Exército não conseguiu decifrar mensagens de Marighella
Uma série de papéis apreendidos no carro onde o ex-líder da Ação Libertadora Nacional (ANL) Carlos Marighella foi assassinado, em 1969, revela que o guerrilheiro só se comunicava por códigos e idiomas diferenciados. Os militares só conseguiram decifrar parte dos manuscritos, supostamente de Marighella, principalmente os mapas feitos em folhas de caderno.
Publicado 23/01/2013 14:18
Os documentos fazem parte dos anexos de um Relatório Especial de Investigação (REI) produzido pelo Centro de Informações do Exército (CIE) 17 dias depois de sua morte. O relatório, produzido em 21 de novembro de 1969, é assinado pelo general Milton Tavares de Souza, que à época chefiava a CIE.
O Relatório Especial de Informações também continha o regimento interno do campo de treinamento do Exército Popular de Libertação e um organograma da Frente Armada de Libertação Nacional. Ainda foram anexadas duas relações de presos ligados a Carlos Marighella. Os documentos fazem parte do acervo do Arquivo Nacional em Brasília.
Além das oito páginas em que relata a morte de Marighella, ele anexou os papéis encontrados com o guerrilheiro. A maior parte é composta por manuscritos, muitas vezes utilizando os alfabetos russo e grego, ou em códigos numéricos.
Além disso, há vários mapas, sendo que um deles mostra uma ligação de Brasília com cidades de Minas Gerais, como Unaí, Arinos e Paracatu, além de Ribeirão Preto (SP) e São Paulo.
“Parecem esboços de ligações dos centros ou cidades, interligadas por rodovias e onde, provavelmente, existem elementos da organização Marighella”, diz o documento, que foi distribuído para toda a comunidade de informações. A avaliação do CIE foi baseada nos desenhos do guerrilheiro.
Outro mapa também localiza vários estados brasileiros. “Parecem os croquis dos principais centros onde a organização Marighella vem atuando”, descrevem os militares.
Na análise dos agentes do serviço de informações do Exército, a organização de Marighella provavelmente estava se expandindo para a Região Sul do país, e os mapas apreendidos confirmavam isso.
“Há de se considerar inúmeros informes da presença de elementos subversivos no norte do Paraná (Lamarca teria sido visto em localidade daquele estado). O aparecimento de Apucarana (em um dos croquis) é um indício bem sintomático da existência de focos da organização Marighella nessa área, e provavelmente na cidade referenciada”, observaram os arapongas.
Códigos
Nem sempre era possível decifrar o que era o desenho. “Com relação às garatujas (letra feita ou inelegíveis) existentes nessas três folhas, não chegamos a nenhuma conclusão”, observaram os analistas, referindo-se a uma série de círculos desenhados em uma folha de caderno.
“Há, porém, uma certa frequência de espirais concêntricas, que parecem simbolizar uma afirmação de envolvimento”, ressalta o documento. Em um dos papéis, os militares reconhecem que a escrita era do próprio Marighella.
“A folha 5 contém três pedaços de papel, com anotações de próprio punho de Carlos Marighella, que usou códigos pessoais, abreviaturas mnemônicas, alfabeto grego, alfabeto russo e código morse”, descreve o agente, ressaltando que conseguiu decifrar algumas das anotações.
Normalmente, tratavam-se de nomes de ruas e horários. Os números, segundo os militares, simbolizavam integrantes da organização. Um dos papéis está relacionado a uma sequência de 23 números com alguns nomes à frente.
“Chamou-nos atenção o nº 0818, cuja grafia do nome Marighella teve o cuidado de escrever em sua grafia pessoal, utilizando o alfabeto grego”, observam os analistas.
“Julgamos ser alguém muito importante para despertar a preocupação de Marighella ao escrever seu nome, pois os demais nomes estão manuscritos normalmente”, ressaltam os agentes que analisaram o material apreendido durante a morte do líder da ALN.
Com informações do Correio Braziliense