Quadro político em Israel se inclina ainda mais para a direita

O panorama israelense amanheceu nesta sexta-feira (26) mais inclinado à direita depois da aliança entre a coalizão Likud e o partido Yisrael Beytenu, anunciada pelo primeiro- ministro Benyamin Netanyahu e o chanceler Avigdor Lieberman.

Por Moisés Saab

A decisão de ambas as agrupações de disputar em uma lista comum nas eleições antecipadas de janeiro próximo ocorre em meio a uma complexa situação regional e interna, marcada pelo descontentamento social em Israel, a paralisia das negociações com os palestinos, a expansão nos territórios ocupados e uma palpável frieza com o Egito pós Hosni Mubarak.

Uma sequência brutal de bombardeios aéreos e terrestres contra a Faixa de Gaza, que só nos últimos dias causou seis mortos e mais de uma dezena de feridos, completa a perspectiva do curso dos acontecimentos em Israel e nos territórios ocupados.

Nesse contexto se insere o ataque contra uma fábrica de armas no Sudão, cujo valor prático é mínimo, mas que adquire um especial relevo como mensagem: Tel Aviv se sente com o direito de atuar mais além de suas fronteiras quando o considere pertinente, em especial se se relaciona com as ameaças contra Teerã.

Os esforços palestinos para elevar seu estatuto de observador ao de país não membro da ONU, o que converteria Israel em potência ocupante, parecem ter aconselhado Netanyahu, favorito nas pesquisas para se reeleger chefe de governo, e a seu chanceler, Lieberman, a formar una espécie de bunker intransigente.

Embora ambos os políticos tenham evitado dar informações precisas, meios de imprensa divulgaram que Netanyahu encabeçará a lista de candidatos ao Kneseth (parlamento unicameral israelense) seguido de Lierberman, sem que isto implique alternância no cargo de chefe do gabinete.

Contudo, fica evidente que o propósito da quase fusão de ambas as agrupações é conseguir uma maioria substancial que evite a queda de um governo, cuja plataforma será simples porque estará centrada na negativa a quaisquer pressões externas para que abandone suas notórias posturas maximalistas.

Essa vantagem pode ser muito útil se os resultados das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos favorecerem um candidato que apoie a busca de uma fórmula de compromisso grata aos países árabes aliados da potência do Norte em um tema tão espinhoso como o palestino.

Para Washington, agora, a prioridade é preservar os enormes benefícios que lhe rendeu sua política para o Oriente Médio, com a qual conseguiu uma presença militar substantiva no Golfo Pérsico e a eliminação de regimes que poderiam ser adversos, como os do Iraque e Libia, o que lhe permitiu concentrar-se em estreitar o círculo em torno de um Irã que considera seu opositor mais forte e com maior potencial de influência devido aos seus vastos recursos naturais.

Certamente nesta composição existe uma incógnita: o lobby sionista quebraria lanças nos Estados Unidos pelo binômio Netanyahu-Lieberman em uma disjuntiva da qual poderia resultar um conflito armado de proporções desconhecidas e com consequências a longo prazo?

Essa eventualidade é improvável depois dos fiascos no Iraque e, sobretudo, no Afeganistão, verdadeiros pântanos econômicos, militares e políticos para os Estados Unidos e seus aliados atlânticos.

De qualquer maneira, a única coisa clara até agora é que a supercoalizão Likud-Yisrael Beytenu anuncia tempos borrascosos, e a curto prazo.

Prensa Latina