Luciano:  Cresce a sintonia entre a campanha e o povo

 Candidato a vice-prefeito do Recife, na chapa encabeçada pelo socialista Geraldo Julio, Luciano Siqueira (PCdoB) faz um avaliação positiva da campanha eleitoral rumo à PCR. 

Na entrevista abaixo, ele comenta ainda a reação dos petistas ao lançamento de candidatura própria pelos 14 partidos da Frente Popular do Recife e fala sobre as expectativas dos candidatos e da coligação quanto ao resultado da disputa que em outubro próximo vai escolher o futuro governante da Capital de Pernambuco.

Como o senhor avalia a campanha à Prefeitura do Recife até o momento?

Luciano Siqueira – A gente considera que a partir do início do programa eleitoral na televisão e no rádio se iniciou uma nova fase da campanha. E a avaliação que nós temos, no comando da campanha, é de que a primeira fase foi plenamente vitoriosa. E nós dizemos isso colocando três indicadores fundamentais.

Um indicador é o que está nas pesquisas. Nós partimos de 3%, 4% iniciais e em todas as pesquisas, considerando que elas adotam metodologias e aplicam seus questionários em tempos distintos, há uma convergência. O principal concorrente, que é o candidato do PT, cai progressivamente e Geraldo, que iniciou em quarto lugar já aparece empatado em primeiro lugar. Isso significou um crescimento muito mais rápido do que nós imaginávamos. Esse é um indicador.

Outro indicador é o da campanha concreta, seja do sentimento da rua, e eu uso aí a rua no sentido amplo, não só a rua propriamente dita, da caminhada, da atividade com o candidato a vereador, mas também os encontros, os debates, com os diversos segmentos da sociedade, empresariais, do mundo da cultura, religiosos, trabalhadores, jovens. Há uma percepção clara de crescente sintonia entre a mensagem da Frente e as expectativas da população.

E o terceiro indicador é o debate entre os candidatos. Aí há uma distinção clara, que nos permite afirmar que também no terreno do debate de ideias nós estamos vencendo. É certo que nós demos um peso importante à militância pregressa do nosso candidato, Geraldo Julio, porque o grande público não o conhecia, só os setores mais informados que reconheciam nele um militante político e, sobretudo o perfil de um técnico, de um gestor capaz, competente, comprovadamente competente.

Isso se deu na primeira fase da campanha, e ainda se dá nesses primeiros programas de televisão e de rádio muita ênfase a apresentação do candidato, porém isso não chega a ser 30% do nosso discurso. O discurso principal é o discurso do enfrentamento dos problemas da cidade, antigos e atuais, numa perspectiva imediata e de futuro. É um discurso propositivo.

Nisso há uma distinção clara em relação aos demais candidatos, que enfatizam muito o que já foram, o que fizeram, o que seus aliados fizeram e são ainda muito anêmicos na apresentação de propostas concretas para os problemas atuais da cidade. Então, nós pensamos que a primeira fase campanha é vitoriosa, do ponto de vista da nossa campanha.

Quais são as expectativas na atual fase da campanha?


Militância 40 dá o clima de animação às caminhadas e outros eventos da campanha

Luciano – Na fase atual, que tende a ser de aquecimento e ampliação da campanha porque agora com a televisão e o rádio cria-se o clima de campanha na cidade, o eleitor se torna mais atento, acompanha as campanhas, acompanha os debates, as nossas expectativas é de um crescimento mais acelerado. Porque não há sinais de nenhuma dificuldade no âmbito da Frente Popular, ao contrário, é uma Frente ampla, amplíssima, 14 partidos e diversos segmentos não partidários da sociedade, que se conduz em um ambiente de muita paz e de muita convergência de ideias.

Não só as propostas que nós estamos apresentando são consensuais no conjunto da Frente, como também os rumos da campanha. A decisão de fazer uma campanha propositiva, por exemplo, de não cair em provocações de concorrentes e adversários é aceita por unanimidade. Então, quando se tem uma conjugação de forças tão ampla e a despeito disso livre de contradições, desavenças, de dificuldades para forjar e manter a unidade, isso é um grande trunfo.

O outro é que é crescente a militância na campanha. As parcelas da população, que além de votar se motivam, se movimentam, é crescente. E não há sinais visíveis, eu não estou querendo aqui ter uma atitude presunçosa, adotar a soberba, mas não há sinais visíveis de que as condições dos concorrentes e adversários melhorem. Mesmo caso, do candidato do PT, que é um companheiro que nós respeitamos, com o qual guardamos relações políticas e afetivas muito sólidas, que me parece, assim, envolto em uma empreitada que encontra dificuldades dentro de casa. As dificuldades dentro do próprio PT continuam. Quase que diariamente os jornais revelam mais uma desavença, mais uma contradição.

