Obama dirige-se à nação em discurso anual sobre Estado da União 

O primeiro discurso sobre o “Estado da União” de Barack Obama durante seu segundo mandato presidencial foi realizado na noite desta terça-feira (12). Este hábito foi implementado através da Constituição, ainda no século 18, para garantir um discurso abrangente anual do presidente dos EUA sobre a conjuntura interna e internacional em que o país se encontra. 

Presidente Obama em discurso sobre o "Estado da União" - BBC

O debate é acirrado entre democratas e republicanos, ainda que ambos os blocos concordem que uma classe média em ascensão é crucial para a prosperidade dos Estados Unidos, e que uma reforma tributária é parte da solução aos déficits federais crônicos. Ambos acreditam ser fundamental também uma postura em relação aos imigrantes sem documentação.

Por outro lado, o tom do discurso de Obama e da resposta dada pelo senador republicano Marco Rubio mostraram quão entrincheirados estão os dois lados em posições de longa data. Isto demonstra a disfunção política contínua de Washington.

Obama começa, nesta quarta-feira (13), uma série de aparições de campanha para promover os temas econômicos em seu discurso de uma hora, no qual também incitou os republicanos a comprometerem-se com desafios cruciais para a nação estadunidense.

Em seu quarto discurso “Estado da União” e sétimo discurso perante um Congresso Nacional reunido, Obama desafiou os legisladores, na terça-feira à noite, a juntarem-se a ele ao responsabilizar-se pela “tarefa da nossa geração” de acender o crescimento de uma “ascendente e próspera classe média.”

"É nossa tarefa inacabada restaurar a negociação básica que construiu este país, a ideia de que se você trabalha duro e cumpre com suas responsabilidades, você pode progredir, não importa de onde tenha vindo, como você se aparenta, ou quem você ama,” disse Obama, que também deu ênfase à criação de empregos e ao crescimento econômico.

O presidente também insistiu que suas propostas não aumentariam o déficit da nação, embora a Casa Branca não tenha falado de valores em relação às suas iniciativas. Obama também fez um pedido emocional ao Congresso para que vote em propostas controversas sobre leis mais estritas de posse de armas.

Coordenação interpartidária

Ainda, pediu aos legisladores para trabalhar juntos pelo bem do país, já que os estadunidenses “esperam que coloquemos os interesses da nação acima dos interesses partidários; esperam que construamos compromissos razoáveis onde pudermos”, disse.

Ao discursar em resposta pelos republicanos, o senador Rubio sinalizou pouca aceitação do que Obama propôs. Ele repetiu críticas antigas de seu partido ao que descreveu como um “governo maior eliminador de empregos e atrofiador do crescimento.” O senador disse que Obama acredita, ao contrário de ex-presidentes como John F. Kennedy e Ronald Reagan, que uma economia de livre mercado é a causa dos problemas estadunidenses. Ainda, afirmou que a solução do presidente “a virtualmente todos os problemas que enfrentamos é que Washington aumente os impostos, faça mais empréstimos e gaste mais”, referindo-se às propostas de Obama de aumentar os impostos para os mais ricos e aumentar o salário mínimo, por exemplo.

Com um governo que enfrenta cortes de gastos profundos definidos por um acordo prévio entre Obama e o Congresso, para aumentar o teto da dívida federal, o presidente renovou, na terça-feira, seu pedido por um plano de redução de déficit abrangente que inclui novos impostos combinados com cortes de gastos.

Obama pediu que os partidos pusessem de lado suas disputas e trabalhassem unidos, “sem as tensões que estressam os consumidores e amedrontam os investidores”, ao que foi aplaudido, principalmente por democratas. “A maior nação da Terra não pode continuar conduzindo seus negócios flutuando de uma crise manufaturada a outra. Vamos concordar, aqui e agora, em manter o governo do povo aberto, e pagar nossas contas a tempo, e sempre sustentar a confiança e o crédito dos Estados Unidos da América”, continuou.

Redução de déficits e cortes de gastos

O presidente disse ainda, em resposta a propostas republicanas, que focam na redução dos déficits e do tamanho do governo através de cortes de gastos, que “a redução do déficit sozinha não é um plano econômico.” O senador Rubio, por outro lado, disse que Obama é o culpado pelo enfraquecimento da estabilidade dos EUA, já que o governo “continua gastando 1 trilhão de dólares a mais do que recolhe todos os anos. É por isso que precisamos de uma emenda orçamentária.”

Um dos tópicos do debate a respeito dos gastos e do déficit foi o sistema de saúde estadunidense, que já foi objeto de uma tentativa frustrada de reforma no governo de Obama. A esse respeito, o presidente pediu reformas “modestas” e repetiu propostas já levantadas em negociações anteriores para redução do déficit, mas vistas pelos republicanos como insuficientes.

Outros temas abordados por Obama envolveram a reforma na política imigratória e um ato de justiça com relação à folha de pagamento, que tenciona facilitar a luta das mulheres contra a discriminação salarial sem perderem seus empregos e aumentar um salário mínimo para US$ 9 por hora. Falou ainda de uma ajuda para refinanciamento das hipotecas particulares a taxas de juros mais baixas.

Política externa

Obama mencionou o último teste nuclear realizado pela República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte), chamando-o “provocativo” e “extremamente condenável”, enquanto o Ministério das Relações Exteriores da Coreia Popular também defendia seu programa nuclear como um “direito a autodefesa” de um país soberano contra a política hostil e imperialista dos EUA na sua região.

O presidente anunciou que no começo do próximo ano, 34.000 soldados estadunidenses terão voltado do Afeganistão. A medida reduzirá em mais de metade o atual nível das forças no país, de 66.000 soldados atualmente. Obama e a Otan tinham anunciado antes que as forças afegãs retomarão o controle das missões de combate em 2013, quase uma década depois da intervenção militar que escalou para o nível de uma das guerras mais extremas da modernidade.

Obama falou ainda de medidas mais sérias com relação a mudança climática e à segurança cibernética, temas que ainda causam bastante polêmica primeiro com relação a falta de comprometimento dos EUA e, segundo, com relação às liberdades virtuais e de informação.

O senador Rubio está liderando os esforços dos republicanos para mudar a política de seu partido em relação às políticas de imigração, sendo ele mesmo descendente de latino-americanos. Ele aceitou o conceito, sugerido por Obama e pelos democratas, de que os 11 milhões de imigrantes sem documentos no país deveriam ter um caminho em direção a um estatuto legal. Os EUA continuam entre os países mais burocráticos e de leis mais estritas com relação a imigração.

Com CNN