FMI libera US$ 18,4 milhões para o governo do Mali

O Comitê Executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou nesta terça-feira (29) a disponibilização de 18,4 milhões de dólares, através do mecanismo Linha de Crédito Rápido (RFC, na sigla em inglês), para o Mali.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

A decisão foi anunciada ainda em meio a questionamentos por vários atores internacionais, incluindo o Brasil, sobre a legitimidade da intervenção militar no país. Além da França, que teve a iniciativa intervencionista, os EUA, o Reino Unido e a Alemanha já anunciaram o seu apoio logístico à operação.

A oposição brasileira foi anunciada já pela presidenta Dilma Rousseff e será anunciada pelo ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, em Conferência sobre Segurança em Munique, Alemanha. De acordo com a posição brasileira já tradicional, mais atenção deve ser dada às emergências pelas quais passam a população civil, através do envio de alimentos e medicamentos, por exemplo.

Além disso, o país já defende, no âmbito da ONU, um conceito mais crítico sobre os princípios que têm movido atores como os EUA e a OTAN em suas intervenções. Enquanto firmou-se a chamada Responsabilidade de Proteger, pretexto que vem sendo instrumentalizado para justificar as intervenções militares, o Brasil tem chamado à atenção um conceito paralelo: a Responsabilidade ao Proteger, que pressupõe a atenção à população civil e à conduta da missão internacional no país, e não os combates e as estratégias securitárias, como prioridade.

“Guerra humanitária” e consequências financeiras

O FMI, que se afirmou preocupado com a instabilidade financeira no Mali, anunciou o financiamento para o país de acordo com a linha de “condicionalidade limitada”, resultante das críticas generalizadas contra a pressão exercida pela instituição nos países que peçam o seu socorro, através de uma lista de condições de reformas políticas e econômicas. As chamadas  "condicionalidades" são mais um instrumento imperialista de consequências devastadoras nas economias e na política dos países que a elas se sujeitam.

O apoio financeiro do FMI, segundo a própria instituição, será direcionado à estabilidade macroeconômica e ao crescimento para os próximos doze meses, dada à "situação preocupante da sua balança de pagamentos". A atuação do fundo já se demonstrou problemática não só historicamente, em países da América Latina e da Ásia, mas tem também sido alvo de críticas profundas no contexto de crise europeu.

Será mais um fator prejudicial na situação de violência em que se encontra o Mali, principalmente pelas análises superficiais feitas pelo FMI sobre a economia do país para justificar o seu anúncio: contração de 1,5% em 2012, inflação ligada ao aumento do preço dos alimentos e um déficit da balança de pagamentos. Resta saber se esta é mesmo a hora para mais um “resgate” financeiro que prevê, como sempre, reformas estruturais neoliberais.

Ainda, a intervenção militar deu-se de forma problemática, fora dos parâmetros anunciados pelo Conselho de Segurança da ONU (que emitiu resoluções em dezembro para o envio de forças internacionais de manutenção da paz, e não autorizando o envio de tropas específicas, como as francesas) e ainda antes do tempo previsto. A falta de questionamento, pela própria ONU, da conduta da França e dos outros países que se somaram à sua intervenção vem incomodando líderes como a própria presidenta Dilma, que pede um pronunciamento da organização.

Por outro lado, líderes africanos têm se anunciado favoráveis à intervenção e alguns meios de comunicação africanos, como a All Africa e a Africa News, têm publicado reportagens sobre a suposta “alegria” dos habitantes de cidades como Timbuktu (tomada por tropas francesas e africanas nesta semana) com a chegada dos militares. Ainda, chefes de Estado como Alessane Ouattara, da Costa do Marfim, presidente da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEEAO), chegaram a pedir maior envolvimento internacional, numa “guerra total contra o terrorismo no Mali”.

O presidente do Ruanda, Paul Kagame, em cimeira da União Africana na Etiópia nesta segunda-feira (28), também se disse preocupado com a situação no país, afirmando que a “África não pode e não deve cruzar os braços quando terroristas e grupos criminosos estão ocupando metade do território de um Estado membro”, segundo a agência de notícias All Africa. Além disso, Kagame propôs que o financiamento de cerca de 50 milhões de dólares para a Missão Internacional de Apoio ao Mali liderada pela África (Afisma, em inglês) seja cumprido pela CEEAO, já que a comunidade africana é “capaz de abordar o conflito”.

Enquanto isso, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que cerca de 700 mil pessoas possam acabar deslocadas em consequência da escalada da violência no Mali, o que confirma a preocupação do Brasil e de outros Estados que se opõem à metodologia da intervenção.