Copom aponta que cena externa ainda afeta o crescimento

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta semana, trouxe mudanças sutis, porém importantes, na avaliação do ambiente internacional e seu efeito sobre a economia brasileira. Pela primeira vez desde agosto de 2011, o colegiado não usou o termo "desinflacionário" para se referir ao cenário externo.

Mas, ao definir esse quadro como "importante fator de contenção da demanda agregada", indicou que ainda é um elemento que pesa contra a retomada do crescimento econômico no Brasil em ritmo mais forte.

O caráter "desinflacionário" do quadro externo "num horizonte relevante" foi o principal argumento do Copom para dar uma guinada na política monetária, em agosto de 2011. Começava, na ocasião, um ciclo de dez cortes seguidos na taxa básica de juros, que reduziu a Selic em 5,25 pontos percentuais até outubro de 2012. Na reunião da semana passada, esse ciclo foi interrompido, com a decisão unânime de manter a taxa básica em 7,25% ao ano.

Nas atas das reuniões de agosto e outubro deste ano, os diretores do BC reconheceram que, no curto prazo, o viés do cenário internacional estava "inflacionário" por causa do aumento de preços das commodities agrícolas, decorrente de problemas climáticos que prejudicaram safras de grãos. Mas, ao mesmo tempo, insistiram que, no médio prazo, o cenário externo permanecia "desinflacionário".

O termo não voltou a aparecer no documento divulgado ontem. Entretanto, foi mantida a análise de que a economia global enfrenta período de incerteza acima do usual, com perspectivas de baixo crescimento por tempo prolongado, apesar de uma acomodação em indicadores de volatilidade e de aversão ao risco. Para o Copom, o ambiente externo é "frágil" e "permanece complexo", pois os riscos para estabilidade financeira global continuam altos, embora tenha sido identificado recuo na probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados.

A ata também se diferenciou da anterior ao destacar que "as perspectivas para os próximos semestres apontam moderação na dinâmica dos preços de certos ativos reais e financeiros" – mas sem explicar de que ativos se tratam.

A equipe de economistas do Bradesco acha que "a visão de moderação dos preços dos ativos sugere que o BC não tem incentivos para uma taxa de câmbio em nível mais depreciado". Para os economistas do HSBC, esse trecho da ata levanta mais questões do que responde. "Em particular, os investidores tentarão entender quais ativos o BC olhará. Parece provável que as referências feitas pela ata devem ser vistas no debate mais amplo sobre o papel da política monetária na estabilidade financeira, mas por ora há pouco mais que possa ser dito", acrescentou o banco, à espera de que o próximo Relatório Trimestral de Inflação possa detalhar melhor essa visão.

A repetição do conteúdo do comunicado divulgado no dia 28 de novembro, data da reunião a que se refere a ata, sinaliza que a meta de taxa Selic permanecerá por um bom tempo no atual patamar: "A estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta". O texto reitera também que essa convergência não necessariamente será linear. A inflação pelo IPCA ainda poderá oscilar, portanto, antes de chegar a 4,5% no acumulado de 12 meses. Em outubro, a variação acumulada em 12 meses alcançou 5,45%.

"O cenário prospectivo para a inflação apresenta sinais favoráveis", diz o comitê na ata. O documento explica que houve moderação de pressões localizadas sobre preços no segmento de commodities agrícolas. Essas pressões tinham surgido entre o segundo e o terceiro trimestres em decorrência do choque desfavorável de ofertas provocado por problemas climáticos. "Na visão do Comitê, evidências como a acomodação dos preços no atacado indicam arrefecimento de pressões, sobre os preços ao consumidor, decorrentes da instabilidade dos preços de produtos in natura e de grãos observadas há alguns meses", diz a ata.

O ambiente externo de baixo crescimento, embora não seja mais chamado de "desinflacionário", também deve contribuir para o controle da inflação no Brasil. A despeito disso, o Copom avalia que a "demanda doméstica tende a se apresentar robusta, especialmente o consumo das famílias" por causa de estímulos, como o crescimento da renda e a expansão moderada do crédito. A ata destaca ainda que os efeitos da política monetária são "defasados e cumulativos", o que significa que o ciclo de corte da taxa básica de juros ainda não teve impacto completo.

"Esse ambiente [de demanda robusta] tende a prevalecer neste e nos próximos semestres, quando a demanda doméstica será impactada pelos efeitos das ações de política recentemente implementadas", avalia o comitê.

Os gastos públicos também são vistos pelo Copom como elemento de expansão da demanda agregada, situação diferente da de alguns meses atrás. Na ata, o colegiado incorpora em suas hipóteses de trabalho o uso, pelo governo, do mecanismo de flexibilização da meta de superávit primário previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Para 2013 e 2014, a hipótese do Copom continua sendo a de cumprimento das metas de superávit primário sem o ajuste.

Fonte: Valor Econômico