PIB de 2% em 2012, crise mundial e timidez oficial

O PIB de 2% reflete queda no ritmo de crescimento da indústria, os efeitos da crise econômica nos países ricos e, também, a demora do governo em tomar medidas anticrise no primeiro semestre.

Por José Carlos Ruy

Mantega: Não há reajuste de combustível no horizonte - Agência Brasil

O rebaixamento na previsão de crescimento do PIB este ano, de 3% para 2%, anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta quinta-feira (13) reflete a conjuntura mundial desfavorável devido à crise econômica mas também uma certa timidez no governo brasileiro em tomar medidas anticrise, que demoraram a aparecer no primeiro semestre do ano. O governo foi tímido e a adoção de medidas contra aquilo que os analistas chamavam de “desindustrialização” em curso demorou, sendo adotadas apenas a partir do mês de maio.

Neste sentido, o ministro Mantega tem razão quando atribui a redução da estimativa ao desempenho da economia no primeiro semestre, cuja mediocridade correspondeu à atitude tímida do governo. Nesta quinta-feira, ao anunciar a nova estimativa para o PIB, entretanto, o ministro foi otimista e garantiu que "o segundo semestre vai ser bem melhor, mas o primeiro semestre puxa a média para baixo", disse. Isto é, de certa forma reconhece que as críticas feitas desde o início do ano sobre a timidez do governo tinham fundamento.

Mantega manifestou também a certeza de que o Produto Interno Bruto (PIB) voltará a padrões mais altos de crescimento em 2013. Ele assegura que "a economia brasileira crescerá acima de 4%. São análises do FMI e de vários analistas. Aliás, já temos tido várias notícias que mostram que o crescimento já está retomando no país", disse.

Comércio e emprego

Mantega comentou também o resultado da Pesquisa Mensal de Emprego (PMC) de julho, que registrou aumento de 1,4% na margem. "Isso é bastante coisa. Mostra que o comércio está crescendo de forma substantiva", avaliou. Segundo ele, o setor já tinha crescido em junho, o que, anualizado, significa um crescimento de 8,8% para 2012. "Temos mercado que continua crescendo, temos pleno emprego, e mais todas essas medidas para impulsionar o crescimento do país", pontuou.

A estimativa feita pelo Ministério da Fazenda é menor do que a do Banco Central (para quem o país vai crescer 2,5%), mas mais otimista do que os analistas financeiros, que preveem um crescimento muito menor, de 1,6%. Economistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo acreditam que, embora crescendo menos de 2% nos terceiro e quarto trimestres de 2012, a economia brasileira poderá encerrar o ano no ritmo de 4% a 5,3%, anualizados. E o ministro Mantega acredita que essa velocidade mais acelerada – “bem maior” – que o PIB poderá alcançar no fim do ano (ele fala em 4%) será mantida em 2013.

A previsão de um crescimento menor no PIB em 2012 mostra que a economia não reflete ainda as medidas de estímulo econômico adotadas desde o mês de maio pelo governo, como a redução do IPI para a linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar) e para os automóveis. Nem a redução do IOF para empréstimos das pessoas físicas, as novas desonerações da folha de pagamentos, a liberação de mais de R$ 60 bilhões em depósitos compulsórios para os bancos, nem a redução da taxa básica de juros iniciada em agosto de 2011. Era então de 12,75% ao ano, e baixou para os atuais 7,5% ao ano – os menores da história.

Outras medidas de estímulo incluem a liberação, neste ano, de R$ 20 bilhões em crédito para os estados e um programa governamental de compras de R$ 8,4 bilhões. Há economistas que citam também entre as medidas de estímulo a redução de 5% para 2,5%, na taxa de juros de máquinas adquiridas pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que o governo acaba de anunciar.

A desaceleração do PIB reflete, principalmente, o baixo crescimento da indústria que, sob forte concorrência das importações, teve desempenho lento no primeiro semestre. Entretanto, há economistas que diagnosticam a retomada industrial no terceiro trimestre. O economista-chefe do banco de investimentos WestLB, Luciano Rostagno, vê uma melhora da indústria no terceiro trimestre. E cita, em apoio a esta opinião, os dados que o IBGE acaba de divulgar mostrando o crescimento nas vendas de papelão ondulado, um indicador visto como importante pois é matéria-prima para embalagens e seu crescimento antecipa o de vários outros setores industriais. Em sua opinião o PIB alcançará taxas anualizadas superiores a 5% no final do ano.

Crise mundial

A desaceleração em 2012 reflete a crise financeira internacional, que impacta todas as economias do planeta. O relatório "Comércio e Desenvolvimento 2012", da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), estima que a trajetória para baixo, que levou o PIB mundial dos 4,1% em 2010 para os 2,7% de 2011, continuará este ano, levando a um crescimento de apenas 2,3% no conjunto do planeta.

O problema é a crise profunda dos países capitalistas centrais – EUA, União Europeia e Japão – e sua incapacidade "para retornar ao ritmo de crescimento normal, mas há também o problema igualmente sério de contágio", ressaltou a Unctad. Apesar da melhora moderada no PIB dos EUA e mesmo do Japão, a previsão de crescimento conjunto do PIB nas economias desenvolvidas ficará em torno de 1% em 2012, afundadas pela recessão que atinge a União Europeia (UE). Ao contrário delas, quem puxará o crescimento mundial serão as chamadas economias em desenvolvimento (incluindo por exemplo China e Índia), cujo desempenho será mais forte, em torno de 4% e 5% em 2012.

É uma tendência que vem se afirmando nos últimos anos. Entre 2006 e 2012, 74% do crescimento do PIB mundial foram gerados nos países em desenvolvimento e somente 22% nos países desenvolvidos. A Unctad prevê que a economia da China terá alta de 7,9% em 2012, desacelerando em relação ao crescimento de 9,2% de 2011. A Índia terá um crescimento de 6%, contra 7% do ano anterior. Na América Latina, a expansão econômica foi de 4,3% em 2011 e, este ano, estima-se que cairá para 3,4% em 2012, de 4,3% – mesmo assim bem acima da média dos países desenvolvidos.

Outro dado divulgado pela Unctad, com reflexos fortes na economia brasileira, é o recuo no crescimento do comércio mundial; para este ano a previsão é de 3,5%, bem abaixo dos 5,5% em 2011 e apenas um quarto do que foi em 2010, quando alcançou 14%. São taxas muito inferiores à média de crescimento do comércio mundial vivida antes da crise econômica, entre 2003 e 2007.

Redirecionar a política macroeconômica

Uma notícia positiva neste cenário é a disposição de redirecionar a política macroeconômica manifestada pela presidenta Dilma Rousseff durante a audiência que manteve, na quarta-feira (12), com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e a líder da bancada comunista na Câmara dos Deputados, Luciana Santos.

Esta rotação, que o governo vem empreendendo, consiste em continuar perseguindo a baixa nos juros, o equilíbrio do câmbio (fundamental para defender a produção brasileira da concorrência externa) e a busca da redução dos custos industriais de produção. A redução nos juros, por exemplo, é fundamental para romper a lógica da especulação financeira e reorientar os investimentos para a produção.

Com agências