Bolivarianos saem vitoriosos nas eleições regionais

Mesmo sem a presença física de Hugo Chávez, que continua a tratar-se em La Havana, Cuba, as forças progressistas conquistaram uma importante vitória nas eleições regionais de 16 de Dezembro. Conquistaram quase tudo o que era conquistável e a oposição de direita perdeu quase tudo, e talvez nem nos seus piores pesadelos anteviu derrota tão enorme, porque até perderam onde ganharam. Mas a isso já lá vamos…

Foram chamados às eleições 17 421 094 votantes, entre eles 186 324 estrangeiros com direito a voto porque já têm mais de dez anos de residência no país. Em jogo estavam 23 governações de estado e 237 deputados regionais. A participação foi de 53,94%, o que dá uma abstenção na ordem dos 46 por cada cem eleitores.

Dos 23 estados, os bolivarianos obtiveram a vitória em 20. Neste total de 20 estão cinco que foram conquistados à direita, que neles (des)mandava há algum tempo e desde os quais torpedeava o processo nacionalista e anti-imperialista do governo bolivariano. Esses estados conquistados ao controlo da direita são emblemáticos por várias razões. Zulia é o principal estado petrolífero do país.

Para mais importância, faz fronteira com a Colômbia e as forças da reacção, enfeudadas ao imperialismo, brincam de quando em quando com ideias separatistas. Aqui o candidato progressista conquistou 52,22% dos votos. Em Táchira, outro estado fronteiriço com a Colômbia e onde a oposição incubava igualmente ideias separatista, a vitória foi ainda mais cómoda com um 54%.

Em Carabobo, estado industrial no norte do país, foi derrotado um nepotismo de vários anos e a revolução arrecadou 55,77% dos votos. Em Nova Esparta, principal destino turístico do país, foi derrotado um cacique local muito ligado à IV República. O vencedor obteve 54,06% da votação. Finalmente temos o estado Monagas. O governador derrotado tinha sido eleito com os votos das forças progressistas mas a meio do jogo passou-se para a direita. Agora o povo passou-lhe a factura e a nova governadora assume o poder com o apoio de 55,11% dos eleitores.

A oposição venceu em três estados, mas só num ficou realmente com o poder. Isto aconteceu em Amazonas, um dos que tem menor densidade demográfica. Em Lara, à frente do qual está igualmente um trânsfuga, ganharam a governação mas os bolivarianos têm maioria de deputados no parlamento regional. O mesmo sucedeu em Miranda, estado onde continua de governador – ganhou por pouca margem – o derrotado candidato presidencial da direita Capriles Radonski. Sucede, contudo, o mesmo que em Monagas: perdeu a maioria no parlamento regional, que passou para as mãos da esquerda. Dito de outra maneira: à vitória em 20 dos 23 estados há que somar o facto de que, de 23 parlamentos regionais, os bolivarianos controlam 22! Mais: em sete estados a oposição ficou sem representação parlamentar… Em resumo, de 237 lugares que estavam em discussão, 186 foram para o PSUV e seus aliados, entre eles o PCV – registe-se que apresentou candidato próprios a governador em quatro estados –, e só 51 para a direita.

Malabarismos inúteis

Mesmo com estes resultados confrangedores que evidenciam uma rejeição absolutamente clara à sua política neo-liberal, a direita tratou de dizer que não tinha perdido as eleições. Contudo, alguns dos seus representantes não conseguiram tapar o sol com um dedo. Para Diego Arria, figura grada do antigamente, foi "uma derrota monumental". Para Armando Duràn, jornalista e ideólogo da direita, "isto foi, ninguém o pode ocultar, uma grande derrota". Roberto Giusti, que se cansou de escrever nos jornais que Chávez já não tem apoio popular, chegou agora à conclusão de que "boa parte da maioria empobrecida acredita no presidente, e sim (ainda que isto pareça piroso) ama-o".

Como era de esperar, estes comentários aparecem no meio de críticas rasteiras contra um processo político inegavelmente virado para atender as necessidades de um povo que, aos poucos, vai recuperando a noção da sua dignidade secularmente espezinhada. Uma das "falhas" que apontam é a suposta baixa participação eleitoral, aproveitando para deitar as culpas da sua derrota sobre os ombros do seu eleitorado.

É certo que agora a abstenção foi mais alta do que nas presidenciais (19%). Porém, uma olhadela rápida às estatísticas desde 1989 até às presentes mostra que ela foi sempre, à excepção de 2008, superior a 40 por cento.

Desculpas…!

Fonte: Jornal Avante!