Mulheres, desenvolvimento e sustentabilidade em debate no FSMT

Na abertura do debate “As mulheres e o Projeto Nacional de Desenvolvimento com Sustentabilidade Ambiental”, a vereadora Jussara Cony (PCdoB) pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da tragédia de Santa Maria. Logo após, o grupo Viva Palavra fez mais uma homenagem, declamando poesias.

oficina ubm - FSMT - Flavia Lima Moreira

Participaram do encontro, Dr. Samyra Crespo (Secretária de Articulação Institucional e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Secretária Executiva da Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade), Dani Costa (Vice-coordenadora Nacional da União Brasileira de Mulheres – UBM), Silvana Conti (Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres/POA), Mara Verlaine do Canto (Vice-presidenta do Conselho de Representantes da FEGAM, Maria Helena Guarezi (Representante da ITAIPU BINACIONAL), além da coordenadora da mesa, vereadora Jussara Cony.

A dra. Samyra Crespo falou sobre a importância de o Brasil ter eleito sua primeira mulher presidenta. Segundo ela, Dilma Rousseff transversalizou a agenda das mulheres, fazendo com que a temática seja uma obrigação de todos os ministérios e cobrando resultados. Para a Dra. Samyra as ações do governo Dilma reconhece, de fato, a questão da equidade colocando esse debate no centro da questão do desenvolvimento. “As mulheres têm, hoje, de quatro a seis anos a mais de escolaridade que os homens. Temos mais mulheres na pós-graduação e nas universidades. Ou seja, elas são fundamentais para o desenvolvimento do Brasil”, exemplificou.

Ainda segundo ela, o Brasil é o terceiro país em empreendedorismo. De acordo com dados do Banco Mundial, 300 mil pequenos negócios estão surgindo a cada ano e, destes, 54% são iniciados por mulheres. Além disso, setores que antes eram predominantemente masculinos – como a construção civil – já começa a ter uma maior participação das mulheres.

Mas ainda existem alguns gargalos, como a pobreza. Sobre isso, Dra. Samyra afirmou que a pobreza feminina não está apenas na periferia das cidades, está, também, na zona rural. Outra preocupação levantada por ela diz respeito ao mercado de trabalho: as mulheres estão se inserindo, mas não pegam os melhores empregos e os melhores salários. “Isso pode representar uma ilusão”, destacou.

Citando a Nova Classe Média, Dra. Samyra lembrou que o governo precisa olhar para essas milhões de pessoas e fazê-las ter papel estratégico em seu projeto de nação desenvolvida. Nesse sentido, citou alguns programas e ações do governo federal, como o Bolsa Verde (37 mil famílias recebem) concedido a famílias pobres com o intuito de proteger o meio ambiente, evitando sua degradação; e o apoio às mulheres que atuam com o extrativismo, ajudando no combate à sazonalidade e a oscilação de preços dos produtos produzidos.

Sobre a sustentabilidade, Dra. Samyra falou que o desafio que o país vive é enorme. “Por isso, precisamos de informações práticas, de resultados. Sem resultados não há sucesso e estamos indo em busca de resultados de forma muito pragmática”, ressaltou.

Dani Costa afirmou que não é à toa a realidade de hoje das mulheres. Ela lembrou que a divisão inicial do trabalho colocou as mulheres em casa, vinculadas ao trabalho doméstico. Isso, segundo ela, foi determinante para que, hoje, milhares de mulheres estejam fora do sistema previdenciário, sem direitos trabalhistas. “A consequência disso é a dupla jornada de trabalho das mulheres que, aos poucos, começaram a ingressar no mercado de trabalho, sem deixar de realizar as atividades domésticas”, explicou Dani Costa. Ela defendeu a desnaturalização das desigualdades sociais e lembrou, nesse sentido, a questão do preconceito, que coloca até hoje os negros na base da pirâmide da pobreza. “Políticas desenvolvimentista que tratem de forma diferenciada aqueles que precisam conquistar a igualdade ajuda a superar problemas advindos de séculos passados, quando havia uma discriminação declarada”.

Maria Helena Guarezi iniciou sua fala afirmando que a questão das mulheres é um tema para homens e mulheres debaterem, é uma questão de toda a sociedade. “Sem equidade, não há desenvolvimento. Sem sustentabilidade não há equidade”, disse. Ela lembrou que a Itaipu-Binacional é a primeira empresa pública a ter uma politica de equidade de gênero aprovada pela Diretoria.

Mara Verlaine do Canto citou, entre outros temas que dizem respeito à luta pela igualdade de gênero, a importância da luta contra todo tipo de violência contra a mulher, o incentivo à economia solidária, a valorização do salário mínimo, o combate ao trabalho infantil e a redução da jornada de trabalho sem a redução salarial, além do permanente incentivo aos estudos e aperfeiçoamento. Citou, ainda, o debate sobre a destinação dos resíduos sólidos como determinante no debate sobre desenvolvimento e sustentabilidade, e a importância da universalização do saneamento básico.

Silvana Conti citou a questão da saúde das brasileiras, principais usuárias do SUS, e do entrelaçamento das ações de diversas áreas. Ela destacou como uma das grandes lutas da saúde, a implementação da política de saúde da mulher, através do enfrentamento da discriminação e do atendimento das especificidades. Silvana defendeu a educação como principal ferramenta de emancipação.

Ao final do encontro, ficou a certeza de que há um longo caminho a ser trilhado, mas que importantes passos já foram dados. A luta pela igualdade de gênero é de toda a sociedade e somente através de sua concretização o Brasil será uma nação desenvolvida de forma sustentável.

De Porto Alegre,
Flávia Lima Moreira