O poeta Geraldino Brasil

Geraldino Brasil (pseudônimo de Geraldo Lopes Ferreira – NR) nasceu no Engenho Boa Alegria, município de Atalaia, em Alagoas, no dia 27 de fevereiro de 1926 e faleceu no Recife em 1996, cidade que escolheu para morar na juventude, em 7 de janeiro de 1996.

Por Fernando Monteiro

Geraldino do Brasil e Creuza, sua esposa

A paixão por escrever começou logo cedo. "Posso dizer que devo ter começado a ser poeta em alguma data antes de conhecer a poesia dos livros. Porque nasci no campo. Foi lá que as coisas que se davam gratuitamente começaram a construir a minha poesia… o rio, a vaquinha de leite, a ovelha com a sua lã, uma nuvem onde a bondade do céu descia – tudo isso impregnou o mundo da minha poesia", explica o próprio Geraldino na última entrevista concedida e que foi publicada na revista Encontro, em junho de 1995.

Publicou os livros de poesia Alvorada (Maceió 1947), Presença da Ausência (Recife 1951),   Coração (Maceió 1956), Poemas Insólitos e Desesperados (Recife 1972), Cidade do Não (Recife 1979), Todos os Dias, Todas as Horas (Recife 1985), Bem Súbito (Recife 1986), Lugar do Tempo e Pássaro de Vôo (Recife).

O poeta alagoano Geraldino Brasil, foi advogado, procurador autárquico federal da UBE-PE e da OAB-PE, colaborador dos suplementos literários do Diário de Pernambuco e Jornal do Comércio.

Autor de uma obra ímpar. Sensível e simples como o próprio poeta, farta de cotidianos, lirismos e da alma dos homens. Sua obra precisa ser urgentemente resgatada para que as novas gerações conheçam e apropriem-se de sua ternura e beleza.

Sextinas

O formato de texto que marcou grande parte da obra de Geraldino foi inventado pelo trovador francês do século 18, Arnaut Daniel. As poesias em sextinas são conhecidas por utilizarem as repetições de palavras dentro de um único texto e em posições diferentes, seja no final ou no começo dos períodos. Tal técnica não são nada simples de serem feitas, como explica o poeta Mário Hélio, na introdução do livro Sextinas Múltiplas, de Geraldino Brasil. "Geraldino é virtuose absoluto da sextina, Sabe fazê-la com uma desenvoltura incomum. Faz com que as palavras que se repetem pareçam outras palavras".

Internacional

Geraldino lançou seu primeiro livro, intitulado Alvorada, em 1947. Desde então, não parou mais. Mas foi na década de 1970 que um escritor e poeta colombiano chamado Jaime Jaramillo Escobar conheceu e se apaixonou pela obra do brasileiro. O hermano tomou para si a missão de traduzir e divulgar os livros de Geraldino na Colômbia, onde a aceitação foi grande ao ponto de fazer com que o presidente daquele país utilizasse os versos em sextinas antes de seus discursos políticos.

Poema
Pessoas e coisas

Ha coisas tão desprezadas que lembram
                  pessoas em abandono.
Assim o tijolo que sobrou da construção,
                  o retrato além do número e que ficou
entre estranhos na gaveta
do fotógrafo, a palavra no dicionário, vizinha
da que saiu para o poema.

E mais a palavra sem acolhimento pelo próprio ouvido;
                  o poema no canto da mesa, excluído
                  do livro a publicar,
e o morto do outro enterro.

Mas há pessoas em tal abandono que lembram
coisas desprezadas, Senhor, que não ouso, expô-las
no poema, receoso de que, descobrindo-se ao sol,
duvidem da Tua Justiça e da Tua Misericórdia.

Do livro Poetas da Rua do Imperador. Recife, Pool, 1986.

Fonte: Atalaia Pop / Geleia Geral