 mil reais).
Atualmente, o Legislativo queniano conta com 220 membros. O novo plenário, contudo, foi preenchido com 350 cadeiras, número de parlamentares previsto no texto da nova Constituição do país.

Fonte: Opera Mundi