Merkel: austeridade para os outros, aumento de gastos em casa

Enquanto cobra sacrfícios dos outros países, o governo alemão aprovou um aumento da despesa de quase 5 bilhões de euros, aumentando as pensões dos idosos ameaçados pela pobreza, atribuindo um subsídio mensal de 100 euros às donas de casa que são mães, abolindo taxas moderadoras e aumentando os gastos com transportes. As eleições serão no próximo ano.

A Comissão de Aconselhamento Econômico da Alemanha recomendou à chanceler Angela Merkel que seja “mais ambiciosa” nos esforços de consolidação orçamentária da Alemanha, de acordo com o site da revista Der Spiegel. A comissão manifestou preocupação com recentes medidas aprovadas pelo governo que aumentam os gastos com pensões, apoios sociais e transportes, tendo em vista a aproximação das eleições do ano que vem. O conselho considera que um aumento estrutural de gastos põe em perigo o objetivo do governo de chegar a um orçamento equilibrado em 2014.

Aumento de pensões, fim de taxas moderadoras

A verdade é que a chefe do governo alemão que foi nesta segunda (12) a Portugal defender, de forma inflexível, sacrifícios que, segundo ela, só darão resultados a médio prazo, é a mesma que aumenta a despesa pública na Alemanha, sem parecer importar-se muito com as consequências orçamentárias.

Na semana passada, os líderes dos três partidos da coligação governamental alemã – o Partido Democrata Liberal (FDP), a União Social Cristã (CSU) da Baviera e a União Democrata-Cristã (CDU) – reuniram-se em Berlim para encontrar uma solução para vários pontos de conflito.

O resultado foi a decisão de aumentar as pensões dos idosos ameaçados pela pobreza, atribuir um subsídio mensal de 100 euros às donas de casa que são mães, abolir os co-pagamentos (uma espécie de taxas moderadoras) que os alemães pagam trimestralmente, no valor de 10 euros, por conta das consultas médicas, e o aumento do orçamento do Ministério dos Transportes em 750 milhões de euros.

Aumento da despesa de quase 5 mil milhões de euros

Segundo as contas da Der Spiegel, no total, estas medidas representam um aumento da despesa de quase 5 mil milhões de euros. A Comissão adverte que o governo alemão está a contar com uma evolução favorável das contas públicas que pode ser apenas de curto prazo. Com efeito, o Instituto Federal de Estatística da Alemanha informou recentemente que o número de pessoas a receber assistência social ou benefícios para os desempregados de longa duração caiu para 7,3 milhões de pessoas em 2011, cerca de 8,9% da população, o número mais baixo desde 2006. O relatório do Instituto atribuiu essa queda à grande redução do número de pessoas a receber subsídios atribuídos aos desempregados de longa duração. Mas o mesmo relatório mostra um grande aumento do número de idosos pobres, com mais 25%, ou 950 mil pessoas, a procurar assistência social do que em 2006.

O comentário do Financial Times alemão é bastante esclarecedor: “A atual coligação da chanceler Angela Merkel tem muita sorte. O seu governo assumiu quando a economia começou a melhorar, as receitas fiscais a aumentar e as deduções em folha de pagamento começaram a diminuir. Também foi no momento em que a crise do euro incentivou os investidores a refugiarem-se na Alemanha – o que levou as taxas de juros quase a zero. Não, sorte não é problema para essa coligação. Mas a sorte pode transformar-se num problema se o governo continuar a agir como se simplesmente vá continuar no poder e não decida preparar-se para tempos menos favoráveis”.

Ora, segundo o jornal, essa é exatamente a filosofia que está por trás de todas as decisões tomadas durante a reunião da coligação. “Não se destinam a eliminar o déficit orçamentário federal a longo prazo. Em vez disso, estas decisões estão relacionadas com a crença de que o déficit vai continuar a cair por si só. Pelo menos até setembro de 2013, quando ocorrem as eleições federais e no Estado da Baviera”.

A conclusão do diário é que “Esta atitude é contrária ao planejamento orçamentário responsável. Em vez disso, mostra a adesão a um tipo de miopia que Berlim acusa os outros países europeus de possuirem. O governo alemão deveria ter aprendido pelo menos uma coisa com a Grécia: a boa sorte um dia acaba”.

Com Esquerda.net