Otan estuda acelerar saída do Afeganistão; problemas ficam
Nas vésperas da invasão dos Estados Unidos no Afeganistão completar 11 anos, oficiais norte-americanos e da missão da Otan enfrentam incertezas sobre o futuro da operação militar no país. Com uma taxa crescente de militares mortos em atentados terroristas e oficiais afegãos envolvidos nos ataques, autoridades começaram a encarar a possibilidade de acelerar a retirada de 120 mil tropas do território e deixar os problemas consequentes da guerra nas mãos dos afegãos.
Publicado 02/10/2012 15:22
É isso o que mostra as reportagens especiais, divulgadas nesta terça-feira (2), do jornal norte-americano New York Times e do britânico Guardian.
“A partir de agora até o final de 2014, você pode ver adaptação na nossa presença. Nossas tropas podem ser recolocadas, assumir outras funções ou até mesmo serem retiradas, ou nós podemos reduzir o número de tropas estrangeiras”, afirmou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussem, em entrevista ao Guardian.
Segundo ele, as decisões sobre os próximos passos dos militares da Otan e dos EUA no Afeganistão devem se basear no relatório do general John Allen, chefe da operação, sobre os acontecimentos no campo. “As decisões políticas vão ser tomadas baseadas nas suas recomendações em como vamos nos adaptar e transferir a responsabilidade aos afegãos”, acrescentou Rasmussem.
Até 2014, a missão da Otan deve encerrar suas atividades no país, que serão assumidas, integralmente, pelas forças afegãs. Apesar disso, o secretário-geral explicou que os oficiais do bloco militar vão continuar auxiliando e treinando os oficiais da polícia e das Forças Armadas do Afeganistão e que militares norte-americanos ainda permanecerão no país por conta de acordo bilateral entre Washington e Cabul.
A operação militar norte-americana, responsável pelo envio de 33 mil tropas adicionais ao território em 2009, terminou neste mês com poucos resultados.
De acordo com a organização ICasualties, o número de oficiais da Otan e dos EUA mortos cresceu nestes últimos anos: em 2005, 131 militares faleceram e, em 2011, 566. Isso contribuiu para que a opinião pública dos países da Otan e dos EUA se tornassem ainda mais insatisfeitas com a situação no Afeganistão.
Por conta desse contexto de exaustão entre a sociedade e as próprias tropas, o governo dos EUA já está abandonando seus planos de entrar em acordo com o Talibã, informaram diplomatas e militares ao New York Times. “É um inimigo muito resistente e eu não vou mentir em relação a isso”, disse um oficial.
Segundo eles, a Casa Branca está abandonando seus planos “ambiciosos” de derrotar ou negociar com o grupo terrorista afegão e começa a admitir a possibilidade de deixar o problema aos próximos governantes do país. De acordo com um militar que não quis se identificar, os EUA e a Otan não vão conseguir resolver essa situação nos próximos dois anos.
“O tom da discussão mudou para uma resolução menos liderada pelos norte-americanos e mais pelos afegãos, mas que terá mais tempo de duração”, explicou Shamila Chaudhary, analista no Grupo Eurasia e do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, ao New York Times.
No entanto, enquanto o número de militares norte-americanos diminui, a presença de forças de segurança privada contratadas pelo governo dos EUA aumenta. Não existe número certo sobre quantos mercenários servem atualmente no território afegão por conta do alto índice de subcontratações e falta de clareza nas informações.
O Departamento de Estado norte-americano estimou que, em 2011, existiam mais de 18 mil mercenários no país e o pesquisador Jeremy Scahill, em artigo no site The Nation, informou a existência de mais de 160 mil oficiais da segurança privada naquele ano.
Mesmo que a Otan e os EUA retirem suas tropas e oficiais do país, o povo afegão ainda terá que enfrentar muitos problemas herdados da invasão de 2001.
Com Opera Mundi