Seminário debate os desafios nas relações entre Brasil e China

O último painel de debates do Seminário de Política Externa Brasileira, realizado esta semana em Brasília, discutiu as relações do Brasil com a segunda maior economia do planeta, a República Popular da China. A presença chinesa no protagonismo econômico planetário trouxe novos desafios ao sistema financeiro internacional.

“Todo mundo sabe que a China cresceu de maneira fantástica nos últimos 40 anos. Esse país deu início a um processo de industrialização que revolucionou o mundo. É um êxito que não tem paralelo na história, nem mesmo o Japão fez algo parecido”, afirmou o embaixador Affonso Celso Ouro Preto.

Segundo Elias Jabbour, especialista em China, o país pratica uma espécie de mercantilismo moderno, com altas taxas de investimento, câmbio indutor de exportações e planejamento de comércio exterior, com foco na transferência de tecnologia.

Para Jabbour, embora Brasil e China pertençam aos chamados países emergentes que compõem o Brics, a disparidade entre os asiáticos e os sul-americanos é gigantesca. “A China tem 149 conglomerados empresariais, com companhias de porte global. Nós só temos a Petrobras. Dá para perceber a grande diferença econômica entre os dois países.”

Jabbour ressaltou que o crédito é o motor do processo de desenvolvimento do país oriental. A relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB) é de 166%. Já no Brasil é de 50,1%, comparou.

“A partir de 1993 foram criados quatro grandes bancos estatais de desenvolvimento mais 12 do tipo comercial”, disse. O Brasil, observou, possui apenas o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Os palestrantes avaliam ainda que a China entrou numa nova fase de investimentos. “O enorme progresso chinês passa por uma readaptação. Diante da crise mundial de 2008, a China tende a dar uma atenção maior ao seu mercado interno. Tende, também, a desenvolver uma indústria cada vez mais sofisticada, que hoje possui grande valor agregado, e ainda assim é um gigante que cresce muito, embora com taxas menos invejosas, como há alguns anos.”

Concorrência desleal

Sobre o descontentamento de setores da economia que reclamam de concorrência desleal da China, o embaixador Affonso Ouro Preto disse que o Brasil poderia negociar mecanismos de quotas com o país ou estabelecer barreiras para dificultar a entrada de produtos que prejudicam a indústria brasileira.

Na avaliação do professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e integrante do Instituto Confúcio, Luis Paulino, o governo brasileiro precisa traçar uma estratégia mais clara de relacionamento com o país. “A China nos traz desafios: parte da indústria se vê ameaçada pela concorrência chinesa, mas a China também representa grande oportunidade de expansão importante para o Brasil”, ponderou.

No debate, Elias Jabbour destacou ainda outro fator que pesa negativamente na relação comercial entre Brasil e China: a falta de conhecimento dos latino-americanos em relação aos orientais. “Existe um grande desconhecimento sobre a China, que às vezes beira o preconceito. O Brasil não se acostumou com a ideia, principalmente suas elites, de que os centros de poder se deslocaram, não estão mais apenas no Atlântico, mas também no Pacífico. Essas elites têm dificuldades de conhecer e reconhecer esse mundo que muda muito rapidamente.”

Da Redação em Brasília
Com informações da Ass. Com. Rel. Exteriores