E isso provavelmente está na raiz da opção feita pelo candidato e por sua campanha, de até agora discursar, principalmente, para seu público interno e não para o eleitorado. Essa tese, que não encontra respaldo na realidade, de que a eleição do Recife é um conflito entre Lula e Eduardo não sensibiliza o eleitorado. É uma tentativa de sensibilizar, é um apelo emocional a uma militância que está dividida e desunida.

A tese de que o PT seria vítima de uma suposta traição do PSB e dos demais partidos da Frente Popular sequer chega aos ouvidos do eleitorado. As pessoas não compreendem isso. O que as pessoas compreendem é que tal como na vida cotidiana pessoas estão juntas e às vezes não estão juntas e às vezes grandes amigos, que são amigos de verdade, fazem opções distintas sobre algo na vida que os separam momentaneamente sem colocar em risco a amizade construída ao longo da vida.

A política não é outra coisa senão a face institucional da vida como ela é. Partidos políticos e lideranças políticas maduras, sensatas, calejadas, não podem confundir as coisas. É perfeitamente compreensível que haja discrepâncias e opções diferentes em um episódio eleitoral, local, sem colocar em risco o que nos une em plano nacional e em plano estadual.

A relação do PT, do ex-presidente Lula, da atual presidenta Dilma, sobretudo, com o PSB, com o PCdoB, é muito sólida. Basta conferir o discurso de Lula na sede da direção nacional do PCdoB, em São Paulo, no momento em que o partido praticou um gesto magnânimo ao retirar a candidatura de Netinho de Paula, muito bem situado nas pesquisas, para apoiar o ex-ministro Fernando Haddad.



Com a presença de Lula (dir.) e Netinho (centro), PCdoB anuncia apoio a Fernando Haddad, em junho passado. Foto: André Ross/SpressSP

Na ocasião, Lula fez um retrospecto da relação dele, como militante e como presidente da República, com o PCdoB, ressaltando que o partido nunca faltou a ele, ao PT e ao Governo com a solidariedade ativa nos momentos mais difíceis. O mesmo ele diz do PSB, em relação ao governador Eduardo Campos. Nós estamos no governo Dilma e damos contribuição importante ao êxito do governo. Estamos todos juntos no governo de Eduardo. O Partido dos Trabalhadores ocupa três secretarias de peso, bem como a Empresa de Transporte Intermunicipal. Em nenhum momento se criou a situação de que o PT deveria abandonar o governo. Então, nós temos de encarar a disputa local, do Recife, com a compreensão larga.

O fator da separação do PT e a Frente Popular está no próprio PT. São as contradições internas do PT que tem me levado a dizer em muitas reuniões públicas que nós todos que estamos em torno de Geraldo Julio, nós do PCdoB em particular que temos uma relação com o PT como de amigos-irmãos e nos sentimos como vizinho de amigo-irmão, como alguém que tem um vizinho que é seu amigo-irmão e ao saber que se encontrava em dificuldade foi até a casa do vizinho se apresentar para ajudar e sequer transpôs a porta porque do lado de fora só ouvia os gritos, as agressões mútuas, que permanecem até hoje.

Então, é o PT que se inviabilizou como polo aglutinador das forças da Frente Popular nesta eleição. A despeito de ter escolhido um homem honrado, um militante que tem história, reconhecidamente capaz, que vem sendo um senador destacado na bancada do PT no Senado, mas é candidato constrangido a circunstâncias muito incômodas criadas no interior do seu próprio partido.

Ora, isso é uma tremenda dificuldade e é o que talvez explique esse discurso, volto a dizer, mais dirigido a seu próprio público do que ao eleitorado e marcado por uma espécie de moral, uma conotação supostamente moralista, segundo a qual aqueles que estiveram unidos ontem deverão estar unidos para sempre. Isso não acontece na vida e nem na política.

O discurso do candidato Geraldo Julio é centrado basicamente na apresentação de propostas. É isso que ocorre de fato?

Luciano – Na verdade, o discurso verbalizado por Geraldo é marcadamente propositivo no sentido do programa de governo. E só muito de passagem, de maneira eventual, ele se refere às questões de ordem política. Isso é consciente porque as pesquisas que nós temos, sobretudo, as qualitativas é que colocam a expectativa da população de escolher um prefeito caracterizado como alguém reconhecidamente capaz de realizar e para uma parcela expressiva, segundo as pesquisas, um político novo, ou seja, alguém que não tivesse ainda disputado eleição, sido deputado, vereador, governador ou o que fosse. Isso é muito marcado. Então, isso é consciente.

