Drones: um perigo até para os Estados Unidos?

 O uso e abuso dos aviões sem tripulação (drones) por parte da Agência Central de Inteligência e o Pentágono, atingiu níveis tais que essas aeronaves se convertem em um perigo até para os Estados Unidos do ponto de vista político e militar.

drone

Um relatório publicado em 9 de janeiro de 2013 pelo Escritório de Supervisão do Governo (GAO, por suas siglas em inglês), entidade subordinada ao Congresso norte-americano, assinalou que o aumento do uso por parte dos Estados Unidos desatou uma corrida de armamentos a nível global.

O GAO aponta que os drones são agora um perigo até para esse país, porque podem cair nas mãos de organizações e países que são inimigos de Washington.

O informe, que cita especialistas militares no tema, aponta que mais de 75 países adquiriram até agora estas aeronaves, número que quase duplica os 40 que as possuíam em 2005.

Os drones estadunidenses estão equipados com sensores de alta tecnologia, ligados a uma rede global que permite monitorar seus vídeos de pontos remotos do planeta, enquanto outros estão armados com mísseis que são lançados de distâncias relativamente grandes, acrescenta o estudo.

O relatório do GAO reconhece que é provável que países estrangeiros utilizem os drones para espiar as atividades militares dos Estados Unidos em ultramar, inclusive as tecnologias menos sofisticadas, ou os empreguem para lançar armas químicas ou biológicas.

Um documento oficial da Força Aérea dos Estados Unidos reconheceu que os drones causam acidentes e dificultam o tráfego aéreo nos aeroportos civis dos territórios onde operam.

Entre os problemas mais habituais estão os erros de pilotagem à distância, falhas mecânicas, presença de vírus nos sistemas digitais de controle das aeronaves e falta de coordenação com os controladores civis do tráfego aéreo.

Mas o avanço da tecnologia deste tipo de artefatos provoca novas inquietudes na opinião pública internacional.

No final de 2012, o Pentágono anunciou a realização de testes com um novo protótipo de avião não tripulado: o X-47B, na Estação Aeronaval de Patuxent River, no estado de Maryland e a bordo de navios da marinha de guerra.

O avião está desenhado principalmente para desembarcar na pista dos porta-aviões, inclusive sem ser guiado à distância por um piloto, senão apenas por seus sistemas de navegação a bordo, de forma autônoma, o que marca uma mudança significativa nestes sistemas bélicos.

Atualmente, os drones de combate são controlados à distância por um piloto humano, mas o X-47B está desenhado para voar a maiores distâncias e permanecer mais tempo no ar, entre outras causas porque depende menos da atuação do ser humano.

O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger, disse que o deslocamento da nova equipe significa uma mudança importante na condução das hostilidades, porque sua capacidade de discriminar os alvos dependerá só dos sensores a bordo do aparelho.

Especialistas em armamentos no Congresso reconhecem que os militares estadunidenses terão que lidar com questões éticas muito antes de que esta aeronave entre em serviço, disse o jornal Los Angeles Times.

O representante democrata pelo estado do Texas, Henry Cuellar, disse que o tema terá que ser discutido em um comitê bipartidista que se estabeleceu em 2009 para informar aos legisladores sobre as aplicações deste tipo de tecnologia.

O emprego dos drones por parte da Agência Central de Inteligência (CIA) e do Pentágono provocou fortes protestos nos últimos anos, e em particular criou uma crise diplomática entre o Paquistão e os Estados Unidos, depois de que um destes aviões provocou a morte de mais de 20 soldados do país asiático em 2011.

O governo de Islamabad protestou na Casa Branca e adotou represálias que impediram a passagem normal dos comboios logísticos norte-americanos pelo território paquistanês para o Afeganistão durante vários meses, até que a secretária de Estado, Hillary Clinton, pediu desculpas e a situação melhorou.

Mas a CIA iniciou 2013 com um aumento considerável dos ataques letais com aviões sem tripulação no Paquistão, contra supostos objetivos talibãs em zonas tribais do território paquistanês.

As ações acontecem no momento em que a administração do presidente Barack Obama prepara seus planos para a retirada das tropas do vizinho Afeganistão após dezembro de 2014.

Um golpe aéreo com drones foi realizado em 10 de janeiro no norte da província do Waziristão, o sétimo em apenas 10 dias deste ano, que ao todo deixaram cerca de 40 mortos.

Especialistas atribuem o aumento no ritmo dos ataques a um sentido de urgência que rodeia as expectativas de que o chefe da Casa Branca ordene a permanência de menos de seis mil militares em solo afegão após 2014.

A série de ataques da CIA pode ser um sinal aos grupos terroristas, não só para a Al-Qaeda, de que os drones serão a arma mais importante contra os terroristas, depois da retirada da maioria das tropas de território afegão, apontam analistas militares.

Entre 2004 e 2012 foram realizados 360 ataques com drones em território paquistanês, deles, 304 foram desde que Obama tomou posse em 2009, com um saldo geral de mais de 3,4 mil mortos.

Uma pesquisa recente mostrou que 74 por cento dos cidadãos paquistaneses percebem os Estados Unidos como um inimigo, em boa parte devido aos estragos que os aviões não tripulados fazem entre a população civil.

Também no Iêmen aumentaram os ataques deste tipo, na medida em que as forças estadunidenses ajudam as forças locais em uma campanha militar contra os supostos grupos da Al-Qaeda nesse país.

Ao menos 12 civis iemenitas foram mortos nos últimos meses, segundo relatórios oficiais de Washington.

Meios de imprensa estadunidenses revelaram, em 2012, elementos, até agora classificados, do programa de assassinatos seletivos a nível global com o emprego de drones, mas outros detalhes deste polêmico plano ainda se mantêm sigilosos.

No ano passado também houve um aumento significativo de questionamentos legais a essa campanha, a maioria deles sem sucesso, devido à influência daqueles que fazem lobby nos Estados Unidos a favor dos fabricantes de drones. Analistas das Nações Unidas também disseram que investigam possíveis crimes de guerra cometidos por forças estadunidenses com o emprego dessas aeronaves.

O general aposentado Stanley McChrystal, ex-chefe das tropas estadunidenses no Afeganistão entre 2009 e 2010, referiu-se recentemente ao perigo do uso excessivo dos drones em missões de espionagem e ataque.

Segundo o ex-militar, estas ações têm exacerbado a percepção que existe no mundo a respeito da arrogância do governo dos Estados Unidos, o que pode afetar os interesses norte-americanos a longo prazo.

"O ressentimento que o ataque com drones cria é muito maior do que pensam os estadunidenses, porque as pessoas odeiam visceralmente esses aviões, inclusive as que nunca os viram nem têm presenciado seus efeitos", disse McChrystal.

Outros especialistas questionam a legitimidade das atividades de ataques com drones e as circunstâncias sob as quais é aceitável realizá-las com eles.

Além disso, não está clara a relação entre os custos políticos de seu emprego e os benefícios operacionais que outorgam aqueles que os executam.

Organizações norte-americanas defensoras dos direitos civis têm protestado nos últimos meses pelos planos do Departamento de Segurança Interior e outras agências de empregar os drones em missões de vigilância policial dentro do território continental dos Estados Unidos.

Apesar da rejeição ao emprego dos drones a nível doméstico e internacional, a Casa Branca continua com seus planos de desenvolvimento e ampliação desta tecnologia, convertida em um bumerangue que afeta os interesses de Washington e a imagem já deteriorada de sua condição militar.

Fonte: Prensa Latina