Oscar Niemeyer deixa traço eternizado em Crateús

Crateús é a única cidade do interior do Nordeste a ter uma obra do maior arquiteto da história do Brasil: Oscar Niemeyer. Concebido pelo mundialmente reconhecido arquiteto, que foi amigo de Luís Carlos Prestes (1898-1990) -, o monumento da Coluna Prestes no centro de Crateús foi inaugurado em 2005.

Revelando os traços inconfundíveis do consagrado arquiteto brasileiro, o desenho do monumento foi originalmente encomendado a Oscar Niemeyer por Luís Carlos Prestes Filho – há cerca de 10 anos.

A obra, em concreto, custou R$ 65 mil aos cofres do Estado. Papito Oliveira, presidente da Comissão de Anistia Wanda Sidou, comenta as visitas de Prestes ao Ceará. ”Ele esteve aqui em 1982. Já no final da vida, Prestes vinha descansar no Ceará. Tanto que só saiu daqui, do Cumbuco, pra morrer na casa dele.”

Papito reconhece que a relação da comunidade de Crateús – cuja população é de aproximadamente 75 mil habitantes – com o monumento ainda é uma história por se construir. ”Inicialmente, houve muita surpresa por parte das pessoas. Mas estamos trabalhando essa questão há dois anos, e já sentimos melhoras, também devido ao lançamento da cartilha”.

Mário Albuquerque, presidente da Associação Anistia 64-68, também comenta a relação da população com a obra. ”Crateús já é uma terra de muita história. É, por exemplo, a terra de Dom Fragoso, responsável por um dos focos de resistência à ditadura militar”, mencionou. ”Com o monumento, a cidade está uma polêmica. Muita gente estranha, pergunta o que é isso. E é bom, porque desperta curiosidade pra história, inverte a tradição brasileira de construir o esquecimento, e não a memória”, acrescenta Albuquerque.

Mais sobre Oscar Niemeyer

Oscar Niemeyer morreu na noite desta quarta-feira (5), no Rio de Janeiro, onde estava internado desde o dia 2 de novembro, vítima de complicações renais e desidratação. Por causa de uma infecção respiratória, o arquiteto ficou sedado e respirando com auxílio de aparelhos. Niemeyer morreu às 21h55. Ele completaria 105 anos no próximo dias 15.

O arquiteto carioca ficou famoso por projetos que se tornaram cartão-postal de Belo Horizonte, no bairro da Pampulha, nos anos 1940, e de Brasília, dez anos mais tarde, com a construção da nova capital federal. De olho nas formas barrocas do Brasil colonial e contra a postura rígida do Estilo Internacional, escola do pós-guerra, Niemeyer perseguiu uma arquitetura orgânica, aliada às formas da natureza, tomando a dianteira do modernismo brasileiro.

Considerado como um dos artistas brasileiros mais reconhecidos no exterior, recebeu o prêmio Pritzker de Arquitetura em 1987 e o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 1996, entre muitos outros.

Niemeyer, que sempre afirmou seu voto a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se considerava um comunista e foi até o fim da vida um defensor e amigo do líder cubano Fidel Castro, homenageado aos 80 anos com a Plaza Niemeyer, no centro de Havana.

O Parque Ibirapuera e o edifício Copan, ambos em São Paulo, do começo dos anos 1950, o Sambódromo do Rio (1983), o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (1991) e o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (2003), são outros projetos que se transformaram em cartão-postal do Brasil.

“O que vale é a vida inteira, cada minuto também, e acho que passei bem por ela … Quando olho para trás, vejo que não fiz concessões e que segui o bom caminho. Isso é o que dá uma certa tranquilidade”. Oscar Niemeyer.

De Fortaleza,
Carolina Campos (com informações da Prefeitura de Crateús)

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