Apenas 54 municípios concentram metade do PIB brasileiro

A pesquisa Produto Interno Bruto dos Municípios 2010, divulgada nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra a distribuição municipal do PIB. Os dados são de 2010, quando o PIB cresceu 7,5%, tendo alcançado o valor de R$ 3,770 trilhões. Foram analisados todos os 5.565 municípios do país.

Seis capitais concentram um quarto do PIB brasileiro - Fonte: IBGE

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está concentrado em poucas cidades: 54 municípios concentram metade da produção nacional; seis capitais (onde estão 13,7% da população brasileira) respondem por 24,9% de tudo o que o país produz: São Paulo detém 11,8% do PIB, seguido por Rio de Janeiro (5%), Brasília (4%), Curitiba (1,4%), Belo Horizonte (1,4%) e Manaus (1,3%).

A pesquisadora do IBGE Sheila Zani, responsável pela pesquisa, constatou a existência de um movimento de mudança na produção de riquezas, que é lento e se faz notar em um período maior de tempo.

De forma geral, as capitais concentram especialmente atividades do setor de serviços, como bancos, financeiras, comércio e administração pública, exceto o caso de Manaus, onde existe uma participação maior do setor industrial, por causa da Zona Franca.

Além das capitais, 11 municípios se destacam na participação do PIB, todos com equilíbrio entre serviços e indústria, agregando 8,6% da renda do país: Guarulhos , Campinas e Osasco, todos em São Paulo, tem, cada, 1% do PIB nacional; São Bernardo do Campo (SP), 0,9%; Betim (MG), 0,8%; Barueri e Santos (SP), 0,7% cada; Duque de Caxias e Campos dos Goytacazes (RJ) tem 0,7% cada; São José dos Campos (SP), 0,6%; e Jundiaí (SP), 0,5%.

Diminui participação das capitais

Nos últimos dez anos, as capitais brasileiras vêm perdendo participação no total da economia do país, ao mesmo tempo em que municípios menores apresentam ganhos de renda, informa a pesquisa.

Em 2010 “as capitais geraram menos renda. Quando a gente põe a série de 1999 até agora, as capitais geravam 38,7%. Este número vem caindo e em 2010 chegou a 34%. Quando se separa o valor gerado nas capitais entre indústria e serviço, nota-se que a queda é maior na indústria. Isso é consequência dos incentivos fiscais, que levam as empresas a sair das capitais, e das commodities [produtos primários com cotação internacional], tanto as agrícolas quanto as minerais, que não estão nas capitais”, informa a pesquisadora.

Zani salientou que o país ainda é muito dependente dos produtos primários de exportação, principalmente minerais e agrícolas, o que pode levar a um distorção entre diferentes municípios. “O que mostramos é o quanto a economia brasileira estava dependendo dos preços das commodities. Em 2010, o preço do minério de ferro estava muito alto, até mais do que o petróleo. Então, esses municípios [com produção mineral] tiveram muita participação na geração do PIB do país por conta do preço do minério de ferro.”

Se para o minério de ferro, o mercado estava promissor, o mesmo não aconteceu com a soja. “A economia brasileira é focada no preço das commodities, para o bem ou para o mal. Por exemplo, 2010 não foi um ano bom para a soja, o preço estava muito baixo. Municípios que são grandes produtores de soja perderam participação por conta exatamente dos preços. Aí influencia municípios que não são produtores, mas que têm na soja o insumo da cadeia de produção.”

1/3 dos municípios com maior PIB estão em São Paulo

Dos 100 municípios com o maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, 34 estão no estado de São Paulo, informa o IBGE; a cidade de São Paulo sozinha responde por R$ 443,600 bilhões, equivalente a 11,77% do PIB brasileiro.

O estado de São Paulo, que abriga 21% da população nacional (41,589 milhões de pessoas), também concentra a produção industrial, de serviços e agrícola, o que explica o grande número de municípios entre os maiores PIBs. Enquanto a região metropolitana é prioritariamente tomada por indústrias, pelo comércio e por serviços, municípios médios e pequenos são beneficiados pela produção agropecuária, com destaque para o gado leiteiro e de corte, a soja, o café, a cana-de-açúcar e laranja.

Guarulhos aparece na oitava colocação, com R$ 37,139 bilhões. Campinas é a 11ª, com PIB de R$ 36,688 bilhões. Em seguida vêm Osasco, com R$ 36,389 bilhões, e São Bernardo do Campo, com R$ 35,578 bilhões.

São seguidos por Barueri (16ª colocação, com R$ 27,752 bilhões), Santos (17ª, com R$ 27,616 bilhões), São José dos Campos (22ª, com PIB de R$ 24,117 bilhões), Jundiaí (23ª, com R$ 20,124 bilhões), Santo André (29º, com R$ 17,258 bilhões), Ribeirão Preto (30º, com R$ 17,004 bilhões). Na ponta inferior da tabela estão Jacareí (99º, com R$ 5,661 bilhões) e Cajamar (100º, com R$ 5,501 bilhões).

PIB alto, IDH baixo

PIB alto não significa, contudo, alto desenvolvimento humano, mostra a pesquisa, e os municípios com as maiores rendas per capita do país aparecem mal colocados no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Essa situação paradoxal é explicada porque a renda per capita é resultado matemático simples da receita do município dividida pela população, sem levar em conta a distribuição dessa renda nem estatísticas sociais, como saúde ou educação.

O exemplo limite dessa situação é São Francisco do Conde (BA) que, com 33.172 habitantes, tem a mais alta renda per capita do país (R$ 296.885,00 ) mas que amarga a 2.743ª posição na lista do IDH dos municípios brasileiros.

A distorção acontece porque o município, com IDH de 0,714, tem uma população pequena, mas abriga uma das maiores refinarias do país. Em segundo lugar, na lista do IBGE, está Porto Real (RJ) que tem 16.574 habitantes e uma renda per capita de R$ 290.834,00, mas um IDH baixo, de 0,743, ocupando o 2.082º lugar no país. Lá existe uma grande montadora de automóveis, o que explica a alta renda per capita.

Em terceiro lugar, o município de Louveira (SP) abriga centros de distribuição de grandes empresas; com 37.153 habitantes, e tem um PIB per capita de 239.951,00, mas amarga um IDH de 0,80, ficando na 565ª posição no país.

Em quarto, está o município de Confins (MG), com 5.943 habitantes e renda per capita de R$ 239.774,00 (puxada pela presença do maior aeroporto do estado), tem IDH de 0,773, ficando no 1.233º lugar. Em quinto lugar está Triunfo (RS), com 25.811 habitantes e PIB per capita de R$ 223.848,00 (lá há um polo petroquímico), tem IDH de 0,788, em 869º lugar.

Com informações da Agência Brasil