Kotscho: modelo de programa eleitoral em SP ainda é o de Duda

Clipes com belas imagens da cidade, declarações de amor a São Paulo, cenas de família, jingles com temas populares, candidato no meio do povo, soluções mágicas para educação, saúde e transporte, os mesmos problemas de sempre apontados pelas pesquisas.

Entra eleição, sai eleição, a propaganda eleitoral na TV em São Paulo ainda segue o modelo implementado por Duda Mendonça nas campanhas de Paulo Maluf nos anos 1990.

Se assistir aos programas de estreia dos principais partidos, meu amigo Duda poderá até pensar em cobrar royalties, tal a semelhança com o que o publicitário baiano, hoje um dos réus do mensalão, colocou no ar um quarto de século atrás.

Duda está fora da campanha deste ano e Maluf, que desistiu de ser candidato, deu seu apoio ao PT de Fernando Haddad, mas o programa que mais se prendeu à velha fórmula foi o do PSDB de José Serra.

O marqueteiro tucano Luiz Gonzalez resgatou a receita de Duda ao mostrar, primeiro, imagens das obras feitas pelo candidato em mandatos anteriores e, em seguida, apresentar novas promessas para encerrar o programa com o inacreditável jingle "eu quero tchu, eu quero tchá, eu quero Serra já".

Apesar de Serra ser o candidato da continuidade, seu principal aliado, o prefeito Gilberto Kassab, sumiu na propaganda, assim como já tinha acontecido com Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 2002.

Para ressaltar a jovialidade de Haddad, em contraste com o adversário tucano, o marqueteiro petista João Santana, fiel discípulo de Duda, colocou seu candidato para fazer uma caminhada acelerada pela cidade falando dos problemas e anunciando soluções como se fosse o protagonista de um comercial de quase oito minutos.

Só no final da propaganda foi introduzida a imagem do padrinho Lula para avalizar a candidatura de Haddad, assim como Maluf fez ao bancar Celso Pitta na sua sucessão.

O modelo Duda só não foi seguido por Celso Russomanno, do PRB, justamente o líder em todas as pesquisas feitas até aqui. Dono do menor tempo de televisão entre os principais candidatos, pouco mais de dois minutos contra quase oito do PT e do PSDB, Russomanno cedeu dois terços do seu tempo ao vice, Luiz Flávio D´Urso, do PTB.

Conhecido por 94% da população, graças à sua longa carreira na TV, Russomanno não achou necessário se apresentar ao distinto público e, depois de agradecer rapidamente aos eleitores pela sua posição nas pesquisas, o candidato entregou o microfone para D´Urso contar uma longa fábula sobre passarinhos. Não entendi.

Numa campanha em que todos falam em mudanças e ideias novas, até os candidatos mais antigos, os programas inaugurais na TV deixaram a originalidade de lado para apostar na repetição de cardápios já conhecidos pelo eleitorado, só que agora produzidos com câmeras de cinema de última geração e mirabolantes recursos de computação gráfica.

Assim, ficou ainda mais chocante o contraste das superproduções de PT e PSDB com as breves participações dos candidatos nanicos que, com seu estilo trash, parecem saídos de outro planeta, repetindo na forma e no conteúdo programas das campanhas anteriores, como se nada tivesse mudado na cidade, no Brasil e no mundo nas últimas décadas.

Curiosidade na pesquisa

Por falar em nanicos, um detalhe da última pesquisa Datafolha, divulgada no começo da semana, chamou a atenção do meu colega Domingos Fraga, diretor do Jornal da Record News.

A curiosidade está na tabela sobre o grau de conhecimento que os eleitores têm dos 12 candidatos. Nada surpreende que José Serra, com 98%, e Celso Russomanno, com 94%, sejam os mais conhecidos, mas não dá para entender o índice registrado por alguns nanicos absolutamente anônimos antes da estreia da propaganda eleitoral.

Quem entre os leitores do Balaio já ouviu falar em Ana Luiza, do PSTU, que seria conhecida, segundo o Datafolha, por 26% dos eleitores? Alguém saberia dizer quem é e o que faz Anaí Caproni, do PCO, com 20% de conhecimento? Ou tem ideia de quem seja Miguel Manso, do PPL, que surge com 18%?

Se não houver algum problema metodológico na compilação dos dados, a única explicação que encontro para o fenômeno é que eleitores envergonhados, a certa altura da pesquisa, chutam conhecer um ou outro só para não mostrar ignorância total sobre o elenco de candidatos.

Fonte: Blog do Ricardo Kotscho