Luiz Estevão e UnB, os maiores proprietários de terras no DF

Quando colocou os pés em Brasília, Luiz Estevão de Oliveira Neto era um garoto de classe média.

Criado por tios que moravam em Uberlândia, estudou até os 16 anos no Colégio Parisiense do Rio de Janeiro, um internato. A mãe morreu no parto. O pai, perdeu aos 12 anos. Em solo candango, replantou suas raízes. Casou-se, teve seis filhos e provou o mais doce sabor do poder. Elegeu-se o deputado distrital mais votado da história. Virou senador na primeira tentativa. Depois, sentiu o fel da desgraça política. No balanço de uma vida pública: três décadas de condenação à cadeia e a força que a terra lhe rendeu. Do solo, fez fortuna. Hoje aos 63 anos, é o maior dono de propriedades rurais no Distrito Federal, onde caberiam pelo menos sete cidades inteiras. Só perde para a Terracap, a Companhia Imobiliária de Brasília.

Está nas mãos do homem cravejado por denúncias de desvios de dinheiro a possibilidade de erguer uma nova cidade na capital do país, com capacidade para abrigar 380 mil pessoas. Nos últimos meses, Luiz Estevão se dedica a seu novo projeto, um empreendimento habitacional na Fazenda Santa Prisca, que adquiriu há 30 anos. Em quatro décadas de Brasília, tornou-se protagonista de um jogo de War. Fez da conquista por territórios uma obstinação. Conta que comprou as primeiras fazendas em 1976, em uma licitação aberta pela prefeitura de Formosa, um dos três municípios que originaram o DF. Na época, já estava casado com Cleucy Meirelles, moça rica, filha de Cleto Meirelles, dono da Caderneta de Poupança Colmeia, que anos depois quebrou.

UnB domina Plano Piloto

A Universidade de Brasília (UnB) está para as terras urbanas como Luiz Estevão para as propriedades rurais do Distrito Federal. A UnB é a maior dona de terrenos no Plano Piloto. Mantém em seu patrimônio um estoque do que se tornou raridade no coração da capital: áreas habitacionais não construídas. São 26 projeções de prédios. Todas na Asa Norte, bairro nobre em Brasília. O acervo imobiliário da instituição inclui 1.747 imóveis. E, se depender da nova gestão, eleita em setembro, os bens não serão desfeitos, mas multiplicados. “Somos uma universidade rica. Não defendo queimar imóveis. Devem servir para nos gerar cada vez mais renda”, considera o reitor da UnB, Ivan Camargo.

O acadêmico, no entanto, ressalva que a decisão final será tomada a partir do Conselho Diretor, que, depois de cinco anos sem convocação, será reativado, com nomeações de integrantes escolhidos em lista tríplice pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. A instância define as diretrizes imobiliárias da Fundação Universidade de Brasília. A UnB arrecada por ano R$ 18,8 milhões com aluguéis de imóveis. Entre seus bens, estão 816 apartamentos alugados na Asa Norte e 677 unidades funcionais ocupadas por professores e servidores.