8º Congresso da Contee discute Educação e Desenvolvimento

“Vivemos um cenário retrógrado de fortalecimento dos interesses do capital, em particular do capital financeiro e de retirada dos direitos dos trabalhadores”. Esse foi o tom dado por Madalena Guasco Peixoto, da coordenadora-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), durante fala de abertura do 8º Congresso da Contee.

Joanne Mota, do Portal Vermelho em São Paulo

Ao som do Hino Nacional, o evento, que começou nesta sexta (31) e vai até domingo (2), em São Paulo, reúne cerca de 700 delegados, que discutirão a eleição de uma nova diretoria, educação privada, conjuntura nacional e internacional, organização sindical e questões internas como reformulação estatutária, organização e estrutura e balanço da gestão atual.

A mesa de abertura foi composta por Madalena Guasco Peixoto, Coordenadora Geral da Contee; Carlos Ramiro Castro, assessor do Ministério da Educação; Wellington Gomes, vice-presidente da Confederação de Educadores Americanos (CEA); Antonio Lisboa Vale, secretário de Finanças da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE); Eduardo Oliveira, presidente do Proifes-Federação; Comberty Rodrigues, coordenador Regional da Internacional da Educação para América Latina (IEAL); Quintino Severo, secretário de Administração e Finanças da Central Única dos Trabalhadores (CUT); Wagner Gomes, Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB); Manoel Messias Melo, Secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); Daniel Cara, Coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação; Artur Costa Neto, vice-presidente da União dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME); e Celso Napolitano, Presidente do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Em entrevista ao Portal Vermelho, Madalena Guasco reafirmou a importância de se entender a conjuntura nacional e o avanço do capital, além disso destacou que a educação é um dos caminhos para a superação destas questões.

“Sendo a Contee uma entidade que congrega educadores, o Congresso tem como objetivo principal entender a conjuntura nacional e internacional e refletir como a educação está inserida nesse processo. Visto que, lutamos por uma educação de qualidade, pública e universal e que esteja alinhada ao projeto de desenvolvimento do país”, destacou a dirigente.

Educação como prioridade

Madalena Guasco, que é candidata a reeleição da entidade, refletiu também sobre o projeto de desenvolvimento que a sociedade e a Contee quer para o país. “Não queremos qualquer projeto de desenvolvimento. Queremos um desenvolvimento democrático, com distribuição de renda e que valorize o trabalhador. E para que esse desenvolvimento torne-se real, ele necessita de uma educação de qualidade. Ou seja, quando em desenvolvimento, falamos em fortalecimento da indústria, em qualificação da mão-de-obra brasileira, em formar cientistas, formar as novas lideranças, novos profissionais que sejam capazes de coordenar esse desenvolvimento”, explicou.

Segundo ela, “a educação tem sido deixada de lado, ela não é prioridade. Então, se fala em projeto de desenvolvimento nacional, mas não se coloca a educação como prioridade e isso é uma contradição”, afirmou.

Educação como direito

Ainda durante a entrevista, a coordenadora-geral da Contee falou sobre a implantação do projeto neoliberal que colocou a educação não como um direito, mas sim como serviço.

“O projeto neoliberal foi implantado, e colocou a educação no patamar de um serviço e não como um direito, a partir daí ela sofre um processo de sucateamento, com a desvalorização dos profissionais de educação, a desvalorização do saber, a desvalorização da escola pública como instituição fundamental. Assim, a crise que a educação brasileira vive, foi e é uma crise construída, a partir destes problemas. É claro que esse projeto neoliberal não está avançando, porém as mazelas desse projeto ainda não estão resolvidas”, externou Madalena.

Reforço na luta

Carlos Ramiro Castro, assessor do Ministério da Educação, lembrou que a luta por uma educação de qualidade é antiga. “Quem não se lembra do processo de mercantilização que o setor da educação viveu no auge dos governos neoliberal”. Do mesmo modo, Comberty Rodrigues, coordenador Regional da Internacional da Educação para América Latina (IEAL), rememorou que a luta pela educação passa pela luta contra os governos opressores e capitalistas. “A América Latina vive um cenário muito favorável e precisamos aproveitar esta conjuntura para colocar a educação no centro do debate. Avançamos, mas ainda estamos longe do nosso objetivo”, afirmou.

Durante sua fala, Manoel Messias Melo, Secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), informou que o MTE está ciente dos desafios que o setor da educação tem, bem como sabe que não haverá desenvolvimento com inclusão e geração de renda, se não houver uma educação de qualidade. 

Para Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), pensar em educação de qualidade e desenvolvimento do país significa pensar em mudança na política macroeconômica.

“Para podermos investir em educação, precisamos ter uma política econômica que tenha essa ideia como foco. E na avaliação da CTB a política macroeconômica brasileira não possui, nem de longe, esse foco”, salientou.

Além disso, ele frisa que “quando a sociedade tem acesso à cultura e a educação, ela torna-se uma sociedade livre ciente de seus deveres e dos seus direitos, uma sociedade mais crítica, e que consequentemente, contribuirá ainda mais para as mudanças do país”.

Conjuntura Nacional e Internacional

Após a mesa de abertura teve início a exposição do professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ladislau Dowbor, sobre conjuntura nacional e internacional.

Em sua exposição, Dowbor falou que o mundo está de olho no Brasil, não só por conta de suas riquezas naturais, mas para ampliar suas posses territoriais. “Isso é uma guerra planetária em busca do poder e dos recursos do globo. E para defender seus interesses eles [donos do capital] não medirão esforços”, alertou.

Segundo ele, o sistema de mercado é selvagem, leva os menores para o buraco. E está criando um cenário para uma conjuntura de fome no planeta. Dowbor também afirmou que a sociedade possui uma imensa fragilidade no interior desse processo. “Há hoje uma impotência institucional dos problemas globais por parte da sociedade, que gera a grande ameaça que temos pela frente. Hoje, o consumo é maior, mas também a exploração é maior. O que vale hoje é a cultura do eu, na qual o individualismo toca e os homens dançam. E como organizar o uso do nosso planeta?”, problematizou o pesquisador.

Dowbor ainda ressaltou que a tomada da política pelos interesses econômicos é uma tendência mundial. “Precisamos de um Plano B, pois o plano A, o atual não serve. A desigualdade é uma tragédia, e no caso Brasil é problema. E lembrou que cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome hoje no mundo, destes 180 milhões são crianças. E como reverter isso? Somos profissionais do conhecimento, precisamos pegar a rédea da história, mas, já aviso, a luta será desigual”, finalizou o pesquisador.