Camila Vallejo cogita concorrer em eleições chilenas de 2013

Em entrevista à agência de notícias IPS, a estudante Camila Vallejo faz um balanço do movimento chileno e conta quais são seus planos para os próximos anos. Depois de protagonizar o movimento estudantil em 2011, como presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech), agora, em segundo plano na entidade, se prepara para se formar em Geografia e pensa em contribuir de alguma maneira com busca de um outro Chile possível, mesmo que seja em um cargo público no parlamento.


Camila Vallejo / Foto: Christián Zúñiga, El Mercurio

Para ela, é fundamental que os jovens assumam um papel ativo na política, especialmente diante de um processo eleitoral com duas instâncias importantes, as eleições municipais em outubro e as legislativa e presidencial em 2013. Vallejo é o rosto mais carismático e midiático do movimento social deste país. Desde a presidência da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECH), foi parte fundamental do movimento de alunos universitários e secundários que em 2011 impulsionou os maiores protestos sociais registrados desde a recuperação da democracia, em 1990.

IPS: Os jovens marcaram a agenda política no Chile em 2011. Acredita que é importante assumirem um papel a partir da representação popular?
Camila Vallejo: É fundamental. Por isso vejo com bons olhos a candidatura (pelo Partido Comunista) de Camilo Ballesteros (25 anos) para prefeito da comunidade Estación Central. Foi um excelente líder e será um excelente governante. Além disso, a Universidade Santiago do Chile, na qual Camilo presidiu a Federação de Estudantes, fica no coração da comunidade, e estou certa de que terá uma grande capacidade de passar todo valor agregado que significa ter em seu espaço um centro educacional tão importante, algo que as gestões de direita até agora nunca conseguiram.

IPS: Está disposta a assumir um papel dessa natureza, por exemplo, no parlamento?
CV: Já disse à imprensa nacional que sim, estou disposta, mas que isso está muito longe de ser um objetivo em si mesmo. A meta é que o país se democratize, que acabemos com a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet e que uma assembleia constituinte funde uma nova carta magna. Que acabemos com o sistema eleitoral binominal (dois legisladores mais votados por distrito), que nacionalizemos nossos recursos naturais, que tenhamos educação pública gratuita e de qualidade e direitos sociais. Esses são os objetivos e quero contribuir com isso no lugar onde for preciso.

IPS: Alguns estudantes defendem o boicote às eleições municipais. O que diz a respeito?
CV: É um erro. A Assembleia Coordenadora de Estudantes Secundários, ao propor o boicote, aponta para uma profecia autocumprida de uma derrota, pois as eleições acontecerão de qualquer maneira. Talvez consigam apenas que alguns jovens não votem, o que, por sua vez, constitui um retrocesso para a influência que o movimento estudantil precisa conquistar na esfera institucional.

IPS: Concorda com aqueles que dizem que o movimento estudantil se desgastou ou que há cansaço porque os objetivos não são atingidos?
CV: O movimento estudantil teve no primeiro semestre (deste ano) um modo de atuar errado que acabou isolando-o de outros atores sociais. Foram feitos os processos de discussão, crítica e autocrítica, e no dia 28 (de agosto) tivemos uma grande convocação, que demonstrou força, foi de massa. A família chilena voltou a sair às ruas. Sobre o que fazer para evitar um desgaste, é preciso resguardar a unidade com amplos setores sociais.

IPS: O que é ser comunista atualmente, em meio a um movimento social que parece se sentir alheio aos partidos e à ação política tradicional?
CV: Não compartilho dessa visão sobre o movimento social chileno. Além disso, não sou uma comunista inserida em um movimento social alheio a mim. Sou parte dele, bem como todos os meus companheiros das Juventudes Comunistas e do Partido Comunista. Integramos este movimento desde todas as partes. Por outro lado, em cada fábrica, empresa, sindicato, associação de moradores ou mesmo no parlamento do Chile, em cada lugar onde há um comunista se luta para que este movimento social triunfe.

IPS: Acredita que hoje existe um modelo político diferente em outros países? Para muitos, o lema é “outro mundo é possível”, mas como se configura esse postulado?
CV: A experiência de cada país é particular, e não é bom andar replicando modelos. Os neoliberais levam anos tentando replicar “o sonho americano” (pelos Estados Unidos) na América Latina, o que trouxe pobreza, desigualdade, falta de educação, miséria. Contudo, de todas as experiências há algo de bom a aprender. Outro mundo é possível na medida em que cada sociedade consiga seu caminho próprio para uma democracia maior e conquistas de direitos sociais, como educação e saúde gratuita, moradia digna e uma vida harmoniosa com o meio ambiente.

IPS: Em função da liderança estudantil sua figura ultrapassou as fronteiras do Chile e, por isso, pôde constatar a situação na América Latina. Como vê os diferentes processos de mudança?
CV: Creio que a situação geral na região é bastante positiva. Governos progressistas conseguiram avançar em maior integração econômica, social e política por meio de espaços como a União de Nações Sul-Americanas, o Mercosul ou a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. O Chile, embora se some a estes espaços, vai na contramão da maioria dos países da América do Sul, com um governo populista de direita.

Fonte: Envolverde/IPS