BC: É preciso câmbio e meta fiscal cheia para combater inflação

O Relatório de Inflação (RI) do Banco Central (BC), divulgado ontem, trouxe três mensagens. A primeira é: para que a inflação recue dos 5,7% previstos em 2012 para os 4,8% projetados para 2013, o governo terá que voltar a gerar meta cheia de superávit primário das contas públicas (3,1% PIB).

O segundo recado é: no curto prazo, para combater a inflação, o BC optará por medidas macroprudenciais, em vez da elevação da taxa básica de juros (Selic). A terceira mensagem não é menos importante: o BC conta com a apreciação do real frente ao dólar para conter pressões inflacionárias.

O BC mudou o tom em relação às contas públicas. No RI, ao analisar as perspectivas do IPCA, diz claramente que o setor público se deslocou, em 2012, de posição de "neutralidade para expansionista". No documento anterior, de setembro, dizia que o setor público estava "ligeiramente expansionista". "[O Copom] reafirma que seu cenário prospectivo para a inflação está condicionado à materialização das trajetórias com as quais trabalha para variáveis fiscais", diz o documento. A variável esperada é um superávit de 3,1% do PIB em 2013 e 2014. Em 2012, até outubro, o superávit do setor público estava em 2,42% do PIB.

Num dos boxes do RI, o BC defende a tese de que medidas macroprudenciais têm eficácia como instrumento auxiliar à taxa de juros na política anti-inflacionária. O estudo atesta, com base em modelos econométricos, que os recolhimentos compulsórios, além de garantir a estabilidade do sistema financeiro, diminuem a volatilidade da inflação e do PIB.

Trata-se de um sinal, portanto, de que a taxa básica de juros (Selic) ficará inalterada, no atual patamar (7,25% do ano), por bastante tempo. Por outro lado, o RI não trouxe sinalização de que o Copom vá reduzir a taxa Selic em 2013, como esperavam alguns analistas.

O RI indica que o BC conta com a apreciação da taxa de câmbio nos próximos meses para auxiliá-lo na tarefa de segurar os preços domésticos. No cenário de referência (o do BC), em que o IPCA cai de 5,7% neste ano para 4,8% em 2013, a taxa de câmbio prevista para dezembro do ano que vem é R$ 2,05 – ontem, fechou a R$ 2,06.

Num dos boxes do RI, o BC afirma que as intervenções esterilizadas do BC no mercado de câmbio são efetivas, ou seja, enfraquecem a relação entre fluxo cambial e taxa de câmbio. O estudo diz que o câmbio responde aos preços de commodities internacionais, ao risco-país e ao grau de incerteza da economia global, mas sugere que a atuação do BC no mercado é preponderante para determinar a taxa de câmbio.

As três mensagens do BC indicam retomada de aspectos do tripé de política econômica que o governo vinha abandonando. A mensagem, em resumo, é a seguinte: se, por constrangimento político, não pode aumentar os juros para controlar a inflação, o Copom precisa da taxa de câmbio, do esforço fiscal do setor público e de medidas macroprudenciais.

Em alguma medida, os recados do BC vão na contramão do que vem postulando o Ministério da Fazenda, que defende a combinação de gasto público crescente (aumento do investimento público), câmbio competitivo e juros baixos.

Fonte: Valor Econômico