“Não vamos mandar as crianças para fora da aldeia”, dizem Kaiowá

Sem escola há três anos, mães do tekoha – “o lugar onde se é” em guarani – Kurusu Ambá exigem que a Prefeitura garanta a abertura de 46 vagas no ensino fundamental para o início do ano letivo de 2013.


foto: Ruy Sposati/Cimi

Retomada em 2009, a aldeia fica no município de Coronel Sapucaia, na divisa do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, onde vivem cerca de 130 indígenas Kaiowá em dois hectares de terra.

“A gente mesmo construiu o espaço para ser a escola, de sapé. Queremos escola aqui na aldeia, não fora”, explicam as mães. “No ano passado a gente construiu isso, e foi no Ministério Público Federal pra botar a escola pra funcionar”. Segundo as mães, depois de ter tomado conhecimento das possibilidades da denúncia virar uma ação, a Prefeitura do município teria proposto à comunidade que os estudantes continuassem estudando por mais dois meses fora da aldeia, até que a escola no Kurusu Ambá estivesse funcionando.

A proposta não foi aceita pelos Kaiowá. “Não vamos mandar mais as crianças para escola fora da aldeia”, explicam. “A gente acha que eles querem enganar com isso. Dizem que é só dois meses mas depois é o ano todo, e os problemas vão continuar.” Segundo as mães, as dificuldades da educação fora do tekoha não compensam os deslocamentos.

“A criança sofre muito no inverno, sem agasalho, com fome, ficam muito longe da casa, são discriminados… Com a escola na aldeia, as mães podem cuidar mais. É muito melhor. Temos a nossa casa de reza, e assim com a escola junto as crianças conhecem a cultura, o jeito de viver. A gente quer que a escola funcione lá, funcione tudo junto com a aldeia”, reivindicam as mães.

Desde que os Kaiowá reocuparam parte de seu território tradicional, as crianças da comunidade estudam a 20 km do local, na aldeia Taquapery.

“Faz três anos que os alunos estudam fora. E faz três anos que as crianças levam prejuízo”, relata Ismarth Martins, liderança de Kurusu Ambá. “Em 2010, os alunos perderam quatro meses de aula porque a Prefeitura não mandou mais ônibus. Naquele tempo, justificaram que tinham medo de pistoleiro, de que os motoristas estavam com medo… E então 100% dos alunos repetiram de ano. Ninguém passou.” Em 2011 e 2012, segundo Ismarth, os problemas persistiram, e também as reprovações. “Às vezes chove um dia, dois, e já é motivo para o transporte escolar parar uma semana. Então teve muito aluno reprovado por causa das faltas, por faltar na prova.”

“Nós temos dois professores na comunidade. A Prefeitura precisa contratá-los, e dois monitores, merendeira e a entrega do material escolar. Se nao for cumprir, vamos entrar com ação”, garante.

As aulas iniciam dia 14 de fevereiro. Ismarth e as mães acreditam que começarão o ano letivo com aula na aldeia. “A gente tá colocando parede de madeira agora, pra ficar pronta até lá. Mas nós não vamos mais mandar criança pequena pra lá não. A gente decidiu e tá decidido”, concluem.

Fonte: Cimi