Além do que nós optamos também por não fazer nada que seja artificial ou, em outras palavras, tudo há de ser muito natural, com a compreensão de que o que não sair naturalmente não convence. E é compreensível que Geraldo embora tenha militância política, mas nunca entrou em embates eleitorais, prefira mesmo que subjetivamente concentrar o seu discurso naquilo que é sua especialidade, fazer o governo acontecer, sobretudo, quanto ele percebe que há muita aderência, muita receptividade da população.


Luciano e Geraldo, apresentação de propostas e debate de ideias

Isso, contudo, não quer dizer que a campanha não tenha um discurso político. Essa tarefa, em geral, é reservada ao candidato a vice-prefeito. Nos eventos todos, nas reuniões, nos debates, ao final das caminhadas, sempre nós falamos, eu e ele. Há uma divisão de tarefas, eu me refiro às questões de ordem política, caracterizo a nossa aliança e a candidatura de Geraldo como integrantes das forças que apoiam Dilma, que estão com Eduardo, justifico a compreensão de que Geraldo prefeito terá dificuldade zero no relacionamento com Dilma, ao contrário. Ela que é política, pois como presidenta é obrigada a fazer política, mas é principalmente uma pessoa que prima pela eficiência vai encontrar em Geraldo um parceiro que tem essa mesma característica.

Também o governador, as aparições que ele tem feito na campanha, que até agora tem sido em atos, em recintos fechados, ele também marca o discurso com um conteúdo político. Na medida em que a campanha vá exigindo, Geraldo fará também o discurso, digamos assim, mais propriamente político. Não que o discurso com as propostas de governo não seja político, mas é mais nesse sentido do debate político. Naturalmente isso vai fluir com ele, porém, de maneira limitada porque o papel dele na campanha será, sobretudo, apresentar as propostas de governo, porque nós queremos passar a ideia, que é verídica, de um novo prefeito, de outro tipo de governo no Recife, com uma nova abordagem dos problemas.

E ele tem de traduzir isso apresentando propostas que sejam inovadoras e ao mesmo tempo sejam consistentes e viáveis, factíveis. Por isso, quando nós apresentamos a proposta para a Educação, Saúde, Segurança Pública, para as mulheres, e vai apresentar agora propostas para outros setores cruciais da cidade, nós acrescentamos os custos e as fontes de recursos. Nós não temos apresentado nada que não tenha sido orçado, para não assumirmos compromissos que não sejam viáveis, que não possam ser cumpridos.

Isso vai aparecer em algum momento de maneira muito clara na televisão também porque o discurso de campanha é uma construção permanente. Quando ele vai para o vídeo e para o rádio nós não podemos cair na ansiedade de dizer tudo de uma vez, tudo tem de ser ao seu tempo, mas isso nós pretendemos deixar claro. Tanto é que nos panfletos tem os números e quando nós falamos para a população, no bairro, no ambiente empresarial o próprio Geraldo diz “isso vai custar tanto. As fontes são, no governo federal, programas tal, tal, no governo do Estado, Tesouro Municipal”, a parte de cada um. A campanha tem sido assim, o que, quando, onde, como, quanto custa e em que tempo pode ser feito.

E as expectativas da campanha para o futuro próximo?

Luciano – Se o cenário da disputa continuar se desenvolvendo dentro desse padrão que eu sintetizei é muito possível que a gente chegue ao final do primeiro turno em primeiro lugar. E a depender do desempenho das demais candidaturas, se tem duas hipóteses óbvias: a de vencer no primeiro turno ou de vencer no segundo turno. As duas últimas eleições no Recife se resolveram no primeiro turno. A reeleição de João Paulo e a eleição de João da Costa, apesar do número variado de candidaturas e apesar de uma disputa muito próxima, João da Costa derrotou Mendonça Filho e nós ganhamos no primeiro turno com um percentual pequeno, uma diferença pequena, mas resolvemos no primeiro turno.

Então, é essa a expectativa. O clima é de entusiasmo, de muita animação, mas também de muita serenidade. Há muita atenção para com o rumo da campanha, para não arrefecer a mobilização, pelo contrário, aumentar a mobilização das pessoas e não cometer erros.

E nessa questão de não cometer erros há a firme determinação de não cair em provocações. Uma coisa é rebater a crítica política que nos pareça incorreta, mas outra coisa é baixar o nível do debate, caindo em provocações. Isso, a campanha não fará.


Fonte Site de Luciano Siqueira